Notícias



Saúde

O que deve mudar nas unidades de Pronto Atendimento Bom Jesus e Lomba do Pinheiro, que terão gestão terceirizada

Locais foram incluídos em chamamento público lançado pela prefeitura.  Empresa vencedora receberá R$ 3,6 milhões mensais para gerir o espaço

18/06/2019 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
Enviar E-mail
Fernando Gomes / Agencia RBS
Na Lomba do Pinheiro, principal queixa é a demora

Dois importantes Pronto Atendimentos da Capital vão passar por uma remodelação profunda nos próximos meses. As unidades – que ficam nos bairros Bom Jesus e Lomba do Pinheiro, zona leste da Capital – terão seu atendimento terceirizado. Quem deve assumir a gestão dos locais é uma associação paulista que apresentou a melhor proposta para o edital lançado pela prefeitura em abril. 

O resultado preliminar do certame foi divulgado na sexta-feira (14). Outros participantes podem recorrer da decisão até a próxima segunda-feira (24). Se não houver nenhum impeditivo, as partes seguem para elaboração do contrato.

Leia outras notícias do Diário Gaúcho

— Temos os prazos legais a serem seguidos. Porém, a prefeitura pretende que os PAs estejam funcionando sob nova gestão já em agosto — projeta o secretário municipal da Saúde, Pablo Stürmer.

Mas o que deve mudar na prática nestes locais? Conforme Pablo, haverá ampliação de leitos de observação, por exemplo. Hoje, são 13 leitos no PA da Lomba e 12 na unidade do bairro Bom Jesus. 

A promessa é que cada local tenha 22 leitos na nova gestão. Além disso, os exames oferecidos devem ser ampliados, com ecografias realizadas por aparelho móvel, além de mais coletas de sangue, raio X e eletrocardiogramas, serviços já existentes. 

A associação vencedora também ficará responsável pelo atendimento social, pela gestão das farmácias dos dois PAs e pelo transporte e remoção de pacientes.

— Atualmente, um paciente é recebido no PA e estabilizado. Se ele precisa de transferência, o município tem que providenciar ambulância, o que pode demorar. Por isso, deixamos esse transporte já a cargo de quem irá assumir — explica o secretário.

Leia também
Para buscar medicamentos, moradores de Quintão enfrentam 39 quilômetros
Moradores ainda precisam encarar fila, mas sem venda de fichas no posto da Bom Jesus
Hospital Centenário, em São Leopoldo, suspende atendimentos eletivos por 90 dias

Todos os cerca de 200 servidores que trabalham atualmente nas unidades serão realocados pela prefeitura. A promessa é que eles reforcem o atendimento em locais como o HPS, Hospital Presidente Vargas, Centro de Saúde Cruzeiro do Sul e também no Samu. 

Reação negativa de Conselho

O Conselho Municipal de Saúde (CMS) não aprova o projeto da prefeitura de terceirizar as unidades da Lomba e do Bom Jesus. Conforme a coordenadora do CMS, Maria Letícia de Oliveira Garcia, a prefeitura não demonstrou que a terceirização irá trazer economia para o município. Este é um fator necessário para que a troca de gestão seja permitida.

— Não há, do ponto de vista econômico, uma avaliação se é, de fato, mais barato fazer essa terceirização. O trabalho nestes modelos é feito de forma precária — diz Maria Letícia.

Conforme o secretário Pablo Stürmer, o município já “demonstrou a economicidade do projeto”. Isso porque o custo de manutenção dos dois PAs foi colocado como preço máximo dos editais. A ganhadora receberá, para gerir os espaços, R$ 3,6 milhões mensais. Porém, quem assumir a gestão terá de ampliar o atendimento, com mais leitos, exames, ambulâncias e metas de atendimento, gerando economia. 

— Se nós fôssemos custear estas ampliações exigidas no edital, iríamos gastar além do orçamento atual dos dois PAs. Porém, pagando este mesmo valor a uma gestora, vamos oferecer mais serviços e teremos ainda ampliação de leitos. Ou seja, haverá sim economia.

Sindicato é contrário ao processo

O diretor-geral do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), Alberto Terres, aponta que a terceirização deveria ocorrer só em casos complementares, onde o município não tem condição de prestar o serviço. 

Leia também
Prefeitura lança edital para terceirizar gestão dos pronto-atendimentos da Bom Jesus e da Lomba do Pinheiro
Tempo médio de espera por próteses dentárias via SUS na Capital é de 424 dias

Além disso, a alteração deveria, obrigatoriamente, passar pela aprovação do Conselho Municipal de Saúde. Dois passos que não foram seguidos pela Secretaria Municipal de Saúde, conforme o diretor do Simpa.

— Enquanto sindicato, somos contra a terceirização da atividade fim na área da Saúde. Já temos exemplos próximos de como essa forma de gestão é prejudicial aos usuários e ao erário público — critica Alberto, afirmando que o Simpa vai  fazer uma representação ao Ministério Público contra o projeto de terceirização.

Usuários torcem por melhorias

Nas salas de espera dos dois PAs da Zona Leste, uma reclamação é comum entre os usuários: a demora no atendimento. Por isso, quando questionados sobre uma possível mudança na gestão dos locais, os moradores se dividem. Há quem acredite que a terceirização trará mais qualidade para o serviço. Entretanto, um temor pela piora do que já está sendo apresentado atualmente também assusta.

Na manhã de segunda-feira (17), na Lomba do Pinheiro, por exemplo, a média de tempo pela qual os pacientes ouvidos pela reportagem esperava era superior a uma hora. A confeiteira Ana Paula Dama, 43 anos, recorreu ao local em razão de fortes dores nas costas. Sua intenção era consultar com um ortopedista, o que não foi possível.

— Só tem clínico geral e pediatra, não fornecem mais especialidades. Vou esperar pelo clínico — disse Ana.

No mesmo local, a dona de casa Maria Luísa Scholtz, 25 anos, esperava atendimento para a tosse de Manuela, cinco anos. Maria recorda que esteve no local há menos de duas semanas, mas o atendimento não foi eficaz. Por esta razão, ela é favorável à terceirização.

— Se for para melhorar a qualidade do atendimento, eu apoio. Agora, está complicado. A gente vem aqui e não solucionam os problemas, precisamos voltar mais vezes. Além disso, são poucos médicos, é preciso uma equipe maior — avalia Maria.

Fernando Gomes / Agencia RBS
Maria Luísa é favorável às mudanças

Atendimento

No Pronto Atendimento da Bom Jesus, as reclamações são mais incisivas. Com a sala de espera bastante cheia, algumas pessoas preferiam esperar do lado de fora. Caso das primas Fabíola Linhares, 23 anos, e Tiele Linhares, 26 anos. As duas concordam ao criticar o tempo de espera por atendimento e a qualidade do serviço prestado. Entretanto, só uma acredita que a terceirização pode ajudar. 

— Pode melhorar se os terceirizados forem pessoas que queiram trabalhar de verdade. Eu me sinto muito mal atendida aqui, alguns atendentes ficam mais no celular do que trabalhando — critica Tiele.

— Eu acho que vai é piorar ainda mais do que está agora — confessa Fabíola.

Para a dona de casa Maria Terezinha Machado, 64 anos, nas vezes em que o atendimento ao filho, Eleoeno Machado, 43 anos, foram necessários, o serviço prestado foi bom. 

— A demora a gente já está acostumado. Mas o atendimento sempre foi de qualidade — cita ela.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias