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Frio acentua o drama das emergências hospitalares lotadas em Porto Alegre

Pelo menos três hospitais da Capital tiveram restrição no atendimento de urgência e emergência devido à falta de leitos

04/07/2019 - 19h53min


Francine Silva
Francine Silva
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Jéssica Britto
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Ronaldo Bernardi / Agência RBS
No Conceição (foto), cartaz chegou a ser retirado na madrugada, depois de o local ficar algumas horas em restrição

Quem precisou de atendimento médico pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na manhã gelada desta quinta-feira (4), em Porto Alegre, encontrou pelo menos três emergências com as portas fechadas. 

Um cartaz avisava da superlotação e da restrição nos atendimentos nos hospitais de Clínicas e São Lucas da PUCRS. No Hospital Nossa Senhora da Conceição, na Zona Norte, o cartaz chegou a ser retirado na madrugada, depois de o local ficar algumas horas em restrição. Mesmo assim, dois atendentes monitoravam o acesso à recepção. 

Entre os motivos do aumento na procura está o agravamento de problemas respiratórios causados pelas baixas temperaturas. Em junho deste ano, segundo a SMS, houve um aumento de 106% de internações por problemas respiratórios em relação ao mesmo período de 2018. 

A aposentada Dora Jandira Assis da Silva, 62 anos, era a única pessoa na recepção da emergência do São Lucas. Como o local não estava atendendo novos pacientes no início do dia, a sala estava praticamente vazia. Moradora de Camaquã, ela aguardava notícias do irmão, internado com câncer.

— O mais difícil é conseguir entrar. Depois, o atendimento é excelente — observa.

Crise com sistema de monitoramento

Desde dezembro de 2017, a prefeitura de Porto Alegre adotou um monitoramento, em tempo real, da situação das emergências. Na planilha, é possível acompanhar o índice da superlotação e o tempo de espera por atendimento. Para o chefe do Serviço de Emergência do Hospital de Clínicas, João Carlos Santana, o recurso teve um impacto fundamental no trabalho da instituição.

— O sistema, por exemplo, possibilitou que o Samu soubesse para onde, naquele determinado momento, é melhor conduzir o paciente — afirma.

Conforme Santana, a restrição dura, em média, até seis horas. Depois disso, precisa ser reavaliada.

— Ela nunca dura um dia inteiro. Quando, no caso do Clínicas, a ocupação chega em 150%, a restrição é revogada. Além do que é subjetiva, pois nenhum paciente com caso muito grave vai deixar de ser atendido — destaca. 

Atualmente, a Capital conta com oito hospitais gerais de alta complexidade, dois de média e quatro Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

Mudança de cultura na busca de atendimento

Para o gerente de Interunidades de Emergência do Grupo Hospitalar Conceição, Alexandre Bessil, a população tem uma cultura de buscar atendimento nos hospitais, sem levar em conta o trabalho desenvolvido nos postos de saúde e pronto-atendimentos.

— Estamos fazendo um trabalho de educação para as pessoas entenderem que casos leves, devem ser encaminhados a unidades de saúde. Assim, conseguiremos atender melhor casos de urgência e emergência. O perfil das nossas emergências é de casos graves — destaca.

Conforme João Carlos Santana, chefe do Serviço de Emergência do Hospital de Clínicas, a instituição tem ações em várias frentes para melhorar o fluxo de pacientes.

— Elas começam ainda na recepção com acolhimento sendo feito por uma equipe de serviço social e enfermagem, com reuniões três vezes ao dia com toda a equipe de emergência, com um núcleo de regulação interna, entre outras formas. A situação já foi mais alarmante, em anos anteriores — observa Santana.

A reportagem tentou contato com a assessoria de imprensa do Hospital São Lucas, mas não obteve retorno.

Estratégias adotadas pela prefeitura

Para enfrentar este problema histórico no Capital, a prefeitura tem realizado contratações emergenciais, de forma temporária, durante o inverno, com objetivo de ampliar as equipes e leitos de urgência e emergência. E mesmo com a abertura de um novo hospital de retaguarda no bairro Teresópolis, o Santa Ana, em novembro de 2018, situações agudas ainda causam aumento grande da demanda. 

A SMS exemplifica mostrando dados de junho deste ano, que registrou um aumento de 106% de internações por problemas respiratórios em relação ao mesmo período de 2018, além de aumento de 88% nas demandas de pessoas de outros municípios.

Estamos fazendo um trabalho de educação para as pessoas entenderem que casos leves, devem ser encaminhados a unidades de saúde. Assim, conseguiremos atender melhor casos de urgência e emergência. O perfil das nossas emergências é de casos graves.

ALEXANDRE BESSIL

Gerente de Interunidades de Emergência do Grupo Hospitalar Conceição

O funcionamento das quatro Unidades de Saúde até as 22h também contribui, segundo a prefeitura, para a redução na busca da população pelos hospitais. Juntas, desde a ampliação de horário, que começou em março de 2017 com a Unidade de Saúde São Carlos, elas já realizaram mais de 100 mil atendimentos, somente no turno da noite. 

Até outubro, outras 23 unidades devem funcionar na mesma modalidade. "Certamente haverá uma redução da busca nos serviços, uma vez que 80% dos casos que chegam nas portas de emergências são pulseiras verdes e azuis (como são classificados os pacientes), que não têm caráter de urgência e poderiam ser atendidas na rede de Atenção Primária", disse a secretaria por nota.

A situação das emergências em números:

Hospital de Clínicas

Lotação: 236,59% 

  • 41 leitos
  • 97 observação/internados
  • 9 aguardando UTI
  • 61 aguardando internação
  • 5 aguardando atendimento

*Atualização em 4 de julho, às 14h34min

Hospital Conceição

Lotação: 129,69%

  • 64 leitos
  • 83 observação/internados
  • 7 aguardando UTI
  • 83 aguardando internação
  • 0 aguardando atendimento

* Atualização em 4 de julho, às 7h35min

Hospital São Lucas

Lotação: 188,24%

  • 17 leitos
  • 32 observação/internados
  • 5 aguardando UTI
  • 35 aguardando internação
  • 0 aguardando atendimento

* Atualização em 4 de julho, às 15h30min

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