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Coluna da Maga

Magali Moraes e a poesia num guarda-chuva

Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

23/07/2019 - 11h56min


Fernando Gomes / Agencia RBS

Será possível enxergar poesia num pedaço de tecido impermeável e sem graça, amarrado a varetas, que se equilibra em cima de um cabo comprido e magrela? Às vezes, eu consigo. É só não prestar atenção no guarda-chuva em si, mas em quem segura ele. Especialmente gente que segue com o guarda-chuva aberto depois que parou de chover. Aqueles minutinhos de distração, sabe? A humanidade inteira já percebeu que o céu fechou as comportas, poucas gotas ainda pingam aqui e ali. 

E a pessoa segue concentrada em se proteger. A mão segura firme o cabo. Guarda-chuva aberto é telhado, cabana, conforto, escudo. Olhar pro chão, tem mesmo que olhar. Todo cuidado é pouco. Calçada molhada é escorregadia. As poças transbordam, as lajes soltas formam armadilhas. Mas, se olhar pra cima, vai ver que a água secou. Agora tem arco-íris no céu, olha que lindo! Só o distraído não viu. Deve estar com a cabeça nas nuvens. Pensando longe, não vê o pertinho. Chega a ser ingênuo até. 

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Gentilezas 

No que pensam os distraídos? Guarda-chuva em uso nem sempre é poesia. A mesma distração pode furar o olho de alguém. Por que não inventam varetas acolchoadas? Mas chuva também é pretexto pra gentilezas. Oferecer espaço embaixo do guarda-chuva é acolhimento e empatia. Alguma parte do corpo vai ficar de fora e molhar, faz parte. Dar carona de guarda-chuva é contar pro mundo que a gente se importa com o outro. Se ficar apertado, abraça que resolve. Se chover rios, o coração fica sequinho.

Da próxima vez que São Pedro encerrar uma chuvarada, observe os distraídos de guarda-chuva ainda aberto por aí. Talvez seja você a distração em pessoa. Quem nunca? O meu tem forro de céu azul e nuvens branquinhas, que é pra garantir inspiração. Ah, colocar o guarda-chuva molhado dentro daqueles sacos plásticos próprios pra isso é respeitar o espaço público e colaborar com quem limpa tudo depois. Poesia nem sempre é palavra, pode ser feita de pequenos gestos. 



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