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Lojistas do Pop Center usam internet para manter vendas

Com o fechamento do Centro Popular de Compras, no Centro Histórico, os comerciantes estão tendo de se reinventar para seguir vendendo

24/04/2020 - 15h18min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Isadora Neumann / Agencia RBS
Trabalho pela internet e apenas nos depósitos tem sido uma das opções dos lojistas

Mesmo com o costume de comprar pela internet ganhando mais adeptos nos últimos anos, para comerciantes menores, a venda por meio de lojas físicas ainda é a principal fonte de lucros. Essa é a realidade, por exemplo, dos lojistas que se espraiam pelas 800 lojas do Centro Popular de Compras (Pop Center) de Porto Alegre, o popular camelódromo. 

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Com a pandemia do coronavírus limitando a circulação das pessoas, umas das áreas mais afetadas foram os centros de comércio, que acabaram tendo de fechar. O Pop Center também foi afetado por esta medida, estando desde o mês passado sem atender ao público. Para driblar a crise, os varejistas têm recorrido ao comércio pela internet. 

Ao menos, no âmbito físico, nem tudo ficou tão ruim. Uma medida da prefeitura tem auxiliado os lojistas do local neste momento em que seus comércios não podem atender ao público. Desde o dia 19 de março, quando foi realizada a cobrança do último aluguel, os pagamentos estão suspensos, conforme a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico. A ação foi resultado de um acordo entre o município e a empresa Verdi, que administra o prédio onde fica o Pop Center.

A quitação do aluguel será normalizada com a retomada das atividades comerciais, o que ainda não tem previsão de ocorrer. Depois, os valores congelados serão diluídos entre as parcelas semanais do aluguel dos comerciantes. Por enquanto, segue sendo cobrada apenas a taxa de manutenção dos serviços básicos do espaço, semelhante a uma taxa de condomínio, que é rateada entre os locatários.

Mesmo com algumas cobranças não chegando no fim do mês, os comerciantes do Pop Center ainda têm outras despesas com as quais precisam arcar. Ficar com as portas fechadas por muito tempo pode complicar o orçamento de maneira crítica. Por isso, quem ainda tem condições, segue trabalhando e vendendo o possível. Mas como isso está sendo feito com as lojas fechadas? Pois bem, o comércio pela internet é a principal arma dos comerciantes afetados pela pandemia do coronavírus.

Quadro reduzido para seguir em frente

Nesse meio de lojas paralisadas, os irmãos Fábio, 39 anos, e Daniel Machado, 33 anos, estão entre os afetados. Desde 2013, eles mantêm a marca Fada Fit, direcionada à confecção de roupas esportivas femininas. A loja tem um ponto físico no Centro Pop e a produção das roupas é feita em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Em tempos normais, as vendas se dividem por igual: metade são pessoas que compram para uso próprio e outra metade são de atacadistas que revendem a marca pelo Estado. 

Entretanto, com o fechamento da unidade física, a família viu o faturamento reduzir cerca de 80%, além de mudar o perfil de compra. Agora, os revendedores representam quase 90% do público. O atendimento está sendo feito apenas pela internet, com o envio das compras pelos Correios e também por meio de motoboys para entrega em Porto Alegre e Região Metropolitana. 

— Os atacadistas aproveitaram a situação para comprar mais devido às lojas fechadas. Eles não sentem tanto, pois são pessoas que, em sua maioria, vendem nossos produtos de porta em porta  — explica Daniel, se referindo aos vendedores conhecidos como sacoleiros. 

Mas não foi só o faturamento da empresa dos irmãos que acabou sendo afetado. O quadro de profissionais também precisou passar por ajustes. Antes da crise do coronavírus, eram 13 funcionários entre a fábrica em Cachoeirinha e a loja na Capital. Com o agravamento da situação financeira, quatro pessoas acabaram tendo de ser desligadas. Dos outros nove colaboradores que restaram, seis estão com o contrato temporariamente suspenso e só três seguem trabalhando, mas com redução de 70% na jornada de trabalho. 

— Estes três que seguem atuando estão na fábrica, estão com a jornada reduzida em razão da produção bem menos — explica Daniel.

Entrega rápida para atrair clientes

Proprietário da Finura, uma loja de roupas, tênis e acessórios no Pop Center, o empresário Luiz Finura, 33 anos, está lidando com a pior crise pela qual já passou no comércio varejista, onde atua desde 2008. Além do ponto físico no Centro, Luiz ainda tem duas lojas em Canoas e atua no comércio digital. Ao todo, antes do fechamento do comércio, empregava cerca de 50 pessoas. Quase todas foram desligadas de suas funções, como explica o comerciante. 

— Fiquei apenas com o essencial do essencial. Os fornecedores seguem cobrando mercadorias, não querem adiar pagamentos. Os condomínios das lojas seguem sendo cobrados. É um custo alto para operar. A empresa até tem bastante giro, mas ficar mais de um mês fechado, com o alto custo operacional que tem, está bem complicado — conta ele.

As vendas online deram resultados logo que as campanhas foram lançadas nas redes sociais, explica Luiz. Porém, ele lamenta que essas vendas não representam nem um décimo do que era vendido nos pontos físicos.

— Com esse faturamento, fica difícil até manter as portas abertas. Mas estou tentando ter uma visão otimista e, quem sabe, um dia conseguir até recontratar estes funcionários que foram desligados agora — projeta o empresário.

Para tentar atrair ainda mais clientes, Luiz adotou uma estratégia especial para as compras realizadas por clientes de Porto Alegre: entrega expressa dos produtos. O objetivo é o comprador receba aquilo que adquiriu via WhatsApp da loja até uma hora depois da realização da compra.

Mesmo que o período esteja complicado para os lojistas, o lado cheio do copo nunca é deixado de lado. Os irmãos de Cachoeirinha que seguem trabalhando na fábrica compartilham o que tem tirado de bom desta crise gerada pela pandemia do coronavírus.

— Concluímos que este é um momento para acertar a casa. Verificar gastos desnecessários, analisar perfil de clientes, enxugar a folha e traçar novas metas — explica Daniel.

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