Esperança
Hospital da PUCRS vai aplicar testes de vacina contra o coronavírus em cerca de 800 voluntários
Inscrições para profissionais da saúde devem começar nesta semana
Os testes da vacina chinesa contra o coronavírus, conhecida como CoronaVac, devem ser aplicados em aproximadamente 800 voluntários em Porto Alegre. A pesquisa será feita através de convênio entre o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, com o Hospital São Lucas da PUCRS.
O hospital gaúcho estima conseguir aplicar a vacina em 30 a 40 voluntários por dia. Dos cerca de 800, metade receberá o medicamento e metade o placebo, que não induz a produção dos anticorpos. O objetivo será comparar a reação dos dois grupos, como explica o líder do estudo e chefe do Serviço de Infectologia do hospital, Fabiano Ramos:
— O placebo é igual a vacina, só que não tem a parte ativa da vacina. Ele é visualmente igual, tem os outros componentes, mas não tem o que vai desenvolver a produção de anticorpos nas pessoas. Assim poderemos ver se a produção de anticorpos se confirma.
De acordo com o médico, a aplicação dos testes de vacina deve ocorrer "nas próximas semanas", mas ainda não há data precisa. A instituição aguarda a remessa das doses para Porto Alegre. Segundo informação do governo paulista, as doses começam a ser aplicadas em 9 mil voluntários no dia 20 de julho, em todos os centros de pesquisa — além da capital gaúcha, são outros 11 em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Paraná.
A assessoria de imprensa do Instituto Butantan disse à GaúchaZH que as doses ainda não chegaram da China. Após serem recebidas em São Paulo, devem ser imediatamente repassadas aos demais Estados.
Enquanto aguarda a chegada das vacinas, o Comitê de Ética em Pesquisa da PUCRS avalia os detalhes para fazer a liberação definitiva do estudo e o hospital prepara a equipe responsável pela pesquisa. Serão 20 profissionais entre médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e setor administrativo.
O São Lucas também reserva uma área em separado para fazer os testes. De acordo com o líder do estudo, a área será "relativamente espaçosa para manter o distanciamento".
As duas doses da vacina serão aplicadas em dois meses em todos os participantes. Depois, eles serão acompanhados diretamente pelo hospital para saber as reações ao medicamento, além de fazer testes com frequência para a covid-19.
— O monitoramento será feito por um ano. Eles deverão voltar com frequência ao centro de pesquisa para coleta de exame e avaliação clínica. Também faremos contatos telefônicos para saber como está sendo a evolução deles nos próximos meses — detalha Ramos.
Candidatos devem ser profissionais de saúde
Os candidatos a receber os testes da vacina devem ser profissionais de saúde que estão em contato com pacientes que tiveram o diagnóstico confirmado para a covid-19. No entanto, não pode ter tido a doença —por isso, todos passarão por testes. De acordo com Ramos, a ideia é justamente imunizar, caso a vacina dê certo, quem está na linha de frente.
Além disso, o candidato, que deve ser maior de 18 anos, também não pode ser gestante ou planejar ter filhos dentro de três meses. Outro impeditivo são doenças que diminuam a imunidade ou crônicas, como hipertensão e diabetes.
O Hospital São Lucas prepara ainda uma plataforma em seu site para receber as inscrições, o que promete "para esta semana". Nesta segunda-feira (13), o governo de São Paulo abriu em seu site uma triagem para os candidatos, mas ela apenas serve para excluir quem não se encaixa no grupo destinado a pesquisa.
A CoronaVac é produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech e já está na fase três, a última de testagem antes da liberação para produção. As duas primeiras, em grupos menores, foram feitas na China.
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse nesta segunda, em entrevista coletiva, que está otimista com os testes:
— Particularmente, sou muito esperançoso de que teremos essa vacina muito rapidamente, até o final do ano.
Caso a vacine dê certo, o acordo com o laboratório chinês prevê que 60 milhões de doses produzidas pela Sinovac Biotech ficarão com o Brasil. Além disso, o Instituto Butantan está adaptando uma fábrica para a produção da vacina. De acordo com a assessoria de imprensa, a capacidade de produção será de até 100 milhões de doses.
O líder da pesquisa no Rio Grande do Sul diz que também é esperançoso com os prazos:
— Essa possibilidade de estar participando, a esperança de ter uma vacina que funcione bem e que possa chegar rapidamente à população, é realmente uma expetativa bastante grande e uma satisfação.