Saneamento
Apenas 2,13% dos imóveis de Viamão têm ligação de esgoto disponível
Entre as nove cidades incluídas na PPP da Corsan, esta é que tem o menor nível de coleta e tratamento. Plano é elevar este índice para 87,3% até 2030
Apesar do nome, a Rua Feliz, na Vila Augusta, em Viamão, proporciona várias "infelicidades" aos seus moradores: o esgoto corre a céu aberto nos dois lados da via de chão batido, e o mau cheiro é um tormento constante.
— Tem dias que não dá para ficar nem dentro de casa, de tão forte que é o cheiro. E não tem o que fazer, se saímos para o rua, o esgoto está de todos os lados e corre sem parar — resume a dona de casa Vera Schmidt, 75 anos, que vive há mais de 50 anos no mesmo endereço.
Difícil ser diferente em uma cidade em que apenas 2,13% dos imóveis têm ligação de esgoto disponível e que somente 1,86% das casas estão efetivamente ligadas à rede. Ao mesmo tempo em que é o município com maior extensão territorial, Viamão tem o menor nível de coleta e tratamento dentre os nove municípios incluídos na Parceria Público-Privada (PPP) da Corsan. Com o investimento privado, a companhia espera ter, até 2030, 87,3% do esgoto tratado neste grupo de cidades que, além de Viamão, inclui Alvorada, Canoas, Cachoeirinha, Eldorado do Sul, Esteio, Gravataí, Guaíba e Sapucaia do Sul.
Danos à saúde
A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Viamão está localizada em Alvorada, e atende as duas cidades de forma interligada. Porém, segundo o superintendente da Região Metropolitana da Corsan, André Borges, o que mais falta a Viamão é uma rede para coletar o esgoto das casas.
— Faltam muitos trechos (de rede de esgoto), que estão na programação da PPP. A falta de esgoto, além de ser um prejuízo para o meio ambiente e para a saúde das pessoas, traz muitos problemas em dias de chuva. E se o tempo está seco, o cheiro é insuportável.
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Para o prefeito de Viamão, André Pacheco, o baixo índice de saneamento da cidade se reverte em danos graves à saúde pública, devido ao contato direto da comunidade com o esgoto, o que ajuda a lotar postos de saúde e emergências. Ele reforça que, além de não haver infraestrutura de saneamento na cidade, onde existe, há desconhecimento da população para solicitar o serviço.
Segundo ele, a prefeitura cobra, desde 2015, medidas da Corsan para aumentar a rede de coleta e tratamento de esgoto. A expectativa é de que, com a PPP, as obras de saneamento na cidade acelerem. A partir daí, também espera contar com a conscientização das pessoas para solicitarem a ligação do esgoto em suas casas.
Alagamentos frequentes
Viver em meio ao esgoto traz prejuízos de todos os tipos. O pedreiro aposentado Gilberto Teodoro dos Santos, 71 anos, mora em uma casa que fica junto ao Arroio Feijó, na Avenida Osvaldo Godói Gomes, Vila Augusta. Todo o esgoto cloacal produzido pela residência dele e dos vizinhos deságua ali. Segundo ele, meia hora de chuva forte já é o suficiente para a água — e o esgoto — invadirem sua casa.
— Moro aqui há 10 anos. Neste período, já foram cinco enchentes. A última foi há um mês. É terrível, porque a gente vive no meio do lixo. Minha esposa tem doença na pele que o médico já disse que é por causa da água — afirma.
Próximo dali, na Rua Fortaleza, o servente Eliseu Queiroz da Silva, 36 anos, se desdobra para não deixar o filho Taylor, de um ano e cinco meses, brincar no esgoto que corre bem em frente a casa onde mora e que atinge toda extensão da via:
— Eu cuido para ele não chegar perto, mas é comum eu ver crianças brincando, com os pés molhados no esgoto. No verão, é ainda pior, porque o cheiro toma conta.