Projeto Kizombinha
Em oficinas gratuitas, crianças aprendem a tocar instrumentos ligados a religiões de matriz africana
Ideia da iniciativa é disseminar o conhecimento religioso
Um dos desafios para que as religiões de matriz africana se mantenham é a disseminação do conhecimento. Isso porque, diferentemente de outras crenças, não há uma bíblia ou “manual” que guie os passos dentro daquela comunidade. Quem explica isso é Israel Ávila, 36 anos, criador do projeto Kizomba, dedicado a fomentar e divulgar esta cultura. Segundo ele, o maior instrumento destas religiões é a oralidade. Ou seja, é falando uns com os outros que os praticantes levam o conhecimento adiante.
Isso também funciona para o domínio dos instrumentos musicais que são usados durante os encontros. São três: tambor, agê e agogô.
E para que esta arte siga viva, um braço infantil do Kizomba foi criado. Há cerca de três meses, crianças de seis a 12 anos aprendem, gratuitamente, em seis núcleos espalhados pelo Estado, como tocá-los.
A partir do próximo sábado, dia 23, um novo ciclo se inicia, com a abertura ao público do projeto Kizombinha. Até lá, as inscrições para participar das aulas seguem abertas.
Informal
As aulas começaram informalmente, com alabês – nome dado ao músico que toca o tambor – levando crianças de suas famílias para os encontros. Israel faz registros das exibições e publica nas redes sociais do projeto Kizomba – só no Facebook são mais de 140 mil seguidores. Com isso, mais interessados surgiram. Então, veio a ideia de abrir a iniciativa para outras crianças.
A inscrição pode ser feita diretamente nos núcleos (veja abaixo) ou por telefone. As aulas ocorrem quinzenalmente, aos sábados.
Para quem tem a oportunidade de ensinar, o Kizombinha está sendo bem recebido. Alabê há 13 anos, o tatuador Yan Santana, 21 anos, diz que o trabalho com as crianças não se limita apenas à prática com os instrumentos, mas também alcança domínio de costumes específicos do batuque, que é a religião de matriz africana nascida no Rio Grande do Sul.
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– Existem pequenas diferenças. Por exemplo, no batuque, tocamos os instrumentos descalços, enquanto no candomblé a pessoa pode usar calçados. Enfim, além da prática, entramos também com um pouco de teoria – explica Yan.
Como todo o trabalho é feito de forma voluntária, o projeto Kizomba também depende de doações para custear algumas partes da iniciativa, como uniformes e os lanches servidos para as crianças em cada encontro.
– Todo tipo de ajuda é bem-vinda – relata Israel.
Pequenos aprovam a ideia
Protagonistas, os alunos adoram a ideia de aprender mais sobre o batuque. Além deles, os pais também aprovaram a iniciativa. Mãe da pequena Yasmin Moura, sete anos, a técnica em enfermagem Angelita Moura, 30 anos, conta que o aprendizado da filha era mais espelhado no pai, que também toca os instrumentos. Agora, com os aulas, ela ainda tem a companhia de outros jovens.
– Ela vai entrar nessa nova turma que começa dia 23. Acredito que é uma iniciativa importante para manter a cultura e passá-la para outras gerações – aponta Angelita.
Para o garoto Erick Martins, 11 anos, o tambor já está na rotina desde cedo. Aos quatro anos, ele ganhou um instrumento de Natal. Desde então, aprendia na companhia de parentes a executar as canções. Agora, está empolgado com a oportunidade de fazer novos amigos e aperfeiçoar seus conhecimentos sobre a religião.
– Achei a ideia muito interessante. Quero aprender cada vez mais – projeta Erick.
Quer participar?
Como se inscrever
/// O contato pode ser feito via ligação ou WhatsApp pelo (51) 99137-2097.
/// Para ajudar o projeto Kizomba, entre em contato pelo mesmo telefone.
/// As inscrições presenciais podem ser feitas nos núcleos espalhados pelo Estado até sábado, dia 23.
/// As crianças interessadas não precisam frequentar religião de matriz africana, basta interesse em aprender.
/// Podem participar crianças dos seis aos 12 anos. É preciso estar matriculado na escola e frequentar as aulas.
/// Não é necessário possuir os instrumentos.
Núcleos Kizomba
/// Porto Alegre: Avenida Gomes de Carvalho, 611, bairro Passo das Pedras, e Rua Joaquim Norberto, 75, bairro Partenon.
/// Viamão: Avenida Walter Jobim, 369, bairro Santa Isabel.
/// Canoas: Rua Ernesto da Silva Rocha, 1.934, bairro Estância Velha.
/// Rio Grande: Rua Roberto Socoowski, 195, bairro São Miguel.
/// São Gabriel: Rua Sinhá Abott, 174, bairro Santo Antônio.