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Lá em Casa

Cris Silva: "Mãe, tô com medo do coronavírus!"

Colunista escreve sobre maternidade e família todas as sextas-feiras

29/05/2020 - 11h36min


Agência RBS / Agência RBS

Eu adoro mostrar aqui os relatos e as experiências das pessoas. O tema de hoje é inspirado num fato que aconteceu na casa de uma amiga e sobre o qual achei super importante falar: o medo que as crianças têm do coronavírus. 

O marido e o filho de nove anos da Débora Roncone, minha amiga de infância, estavam saindo de casa quando a Alice, filha de três aninhos, correu para o quarto para buscar uma espada e dar para o pai.

– Aqui em casa, eles têm medo que a gente saia para rua. Esses dias, quando meu marido estava saindo de casa, a Alice entregou uma espada de brinquedo para ele matar o coronavírus. Então, a gente percebe que está gerando um certo estresse. Ela escuta as coisas e não consegue entender, embora eu já tenha explicado e mostrado bastante através de historinhas – contra a Débora.

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Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Os manos Alice e Otávio

Certamente mais famílias estão testemunhando atitudes surpreendentes dos pequenos. A pandemia alterou a rotina de todo mundo – inclusive dos nossos filhos. De uma hora para outra, muitas crianças deixaram de ir para escolinha, ficaram trancadas em casa, sem poder abraçar ninguém, nem ver os avós e os amiguinhos... É claro que eles sentem que tem algo no ar. E tem mesmo, e é invisível. Mas, acreditem: talvez seja muito mais fácil eles entenderem o que é o coronavírus. 

Conversei com a psicóloga Marina Gastaud e apresento agora para vocês dicas valiosas, uma sugestão de exercício para tentar descobrir como as crianças enxergam o vírus e uma historinha que pode tranquilizar os pequenos.

Palavra da especialista

Marina Gastaud é psicóloga, especialista em psicoterapia psicanalítica, pós-doutora em Psicologia Clínica e explica para nós como lidar com as crianças no contexto da pandemia. Adorei as dicas, muito temos conversado aqui em casa. Acreditamos que a comunicação é a melhor forma de deixar os meninos conscientes da situação. Explicar e informar para não dar chance da imaginação deles voar para lados errados.

“A gente tem sempre que falar a verdade. Eu acho que as crianças percebem o clima de tensão, de angústia. E é muito difícil explicar o que é o coronavírus, porque ele é um inimigo invisível. Só que as crianças, diferentemente da gente, estão acostumadas com inimigos invisíveis: elas têm medo do lobisomem, de bruxa, de vampiro, enfim, de um monte de coisa que não enxergam. Então, é bem mais fácil conseguirem figurar na cabeça um inimigo invisível.

A minha primeira sugestão é que os pais perguntem aos pequenos o que eles acham que é o coronavírus. Tenho feito isso com meus pacientes, peço para desenharem o vírus e falarem o que acham que combina com o corona. Aí, explicaria de forma lúdica.

A sugestão é uma historinha. Conte que o coronavírus é um bichinho muito pequeno, que vive dentro das pessoas. Que passa de uma pessoa para outra através do espirro, da tosse ou se a gente se encosta num lugar onde outra pessoa tossiu ou espirrou. E que é muito mais fácil de se proteger contra o coronavírus do que de outros inimigos: ele morre com água e sabão! Então, é só a gente lavar bem as mãos, passar álcool gel e usar máscara. Acho legal explicar que, no corpo de todo mundo, tem soldadinhos treinados para combatê-lo. E que o corpo das pessoas mais jovens tem um monte de soldadinhos, enquanto o das pessoas mais velhinhas tem soldadinhos mais fraquinhos e, por isso, a gente tem que cuidar mais. Temos que explicar que os cientistas e os médicos estão trabalhando muito para criar soldadinhos no laboratório e que, depois, a gente vai poder botar soldadinhos no nosso corpo e criar um exército para combater o coronavírus. Na minha experiência, isso acalma bastante as crianças.”

Aqui em casa

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Armando conversa bastante com a família...

“Vai ser um processo bem interessante, das crianças dessa geração, o medo que vão ter da contaminação. Aqui em casa, a gente conversa muito, pois não pode virar um preconceito, nada disso! A gente precisa ensinar eles a se higienizarem e conviverem de uma forma ‘normal’. É uma nova normalidade, e temos a missão de educar as crianças para isso. Por um lado, eles vão ter uma higiene muito melhor. Isso vai fazer parte da educação deles. Mas, por outro, também tem essa questão comportamental psicossocial: não pode abraçar o teu amigo. Tem que manter distância, mas a pessoa não é um monstro por que veio da rua. Ele (filho Armando) desenhou um coronão, porque, na visão dele, o ‘bicho é grande’! Mas, depois, se desenhou de máscara azul, com um frasco de álcool gel. E bem maior, matando o vírus com o álcool. Acho que, para o Armando, o bicho está aí, é grande, dá medo. Mas ele tem coragem para enfrentá-lo: vamos passar por isso.”
Patricia Cavalheiro, mãe do Armando Cavalheiro Dalmora, seis anos

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
... e, em seus desenhos, demonstra força no enfrentamento ao coronavírus

Peróla

Vovó Genilda tentando chamar a atenção de Thiago para ele rezar com ela:
– Tito, venha rezar com a vovó. Você não quer ir pro céu?
– Não! Quero ir pro shopping, vó!
Thiago, três anos



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