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Porto Alegre

Em busca de um telhado novo para a família da dançarina Marielly

Foi por meio da dança que a estudante Marielly da Cruz, 15 anos, revelou uma das necessidades de seu lar: um telhado adequado para proteger sua família

30/12/2019 - 06h00min

Atualizada em: 30/12/2019 - 14h57min


Omar Freitas / Agencia RBS
Graça sob o olhar atento da mãe

Moradora do bairro Restinga, em Porto Alegre, a jovem  Marielly da Cruz, 15 anos, é integrante da Cia FlashBlack – grupo de dançarinos formados pelas Escolas Preparatórias de Dança (EPDs), projeto social da prefeitura que ocorre em cinco escolas da Capital. A estreia da companhia ocorreu em 4 de dezembro, com o espetáculo Nosso Corpo. Nele, Marielly apresentou uma coreografia solo, na qual pode expressar um pouco de sua história.

Em um dos momentos da apresentação, Marielly narra a situação de sua residência: "Hoje eu moro em uma casa que o telhado está prestes a cair... Há pouco tempo, deu uma chuvarada em Porto Alegre, que alagou a minha casa e eu fiquei sem cama para dormir". Com frases de esperança e resiliência, a jovem deseja um futuro com a dança que a permita dar condições melhores para sua mãe e demais familiares. 

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– Quando chove, nós levantamos os móveis, tudo que é possível, e esperamos passar. O telhado está muito ruim – afirma Marielly. 

Além de telhas em péssimas condições, chão e paredes do imóvel também estão danificados.

Solidariedade

A coreografia da jovem emocionou a plateia e, principalmente, professoras e voluntárias da EPD. Entre elas, a psicopedagoga Verônica Alfonsin, 54 anos, integrante do grupo Amigas da Poesia:

Omar Freitas / Agencia RBS
Quarto não tem forro

– Já tinha assistido a vários espetáculos dela. Mas, nessa estreia da companhia, ela dançou ao som de um áudio que falava de seus medos, preconceitos e desejos. Tocou muito a mim o momento em que conta do telhado que está caindo e que tinha chovido forte, deixando-a sem cama. 

Poucos dias depois da estreia, o grupo, comovido com a história da jovem, foi até a residência ver de perto a situação. 

– Pessoas interessadas em ajudar, que perceberam a realidade da Marielly após a apresentação, decidiram visitá-la. A casa da família foi construída em meados de 1970 e, portanto, tem quase 50 anos. Marielly é uma bailarina destaque. Mesmo sendo nova, ela já está em um grupo profissional e quer ajudar sua família com o trabalho na dança. Ela não merece ter chuva entrando na sua casa – conta a coordenadora da EPD Ana Araújo, 55 anos. 

Omar Freitas / Agencia RBS
Telhado precisa de reforma

Foi a partir dessa visita que surgiu, entre as professoras e voluntárias, a ideia de uma campanha para a reconstrução do telhado da casa da jovem. 

– Estamos fazendo diversos orçamentos de material e mão de obra. Inclusive, em poucos dias de ação, já recebemos algumas doações em valores, cerca de R$ 2 mil, e em materiais de construção. Acredito que o valor total da obra ficará em torno de R$ 12 mil, sendo a troca do telhado, o madeiramento e a reforma de uma parede que está danificada. Qualquer ajuda será bem-vinda – afirma Ana. 

Mãe foi surpreendida por campanha

A cuidadora de idosos Joana D'arc Soares da Cruz, 51 anos, mãe da Marielly, relembra que a apresentação da filha a surpreendeu:

– Foi pela dança que as pessoas tiveram noção da situação. Sempre fomos humildes, não tínhamos a intenção de pedir ajuda. Mas a campanha surgiu após o espetáculo e também foi uma surpresa para mim. Não é apenas uma necessidade, é uma situação de periculosidade. 

Omar Freitas / Agencia RBS
Com a mãe, Joana

Joana conta que vive no local há 48 anos. A casa era dos seus pais e ficou para ela. Além de Marielly, Joana tem mais três filhos e um neto, que também moram na residência. 

– É uma casa que foi construída pelo Departamento Municipal de Habitação (Demhab), de quando a pasta fazia essas moradias. Mas não é só a minha casa que está nesse estado, outros moradores também passam pelos mesmos problemas. Mesmo com trabalho, não temos condições de suprir todas as demandas – afirma Joana. 

Omar Freitas / Agencia RBS
Condições do forro são precárias

Sonho de ser dançarina profissional 

Segundo Marielly, sua paixão pela dança já tem nove anos e começou dentro da escola:

– A dança entrou na minha vida muito por acaso. Foi no colégio, quando conheci uma professora em uma oficina de dança. Ela me inspirou e me apaixonei pela arte. Quando danço, me sinto bem e segura, meus problemas somem. Vou levar a dança para o resto da vida. 

Marielly, que já participava da EPD que funciona nas dependências da Escola Municipal Alberto Pasqualini, ingressou, neste ano, na Cia FlashBlack. O grupo de dança foi criado com o propósito de inserir os jovens negros da periferia no mercado de trabalho da dança. 

Na trajetória como dançarina, a jovem recebeu alguns destaques. Entre eles, foi premiada pelo solo chamado "Marielle presente", um reforço no sonho de ser profissional: 

– Uma das pessoas que mais me fortalece é minha mãe, e ela não me deixa desistir. Nem ela, nem a dança. Eu quero, com a minha arte, ter retorno financeiro para ajudá-la e evitar que situações como a do telhado aconteçam. 

Omar Freitas / Agencia RBS
Piso do quarto também precisa de reforma

Incentivo

A coordenadora Ana, que conhece Marielly há cinco anos, incentiva os jovens da EPD a sonhar: 

– Quero que todos eles tenham sonhos e que possam ser realizados com a dança. No caso da Marielly, não quero que ela deixe a arte devido a uma futura necessidade de trabalhar.

Após terem participado uma palestra da companhia de dança Dance Theatre of Harlem, escola profissional americana de balé com sede em Nova York, Ana e Marielly sonham com a possibilidade de a jovem ir para o Exterior fazer o curso profissional de dança e uma audição na companhia. 

– Vamos pleitear esse curso nos Estados Unidos. Conheço jovens com potencial, e a Marielly é um deles. 

Organizadora da campanha, Verônica complementa: 

– Para nós, ela não é só uma pessoa, ela é fruto de um grupo de dança que admiramos. Marielly é maravilhosa pelas pessoas que ela tem em volta. Para nós, ela é como um símbolo. Como o nome que leva, ela representa uma população adolescente de periferia que busca na arte um meio de expressão e reivindicação de espaço na sociedade.

Como ajudar 

/// É possível contribuir para a reconstrução do telhado por meio de transferências e depósitos nas contas bancárias. Informações sobre os dados necessários podem ser obtidas pelo WhatsApp (51) 99363-9390, com Ana Araújo.

*Produção: Caroline Tidra 



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