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Sem conexão

Um mês depois, cerca de 40% dos alunos da rede estadual seguem fora do sistema de aulas online

Seduc afirma que meses de junho e julho servem para a chamada ambientação virtual

03/07/2020 - 09h56min


Eduardo Matos
Eduardo Matos
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Porthus Junior / Agencia RBS

Cerca de 500 mil alunos e 38 mil professores se cadastraram no sistema online que está sendo usado pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) para realização de aulas remotas. Um mês depois do início da ativação das contas do Google Classroom, esse contingente representa 61% do volume total de estudantes e 94% dos docentes. Isso significa que em torno de 40% dos alunos seguem desconectados do sistema.

A Seduc afirma que os meses de junho e julho servem para a chamada ambientação virtual. Ainda não foi concluído o levantamento feito pelas coordenadorias regionais de educação para saber quantos alunos não possuem internet. A previsão é de que o serviço bancado pelo governo esteja disponível durante este mês. Para aqueles que não possuem equipamentos eletrônicos para realizar as aulas, ainda não há definição de quando poderão usar os laboratórios e bibliotecas de escolas para acessar plataformas digitais.

A secretaria enviou nota a GaúchaZH sobre o assunto: Atualmente, a Secretaria da Educação trabalha em uma busca ativa por meio das 30 Coordenadorias Regionais de Educação do Estado para que alunos e professores acessem suas contas educacionais. Mesmo diante dos desafios impostos pela pandemia de coronavírus, a Seduc tem empenhado todos os esforços em promover o acesso à plataforma, de modo a permitir que todos os alunos e professores da rede estejam inseridos no ambiente virtual o mais rápido possível.

Preocupação no setor

A demora para que todos os alunos da rede estadual tenham acesso ao sistema repercute entre profissionais e especialistas do setor, que demonstram preocupação. Para a pós-doutora em educação e professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) Arisa Araújo da Luz, é preocupante a validação das aulas no formato atual adotado pelo governo. 

— O Estado deverá rever o início do próximo ano. Precisamos incluir na aprendizagem desses 40%, ou mais, o conteúdo de onde paramos em março deste ano — sustenta a professora.

Arisa diz que os professores estão sendo gigantes no esforço, mas que isso não é suficiente para o aprendizado dos estudantes. 

— Se nós insistirmos nos conteúdos formais deste ano, nós vamos excluir bem mais que esses 40%. Nós vamos fingir que estamos ensinando — lamenta.

A presidente do Cpers, Helenir Schürer, conta que existe uma preocupação muito grande da categoria sobre o baixo percentual de alunos que têm acesso à internet.

— E mesmo que o governo diga que a internet será paga pelo Estado, mesmo assim os alunos não têm o aparelho celular, o notebook ou o computador para poder acessar as aulas. Se esses alunos tiverem que ir às escolas para fazer esses acessos, isso vai gerar aglomeração — pondera.

Helenir afirma que segue a dúvida sobre o formato do ano letivo:

— Agora com uma certeza, que nem todos os alunos terão acesso (às aulas online) e nós teremos que ter um planejamento na retomada das aulas para vermos como recuperaremos esses alunos. E muitos ainda terão de continuar recebendo material para poder acompanhar o ano letivo que está em andamento.

Apelo por mais ferramentas

O doutor em educação e pós-doutor em sociologia Gregório Grisa diz que ferramentas como WhatsApp e Facebook não podem ser deixadas de lado neste momento.

— Assim como materiais em outras plataformas, como YouTube ou videoaulas na televisão, coisa que o Estado já está fazendo — ressalta.

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Segundo ele, em caso de confirmação da “descomplicatividade” de alguns estudantes, o fornecimento de materiais impressos, apostilas e livros segue sendo importante. Grisa sugere ainda, como alternativa, o empréstimo de aparelhos eletrônicos para esses alunos que realmente não tenham os equipamentos para acompanhar as aulas. 

— Tem que ver se esse cadastro no sistema depende da habilidade tecnológica por parte das famílias. Daqui a pouco, a própria secretaria vai ter que subsidiar para que seja feito esse vínculo — sustenta o professor, ao considerar “muito limitado” o uso apenas do Google Classroom como ferramenta das aulas.

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