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Fé em movimento

Carreata com imagem de Nossa Senhora do Trabalho percorre ruas da zona norte de Porto Alegre

Celebração tradicional teve de ser alterada devido à pandemia de coronavírus 

01/05/2020 - 21h16min


Lauro Alves / Agencia RBS
Imagem de Nossa Senhora do Trabalho percorreu ruas da Vila Ipiranga em cima de caminhonete

Uma das festas religiosas mais tradicionais de Porto Alegre, a celebração de Nossa Senhora do Trabalho ocorreu de forma diferente nesta sexta-feira (1). Devido à pandemia de coronavírus e para evitar a aglomeração de pessoas em frente a paróquia, a imagem foi colocada em uma caminhonete e percorreu ruas da Vila Ipiranga, na zona norte da Capital.

O padre Renato Schneider, 48 anos, responsável pela paróquia, vestiu a batina branca e acompanhou a imagem em cima da caminhonete. Logo à frente, um caminhão de som emitia uma música e a mensagem de bênção a família, casa, trabalho e pedia fé para vencer esse momento de dificuldade.

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— Esse sempre foi um dia especial. Um dia de celebração. Não podíamos deixar que as pessoas ficassem sem a nossa bênção de esperança e fé — falou o padre Schneider.

A carreata começou às 9h. Saiu da frente da paróquia, na Avenida Benno Mentz, e foi seguida por vários carros. Alguns com bandeiras brancas e buzinando. Nas ruas, pessoas abanavam nas calçadas e balançavam bandeiras enquanto a carreata  passava.

Mesmo com a imagem da santa circulando pelo bairro, algumas pessoas foram até a paróquia, onde um altar com um velário digital foi montado. 

Uma das primeiras a chegar foi Laureci Maria Feyerabend, 83 anos. Ajoelhada nos degraus da paróquia, em silêncio, de olhos fechados e usando máscara, ela orava:

— Todos os anos eu venho aqui. Mas hoje o pedido é especial. Que Nossa Senhora ajude a natureza e acabe com esse vírus do mal que está prejudicando a vida das pessoas.

Também de máscara e carregando uma bandeira com a imagem da santa,  Lurdes Hoffmann, 60 anos, agradecia o emprego da filha, enfermeira e pedia ajuda ao filho desempregado. Ela ficou quase 10 minutos em frente ao altar.

— Eu sou muito devota e já consegui muitas bênçãos. Espero que ela ilumine e abra os caminhos para todo esse pessoal desempregado.

Já Ana Alda Mendes, 59 anos, foi agradecer. Ela trabalha em uma casa de família e se sente abençoada por ter um serviço no momento atual:

— Eu vim agradecer o meu trabalho. Todo ano eu venho, mas esse ano é um pouco diferente.

Pouco antes das 10h, a imagem retornou à igreja e a carreata se encerrou. Uma missa foi feita de forma online pela página do Facebook.

De casa, a professora Isabela Forte Silveira, 40, e o marido, Adilson Godói Silveira, 45, acompanharam a celebração. O casal participa assiduamente das atividades da igreja e são catequistas. Desde que as missas deixaram de ser abertas ao público e passaram a ser transmitidas online, não foi diferente. Eles têm acompanhado tudo pela internet, assim como hoje.

- Não é a mesma coisa que estar na igreja, mas é um alento no coração. Nos permite comungar espiritualmente e estar, de alguma forma, em comunidade, diz a professora.

 Após a missa, a imagem de Nossa Senhora do Trabalho ficou exposta na frente da igreja para quem quiser agradecer ou fazer pedidos.

Sem poder participar da procissão no seu molde costumeiro, foi isso que a empresária Ana Paula Molkenthin, 47, resolveu fazer. Antes, porém, ela realizou, a pé, o mesmo percurso que é feito todos os anos pelos fiéis para acompanhar a imagem da santa. Ele começa no Parque Germânia e vai até a igreja.

Proprietária de uma clínica estética e de uma empresa de vendas de produtos para a saúde, ela conta que as coisas já estavam difíceis em 2019. Como é católica e devota de Maria, já no ano passado ela participou da procissão.

- Esse ano, em função da pandemia, mais do que nunca me vi pensando que precisava agradecer, pois, com tudo que está havendo, dentro das regras de isolamento, ainda consigo atender clientes da clínica e fazer as vendas dos produtos por telefone. E tem muita gente que não está nem conseguindo trabalhar. Mesmo com alguma adequação de salário e cortes nas despesas pessoais, consegui manter meu quadro de funcionários. Então, fui até a frente da igreja hoje agradecer por mim e por todos que trabalham comigo. Fiz o trajeto a pé e fiquei muito feliz quando cheguei e vi a imagem da santa exposta - relata Ana Paula.

A celebração tradicional – presencial e com almoço, que ocorre todos os anos – foi transferida para 18 de outubro.


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