Pandemia
"Nem tive tempo de me despedir. Isso dói muito", diz esposa de vítima de coronavírus
Leandro Silva Wieth, 43 anos, morreu no dia 12 de junho, internado no Hospital Universitário, em Canoas
Morador de Charqueadas, Leandro Silva Wieth, 43 anos, morreu contaminado pelo coronavírus em 12 de junho, no Hospital Universitário, em Canoas. Para sua esposa, Eliane Pinheiro Czerwenski, 45, a perda do companheiro enlutou para sempre o Dia dos Namorados, uma de suas comemorações preferidas ao lado do marido.
Leandro e Eliane celebrariam a data, em 2020, pelo nono ano seguido. Os dois conheceram-se em 2011, em um baile em Gravataí, onde começaram uma amizade que logo progrediu para um romance. Evangélicos, casaram-se cinco anos depois, na Assembleia de Deus Gideões, no município da Região Carbonífera.
O casal construiu seu cotidiano no entorno da igreja, dedicando-se às pregações e ao voluntariado. Também era na comunidade que vendiam os pães caseiros produzidos por Leandro, que, na informalidade, garantiam seu sustento e o da esposa.
– Ele nunca deixou faltar nada dentro de casa. Era um homem muito trabalhador – conta Eliane.
Antes da atividade de padeiro, Leandro era um faz-tudo de obras. Teve de abandonar o trabalho pouco antes de completar 40 anos em razão do ganho descomedido de peso, que impunha dificuldades de mobilidade e respiração.
Leandro estava inscrito "há anos", segundo a esposa, para uma cirurgia bariátrica pelo SUS, tendo inclusive recorrido à Justiça para consegui-la. Morreu sem nunca ter sido chamado para o procedimento, com mais de 210 quilos.
Para Eliane, a obesidade foi a causa da piora da infecção do marido. Ela acredita que Leandro contraiu coronavírus nas idas ao Hospital da Caridade, em São Jerônimo, onde pernoitou durante dias ao lado da mãe, internada devido a uma trombose.
Os primeiros sinais da covid-19 apareceram em 26 de maio, quando Leandro acordou com falta de ar. Procurou atendimento na tenda destinada a pacientes de coronavírus na cidade, no entorno do Hospital de Charqueadas, e acabou transferido para Canoas. O dia do surgimento dos sintomas foi, também, o dia em que Eliane o viu pela última vez.
– Nem tive tempo de me despedir, de dar um beijo. Isso dói muito – conta a esposa. – No momento em que ele foi para o hospital, só disse: "Tá bem". Eu achava que ele voltaria.
Leandro precisou ser entubado, e seus pulmões não resistiram à contaminação pelo vírus. Após a morte, Eliane soube que, minutos antes de ser sedado, Leandro pediu a um dos irmãos que tomasse conta da esposa.
Ela foi testada para a covid-19, mas o resultado deu negativo. Entre os familiares, os pais de Leandro e sua irmã receberam laudos positivos — todos, apesar do luto, passam bem.
– Ninguém quer perder quem ama. Mas, um dia, todo mundo vai – conforta-se Eliane.