Papo Reto
Manoel Soares: "Pai ou amigo?"
Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho
Nesta semana, chegou em minhas mãos um vídeo de uma menina de uns 15 anos que puxava o cabelo da mãe de forma agressiva e dizia só soltar se a mãe permitisse que ela fosse a uma festa. Enquanto assistia, me veio um sentimento de revolta absurdo. Primeiro por saber que pessoas da minha geração estão falhando como pais. Com tanta crítica, muitos que têm filhos adolescentes não sabem se afrouxam ou apertam a corda.
Confesso que meus filhos não me acham um pai maneiro. Pelo contrário, sou o mala da história. Exijo notas acima de sete, não aceito que minhas ligações sejam ignoradas e o que combinarmos não deve ser mudado sem que haja um novo papo. Muitos outros pais tentam ser mais "legais", mas estou vendo alguma reflexos ruins dessa decisão. Entre elas, que os filhos não sabem a barreira que divide o pai do amigo.
Obrigação
Serei amigo dos meus filhos quando puder. Mas, antes de tudo, sou pai deles. Se uma bala vier até eles, minha obrigação é pular na frente. Um amigo não tem essa obrigação. Minha missão é dar a eles ferramentas para defenderem-se do que é ruim para eles, mesmo que, às vezes, essas coisas venham deles mesmos. Um amigo não tem esse poder de decisão. Eu preciso garantir que os sonhos estejam ao alcance das mãos deles, desde que eles façam suas partes. Um amigo não tem esse compromisso.
Quero ser amigo dos meus filhos. Mas, se tiver que escolher entre ser amigo e pai, a segunda opção é a minha. Sei que muitos vão dizer que essas palavras podem ser sinônimos, mas quem tem filho crescido sabe que o buraco é mais embaixo.
Muitos pais se preocupam tanto em dar aos filhos o que não tiveram que esquecem de dar o que tiveram. Se você está lendo este texto, é porque seus pais lhe garantiram estar aqui. Será que tudo que eles te deram você está dando aos seus filhos? Ou está tentando reinventar a roda? Amor exigente, atenção afetiva e disciplina carinhosa não matam, tampouco são contra a lei.