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Coluna da Maga

Magali Moraes e o invernico de maio

Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

13/05/2020 - 09h00min


Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

Você leu certo, sim. Não sou eu que enlouqueci, foi o clima mesmo. Tá tudo mudado. Como boa gaúcha, cresci esperando a cada inverno o famoso veranico de maio. Pra quem me lê de fora do Estado, eu explico: aqui fazia frio já em abril. Tanto que a gente comemorava a possibilidade de botar os braços de fora quando chegava o veranico de maio. Por alguns dias, às vezes uma semana inteira, os cobertores eram empurrados para os pés da cama. E a bolsa de água quente voltava pro armário.

O veranico de maio aparecia pra gente matar a saudade do calor. Pra arregaçar a calça comprida e arejar as canelas. Pra se livrar das meias, andar descalço e pegar gripe. Em quantas memórias infantis o mês de maio ficou marcado pela subida repentina da temperatura? O inverno entrava em pausa, e a gente precisava buscar na parte de cima do guarda-roupas as camisetas que tinham sido guardadas até a chegada da primavera. Naquele verão fora de época, podia até comer sorvete.

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Regras

Ei, você que se joga num pote de Napolitano inverno e verão. Antigamente não era assim. As regras eram bem definidas a cada estação. No outono já ligavam a estufa no banheiro e o fogão a lenha na cozinha. Nas manhãs geladas, o pijama ia por baixo da roupa com a gente pro colégio. Os braços não mexiam de tantas camadas de tecido no sovaco. Bochechas coradas significavam pés gelados. O nariz pingava feito goteira no teto. Por isso, o veranico de maio era tão bom. Até a chuva dava uma trégua.

Será que minhas lembranças são fantasia de criança? Posso ter imaginado esses invernos. O veranico de maio era mesmo tudo isso? O que tenho certeza é que fazia mais frio antes. Ele começava cedo e ia embora mais tarde. Estamos na metade do mês, e a surpresa agora seria um invernico de maio. Aproveita pra se enrolar num cobertor e tomar sopa! O aquecimento global cria até veranico em junho e julho. Bem que eu queria um agosto quentinho. Só não mexam com a primavera, por favor.



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