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Coluna da Maga

Magali Moraes e a mulher sem braços

Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

30/06/2019 - 17h09min


Fernando Gomes / Agencia RBS

Essa é uma bela recordação da viagem, acredite. Eu a vi no hotel em Estocolmo, a única cidade onde não alugamos apartamento. Meu plano era devorar o bufê de café da manhã, sem me preocupar com mais nada. Quando a gente brinca de casinha na casa dos outros, precisa ir no supermercado comprar comida numa quantidade sem faltar ou sobrar. Tem que descobrir em que lugar do prédio se coloca o lixo. Tem que lavar a louça e não quebrar nada. 

Nesse hotel, eu só queria escolher o que comer e provar coisas diferentes. Sempre tem algo que não estamos acostumados a comer no café (ouvi salmão?), pois o bufê é pensado pra atender hábitos de indianos, orientais, americanos, brasileiros, europeus etc. Numa das manhãs, lá estava ela. Tomando café como qualquer outra pessoa, apesar de não ter os dois braços. Sozinha na mesa. Havia independência naquela mulher. Não sei se estava a trabalho ou turismo, mas tinha fome como todos nós. 

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Pão e frios

Tentei olhar o mais discretamente possível, juro. Queria entender como uma pessoa sem braços consegue se alimentar. Ela já estava sentada à mesa, talvez algum funcionário do hotel tenha trazido pão e frios. O corpo ia pra trás, criando ângulo pra alcançar o bule de café com os dedos do pé e virar o líquido na xícara. Um bule grande e cheio! Aí ela pegava o leite e repetia o movimento. Um bule pequeninho, com alça menor ainda! Depois lançava o corpo pra frente, e seu pé trazia a xícara na boca. 

Tá, eu observei mais do que devia. Me senti mal por isso. Mas é uma cena que faz repensar todas as bobagens que a gente reclama no dia a dia. Aquela mulher me deu uma lição. Mostrou que as limitações estão na nossa cabeça. No último dia em que a vi, uma senhora sentou junto na mesa. Se era amiga ou desconhecida, se ofereceu ou não ajuda, não pude saber. A mulher sem braços tomou café com a mesma desenvoltura. Suas pernas e pés são mais que meio de transporte. São seus braços e mãos. 



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