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Procura-se um emprego

Um ano depois, como estão os trabalhadores que buscavam emprego no Sine da Capital 

Série de reportagens acompanhou sete pessoas na fila. Confira como eles estão

10/07/2019 - 05h00min


Jéssica Britto
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Fernando Gomes / Agencia RBS
Série de reportagens acompanhou um dia na fila do Sine, na Capital

Há um ano, o Diário Gaúcho foi até a esquina das avenidas Mauá e Sepúlveda, no Centro Histórico de Porto Alegre, onde fica o Sine Municipal e onde diariamente se colocam centenas de pessoas em busca de uma vaga por emprego. Naquela oportunidade, o repórter Felipe Bortolanza contou a história de sete delas que aguardavam por atendimento. 

O desemprego é uma sombra que atormenta 13 milhões de brasileiros. A recuperação lenta da economia tem impulsionado o empreendedorismo individual para aqueles que se arriscam em fazer pequenos investimentos ou mudar de área de trabalho. Por outro lado, sem perspectivas, muitos vivem de "bicos" ou dependem de familiares para manter a subsistência. 

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Em maio, o Rio Grande do Sul teve o pior desempenho do país no mercado de trabalho formal, fechando 11,2 mil empregos com carteira assinada. O resultado foi o mais baixo para o período desde 2017. O resultado gaúcho foi influenciado, principalmente, pela agropecuária, que amargou o fechamento de 4,2 mil postos de trabalho. Mas, mesmo com o desempenho de maio, o saldo acumulado pelo Rio Grande do Sul no ano segue no azul. Em 2019, o Estado registra abertura de 25 mil vagas formais. No acumulado de 12 meses, o saldo também é positivo, com 12 mil vagas criadas.

Entre estatísticas que oscilam, alguns desempregados seguem vendo os dias passar sem que o sonhado emprego com carteira assinada se concretize. É o caso de três das sete pessoas que contaram sua história ao DG no dia 10 de julho de 2018: Luiz Porto, 54 anos, Cristiano Lucas de Oliveira, 22 anos, e Bianca dos Santos, 30 anos, estão desempregados. Uma entrevistada desistiu de participar da série e dois não foram localizados pela reportagem. Atualmente, apenas um dos participantes da reportagem está empregado: Renato Gomes Ofrasio, 47 anos.  

A luta continua

Cristiano, morador do Lami, foi o único acompanhado pela série de reportagens "Procura-se um emprego" que conseguiu, 43 dias após a ida ao Sine, uma colocação no mercado. Na época, o DG acompanhou o jovem no seu primeiro dia de trabalho em um supermercado como operador de loja. "Ainda não vou trabalhar na padaria, mas estarei perto para aprender quando eu puder. Importa é que, como diz uma música, este é o dia mais feliz da minha vida", comemorava o recém empregado. No entanto, após um mês e meio de vínculo, Cristiano pediu desligamento por divergências no contrato e voltou novamente a angustiante busca por emprego.

Fernando Gomes / Agencia RBS
Cristiano conseguiu emprego lobo após a reportagem, mas agora voltou a buscar um trabalho

— Desde outubro estou procurando. Não estou estudando nem trabalhando, sigo buscando uma vaga de auxiliar de padaria — disse.

Sem recursos para fazer viagens frequentes para o Centro, já que mora em um bairro distante, o desempregado tem focado a procura e a distribuição de currículos no próprio Lami. 

— São quase R$ 10 só de passagem, ida e volta, então tenho ficado por aqui mesmo — revela.

Os objetivos e sonhos continuam os mesmos: conseguir um emprego com carteira assinada e comprar o próprio apartamento.

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Uma cirurgia pelo caminho

Luiz Martins Porto, 53 anos, morador da Parada 57, em Alvorada, foi outro personagem a dividir com os leitores do Diário Gaúcho a sofrida espera por emprego. Desde fevereiro de 2018, Luiz não consegue trabalhar. Mora no puxadinho construído no pátio da casa da irmã Águida Rejane, uma peça com cerca de 10 metros quadrados, que no dia da visita da reportagem, no ano passado, tinha apenas uma cama, um banheiro e um roupeiro. Luiz chegou a falar da vontade de ter um fogão para fazer sua própria comida, mas até hoje não conseguiu concluir esse desejo. 

Lohany Porto / Divulgação
Luiz fará pausa na busca por trabalho para cuidar da saúde

No dia 24 de julho, em Porto Alegre, fará uma cirurgia de hérnia inguinal, a qual espera há cinco anos. Deverá ficar mais uns 10 dias de cama. Pelo menos agora contará com apoio da nova companheira, Vera, com quem está há dois meses e que o ajudará com os cuidados do pós-cirúrgicos. Só depois ele poderá voltar às ruas para procurar emprego.

— Não posso mais ficar dependendo da minha irmã, que já tem a família dela para cuidar. Estou procurando emprego de qualquer coisa, mas agora não posso mais fazer força. Estou tentando até de caseiro, pois assim posso levar minha companheira, que está desempregada também. Mas já não sei mais onde largar currículo. Desculpe a franqueza, mas depois dos 50 anos parece que a gente não é mais ser humano — desabafou.

— Ele procura emprego direto e tem experiência como açougueiro, auxiliar de serviços gerais, garçom, mas está difícil. Vamos dando apoio do jeito que a gente pode — comenta a irmã Águida.

Hoje, Luiz tem número de telefone, na época da reportagem nem isso possuía, e tinha que fornecer o número da irmã para ser chamado para as entrevistas. Com um bico aqui e outro acolá, o tempo está passando e angústia aumentando. Mas a esperança não morre:

— Posso trabalhar como porteiro, segurança, frentista, o que vier.  

Para Renato, a espera acabou

Mesmo em meio a tantas notícias ruins, uma boa. A reportagem não conseguiu conversar pessoalmente com Renato Gomes Ofrasio, 47 anos, de Alvorada, mas entrou em contato com a irmã gêmea dele, Rejane Leman, que disponibiliza o número de celular para o irmão colocar no currículo, ela contou que há três dias Renato começou a trabalhar. E melhor: como carpinteiro, função para a qual ele tinha experiência e procurava emprego.

— Ele vinha de bico em bico. Chegou a ir um dia no Sine e a dormir lá na frente. Uma amiga fez um currículo para ele e foi entregando, a pé, até que em uma dessas chamaram ele — conta Rejane.

Fernando Gomes / Agencia RBS
Boa notícia para Renato

No dia em que teve o primeiro contato com a reportagem, Renato contou que não tinha mais dinheiro nem para pegar ônibus e entregar currículos. "Nem número de celular eu tenho. Deixo o dela (irmã) no meu currículo...", revelou. Na época, o carpinteiro estava morando com uma irmã, que também o estava ajudando financeiramente. 

Ao longo deste ano, a família ainda sofreu com a morte da mãe, aos 72 anos, de enfisema pulmonar. Desde então, Renato está morando em uma casa deixada pela matriarca da família, sozinho, no bairro Primavera.

Segundo Rejane, ele foi contratado por uma empresa terceirizada para trabalhar no Hospital Conceição, na Capital. 

— Agora tem carteira assinada, tudo direitinho — conta a irmã.


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