Pandemia
Com redução de até 90% nas corridas, taxistas de Porto Alegre aguardam auxílio emergencial de R$ 600
Com menos pessoas circulando pelas ruas, categoria foi atingida em cheio. Para sindicato, consequências podem ser irreversíveis.
Mais de um mês depois de ações que paralisaram e isolaram boa parte do Brasil dentro de casa, parece até repetitivo dizer que diversos setores da sociedade estão sendo afetados. Mas é o que ocorre. Em Porto Alegre, por exemplo, uma classe que está sentindo fortemente os efeitos da pandemia de coronavírus é a dos taxistas.
Se antes da crise, a classe já protestava a perda de passageiros para os carros de aplicativo de transporte, agora, o taxímetro ficou ainda mais no vermelho. Presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre (Sintáxi), Luiz Nozari, aponta para uma redução superior a 90% no número de corridas realizadas na cidade, se comparado com o período anterior à crise do coronavírus.
Leia mais
Pandemia isola ainda mais população das ilhas em Porto Alegre
Lojistas do Pop Center usam internet para manter vendas
Vereadores de Porto Alegre aprovam isenção na conta de água para baixa renda
As dificuldades na classe não atingem só a Capital. Na semana passada, o Senado aprovou uma alteração no texto que trata do auxílio emergencial, incluindo mais de 20 categorias entre as passíveis de receber os R$ 600. Neste grupo, aparecem os taxistas e também os motoristas de aplicativo, além de classes como artesãos, barbeiros, cabeleireiros, manicures, ambulantes que comercializem alimentos, diaristas, garçons e catadores de recicláveis. Só que a mudança ainda precisa ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Mesmo com a possibilidade de os taxistas serem beneficiados pelo auxílio emergencial, o presidente do Sintáxi ainda acredita que o valor não será suficiente diante do cenário que está sendo enfrentado pela classe. Luiz ressalta que o que os taxistas querem é voltar a trabalhar.
Atualmente, conforme ele, a demanda dos táxis é somente por corridas realizadas com empresas conveniadas no aplicativo do sindicato. As chamadas corridas de rua “sumiram”, lamenta Luiz.
– Boa parte dos taxistas ainda tinha uma renda razoável.
Se o auxílio tiver muitas limitações quanto à renda, boa parte não vai conseguir nem receber – diz o presidente do Sintáxi.
Atualmente, Luiz cita que boa parte da classe está sem trabalhar, com o táxi em casa. Isso porque mesmo saindo para a rua, por vezes, os profissionais não conseguem nem cobrir o custo do gasto com combustível:
– Dia desses, por exemplo, recebemos apenas uma corrida pelo aplicativo do Sintáxi em quatro horas. É algo inimaginável. Estamos passando por uma situação que nunca imaginei. Os motoristas que ainda seguem saindo para a rua são aqueles que realmente não tinham nenhuma renda guardada, dependem só do que tiram no dia para sobreviver.
Diante das dificuldades enfrentadas pelos profissionais com a situação financeira mais delicada, o Sintáxi tem recebido e distribuído doações de cestas básicas e alimentos recebidos na sede da entidade. Na Capital, um dos poucos pontos onde o fluxo de táxis ainda existe é na rodoviária, onde os carros têm ficado estacionados.
Ainda não há previsão para quando os taxistas possam entrar na lista do auxílio emergencial. A reportagem consultou o Ministério da Cidadania, mas não recebeu previsão de quando o texto enviado pelo Senado deve ser sancionado. Nem se os procedimentos para obter os R$ 600 serão os mesmos de agora.
Crise não afetou permissões, diz EPTC
Mesmo com a possibilidade de transformar sua permissão de operar em autorização, podendo repassá-las a terceiros, os taxistas ainda não têm abrido mão de sua operação. Quem garante isso é a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que não notou aumento nos pedidos de mudança.
Para preservar a segurança dos profissionais, as vistorias e renovações estão prorrogadas por decreto municipal. A EPTC ainda ressalta que, diariamente, são realizadas operações de fiscalização relacionadas ao coronavírus, focando no cuidado com a higienização e cumprimento do decreto que abrange o transporte individual de passageiros na Capital, além do atendimento de reclamações relacionadas ao modal.