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Cyro Martins: "O DG nasceu corajoso, atrevido, semeando pavor entre burocratas letárgicos"

Gerente executivo do Diário Gaúcho entre 2000 e 2004 fala sobre sua experiência no jornal

17/04/2020 - 12h50min


Jefferson Botega / Agencia RBS
Cyro foi o primeiro gerente executivo do DG

Lembro da madrugada de abril de 2000 em que nos aglomeramos nas escadas da rotativa. Toda a equipe do Diário Gaúcho, para esperar a primeira rodagem oficial. Toda a equipe eram só 40 pessoas, comandadas por Nelson Sirotsky e Marcelo Rech (craques da comunicação brasileira). Cada um com a certeza de que aquele jornal era seu, tinha sua cara, seu suor, sua gana. E faria coisas que cada um sonhou na faculdade quando se imaginava jornalista. Foi a equipe mais aguerrida, mais idealista, com que trabalhei.

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Não era fácil ser do time. O DG sofreu preconceito quando nem tinha um projeto. Era uma ideia e já era atacado nos meios acadêmicos, nos meios jornalísticos, nos meios publicitários. Nunca teve a benevolência que receberam outros projetos de jornais, menos vitoriosos. Depois, houve gente que hostilizou o Diarinho sem ter lido um exemplar sequer.

Isso tinha reflexos no time. Machucava a autoestima, a segurança, a vontade. Com efeito surpreendente. Fazia a equipe mais indignada, mais decidida a lutar por seus leitores, mais consciente de seu papel na história. 

E que papel. Fazer um jornal para quem não lia jornal. Esquecer o elogio de colegas a um texto brilhante, porque teria de escrever textos curtos, em letras grandes, com palavras simples. E o noticiário teria de ser útil, valer o preço gasto no exemplar, que para seu público poderia ser a diferença entre comer ou não aquele lanche no trabalho ou na fila do emprego. Ainda assim, teria de ter emoção, porque a vida é emocionante. Difícil. Coisa para poucos.

Teria de divertir, também, e orientar e ajudar a descobrir direitos que o leitor não sabia que tinha. Ou ajudá-lo a exercer direitos que ele sabia que tinha, mas não sabia como exercer.

O Diário Gaúcho nasceu corajoso, atrevido, semeando pavor entre burocratas letárgicos que de uma hora para outra viram estampado na capa do DG seu desprezo pela população menos favorecida. Para mais de um milhão de leitores.

E esses burocratas começaram a se mexer. E os leitores, a perceber que se alguém do setor público ou privado recebia uma ligação, e ouvia “Aqui é do Diário Gaúcho, eu gostaria de falar com...”, era melhor ajudar. Valia para segurança pública, transporte, saúde, urbanização, empregos, consumo, água, energia, esgoto. O Diarinho era o paladino de seus leitores. Os novos leitores de jornal.

Porque uma das grandes conquistas do DG foi descobrir uma massa de pessoas que não lia jornais. Leitores e consumidores novos que levaram a Grande Porto Alegre à posição de região do Brasil que mais lê jornal. Para desespero dos críticos, obrigados a ver o fenômeno de um jornal popular que não usava palavrões, não publicava fotos sangrentas, nem pornográficas.

Um jornal familiar, que não envergonhava quem o fazia, nem quem o lia. Grande Diarinho. 

Parabéns e vida longa. 

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