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Iniciativas ajudam empreendedores a manter negócios vivos durante a crise

Programas criados por diversas entidades oferecem auxílio e conteúdo gratuito para pequenos negócios

01/08/2020 - 05h00min

Atualizada em: 01/08/2020 - 05h00min


Elana Mazon
Elana Mazon
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André Ávila / Agencia RBS
Luisa e Isis tinham feiras de rua como atividade principal do brechó, e precisaram se adaptar

A covid-19 é um problema de saúde pública, mas as consequências da pandemia vão muito além — e isso todo mundo já sabe. Comércio fechado, economia parada, vagas de emprego sendo encerradas a todo momento, prejuízos nas mais diversas áreas. Para os empreendedores, então, a situação pode ser muito complicada — ainda mais para aqueles que precisam não só dar conta das tarefas da sua área profissional, mas cuidar da contabilidade, das finanças, da divulgação e ainda estar ligado no cumprimento de todos os decretos que mudam a cada dia.

A notícia boa é que, desde o início da crise causada pelo coronavírus, surgem diversas iniciativas focadas em ajudar os pequenos empreendedores. Times compostos por profissionais experientes e por jovens cheios de ideias, todos dispostos a socorrer quem viu seu trabalho parar, mas para quem as contas continuaram chegando. Nesta reportagem, o Diário Gaúcho mostra três destas histórias, apresenta iniciativas para auxiliar os empreendedores e ainda dá dicas para quem precisa se reinventar. 

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E a lição que fica, apesar de todas as dificuldades, é de otimismo: com abertura para o conhecimento e mãos à obra, dá para seguir vivo, apesar da pandemia.

Orientação fundamental

A principal forma de vendas do Lua Bazar e Brechó, que não possui sede física, eram as feiras de rua. Eventos organizados em parques e praças, com estandes diversos, de artesanato à comida, passando pelas roupas, onde os clientes circulavam livremente. Com a necessidade do isolamento social, as feiras foram sendo canceladas uma a uma _ e sem uma perspectiva de retorno. As irmãs Luisa Teixeira, 31 anos, e Isis Teixeira, 27, de Porto Alegre, proprietárias do brechó, chegaram a pensar em encerrar o negócio, e retomar a atividade apenas quando a situação voltasse ao normal.

— Antes, fazíamos poucas vendas pela internet. A maioria do faturamento vinha das feiras. Durante várias semanas, ficamos sem saber o que fazer — conta Luisa.

Foi quando Luisa, moradora do bairro Cascata, que também é estudante de Jornalismo na UFRGS, soube do projeto SOS PME, da universidade, que oferece assessorias a empresários afetados pela crise. Ela entrou em contato, e as duas receberam ajuda de professores da instituição em áreas como gestão de marketing, logística e contabilidade.

— A primeira coisa que mudou foi a divisão de tarefas. Antes, a gente se dividia informalmente, conforme o tempo disponível e nossas outras atividades. Eles pontuaram que era importante rever isso, e nós mudamos. Agora, por exemplo, eu gerencio as redes sociais. Posto fotos, produzo conteúdo. Minha irmã também ajuda com essa parte, mas ficou responsável pela parte financeira. Parece uma coisa tão simples. Mas, antes, não tínhamos muita noção da importância disso — relata.

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Assim como o SOS PME, desde o início da pandemia, surgiram outras iniciativas semelhantes, com o objetivo de auxiliar empreendedores a manterem seus negócios saudáveis. Afinal, é difícil citar um setor que não tenha sido afetado, de uma forma ou de outra. Até os negócios que não perderam clientes precisam, muitas vezes, de adaptações em questões como segurança para evitar o contágio e respeito aos decretos que ordenam o funcionamento. 

Apoio

Desde julho, o Pacto Alegre, movimento que busca articulação e eficiência na realização de projetos na Capital, uniu iniciativas de apoio aos negócios locais e criou uma plataforma online com serviços gratuitos aos empreendedores durante a pandemia. Batizada de Supera, a plataforma oferece cursos, oficinas, mentorias em gestão, plataforma para divulgação dos empreendedores, conteúdos como podcasts e programas online e rede de assessoria empresarial. Além do SOS PME, da UFRGS, agrega conteúdos de entidades como o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), PUCRS, Unisinos e Sistema Fecomércio.

— O lançamento é recente, mas o número de parceiros já cresceu desde então, e a repercussão tem sido boa. As ações iniciais são todas gratuitas, basta fazer um cadastro no site. Depois, há também opções pagas. Mas tem muito conteúdo de graça para quem não pode investir agora — diz Leonardo Franke Gonçalves, doutorando da Unisinos e integrante do grupo executivo do Pacto Alegre.

O profissional explica que a plataforma se divide em quatro pilares: Quero Ajuda, Quero me Atualizar, Quero Fazer Negócios e Ferramentas para o Empreendedor. Cada um deles oferece serviços específicos, de acordo com a situação de cada negócio.

— No Quero Ajuda, por exemplo, mentores voluntários dão apoio a empresários em várias áreas: financeiro, digitalização dos negócios, marketing. São mostrados elementos que podem ser trabalhados durante a crise — finaliza Leonardo.

Balanço positivo

Aumentar a presença nas redes sociais, fazer parcerias com outros empreendedores para que mais pessoas saibam sobre o negócio, organizar o caixa, oferecer entregas durante a pandemia com segurança para trabalhadores e clientes. Todos estes assuntos foram tratados nos encontros de Luisa e Isis com os professores ligados ao SOS PME, e ajudaram o Lua Bazar e Brechó a manter-se vivo. Para as empreendedoras, o balanço da participação no programa e do trabalho feito por elas até aqui é positivo.

— Não posso dizer que temos o mesmo faturamento de antes. Mas os clientes continuam nos procurando. Conseguimos aproveitar bastante as datas comemorativas, como o Dia dos Namorados. Essa ajuda que recebemos nos deu uma visão de como continuar o trabalho mesmo com a pandemia. Nos mostrou que é possível. Seria muito mais difícil começar do zero depois, se a gente tivesse parado agora — diz Luisa, que também conta uma curiosidade:

— Fazemos tudo o que fazíamos antes, até com mais intensidade, sem nos encontrarmos pessoalmente. Só vejo a Isis ao vivo quando vou até a casa dela (no centro da Capital) buscar ou levar alguma peça, mas não entro, nos encontramos na frente do prédio, como se fosse uma entrega. Estamos respeitando o distanciamento.

Novos caminhos

Assim como o Supera, ligado ao Pacto Alegre, outras cidades e entidades também têm iniciativas semelhantes. Uma delas é o Recupera Canoas, da prefeitura da cidade em parceria com o Sebrae. Da mesma forma, a primeira fase é gratuita. Um consultor faz um diagnóstico do negócio, define o perfil da empresa e faz orientações ao empreendedor. Caso haja necessidade de avançar na consultoria, é possível aderir a pacotes pagos, mas a ação não é obrigatória. Desde o lançamento, em junho, 90 empresas de Canoas buscaram o serviço.

—  Sabemos que a pandemia gerou uma instabilidade. A situação causou muitas dúvidas, e as empresas nem sempre tinham o suporte necessário para mudar suas formas de trabalhar neste período. Sentimos a necessidade de oferecer este tipo de serviço — explica o secretário de Desenvolvimento Econômico da cidade, Alexandre Bittencourt.

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No caso do Recupera Canoas, o primeiro contato é pelo telefone. O empreendedor, então, passa por um consultor especializado. A partir dos dados da empresa, são indicados possíveis caminhos para o negócio se manter.

— O que vemos muito é a assessoria para vendas online. Outra necessidade recorrente é ajuda para adaptar o negócio às bandeiras e aos decretos do município, e ainda manter funcionando — diz Alexandre.

Desafios

Um dos negócios atendidos pelo programa é a clínica Vitafisio, no Centro da cidade. Ainda em março, o local precisou fechar as portas por algumas semanas em função da pandemia. Mais tarde, mesmo com a possibilidade de reabertura com restrições, a proprietária, a fisioterapeuta Aline Casagrande Sá, em conjunto com outros profissionais que são parceiros da clínica, também passou a oferecer atendimentos a distância.

Arquivo Pessoal / Divulgação
Aline buscou orientação para enfrentar a crise

— A fisioterapia é um trabalho que exige muito o contato e a proximidade com cliente/paciente. Administrar um atendimento a distância deve ser muito bem planejado e bem orientado. Hoje, o nosso maior desafio é trazer o cliente para este tipo de atendimento — explica.

No programa, Aline conta com três profissionais: um coach executivo, um orientador sobre a modelagem do negócio e outro para auxiliar com um plano de gerenciamento de crise.

— Neste projeto estamos analisando a empresa, quantificando, traçando objetivos e metas de uma forma racional. Para isso, algumas mudanças estão sendo implementadas, tudo voltado para sobrevivência do negócio. Em função da pandemia, os atendimentos presenciais reduziram bastante e, hoje, a clínica se mantém das economias feitas antes — diz a proprietária.

Sem negar as dificuldades, Aline busca o otimismo com relação ao presente e ao futuro:

— É o momento de acertar as coisas que não deram certo no passado e planejar as mudanças. Olhar as oportunidades, buscar novas parcerias, ser criativo dentro das possibilidades no teu negócio e ter um diferencial. Estamos em constante aprendizado! É um momento cheio de desafios, mas precisamos ser otimistas e saber que isso vai passar. 

Reinventar para sobreviver

O movimento nas proximidades do Hospital Universitário de Canoas e as aulas na Ulbra eram a garantia de faturamento no negócio de Neusa Cauduro Miranda, 57 anos. Ela e a família possuem um estacionamento na Rua Uruguai, bem perto da instituição, há mais de 20 anos. Com o cancelamento das aulas presenciais e os atendimentos no hospital voltados, em sua maioria, para a covid-19, o número de clientes inevitavelmente caiu.

_ O movimento do rotativo chegou a cair 70%. Quando as consultas eletivas diminuíram, diminuiu a minha clientela, também. Além disso, tenho o serviço para mensalistas, mas, com a pandemia, diversos funcionários do hospital passaram a receber estacionamento de graça, e acabaram saindo daqui. Nesta categoria, meus clientes caíram pela metade. Em todos esses anos já passamos por muitas crises. Mas essa, com certeza, é a pior — relata Neusa.

Nas primeiras semanas de efeitos da pandemia, uma das medidas tomadas pela família foi diminuir o valor mensal do estacionamento em mais de 20%. Com isso, conseguiram alguns clientes a mais, e voltaram a pagar as contas do negócio. O aumento no número de leitos no HU trouxe mais funcionários, e muitos acabaram virando clientes do local, o que também deu um respiro nas finanças.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Neusa ainda busca soluções para recuperar as perdas, mas não desiste

Mas as dificuldades não pararam por aí. Neusa e a família também são atendidos pelo Supera Canoas, e receberam orientação para buscar crédito. Porém, apesar das tentativas, isso não foi possível:

— Os bancos fazem muitas exigências que não temos como cumprir. Até agora, não consegui nada. Sigo tentando.

"Novo" negócio

Para melhorar a situação, dona Neusa pensa em voltar a vender pastéis — atividade que ela já exerceu em momentos anteriores, mas deixou de lado para focar no estacionamento. Por enquanto, a questão financeira ainda é um problema.

— Como já tive pastelaria, tenho muitos equipamentos. Preciso ainda de uma fritadeira, que não tenho dinheiro para comprar por enquanto. Mas não desisti. Desta vez, a ideia é fazer apenas entrega, tudo com segurança. Seria aqui mesmo, onde a gente mora e trabalha. Minha receita caseira fazia sucesso, acho que pode ser uma saída — diz ela.

Remodelar o negócio — ou seja, fazer as mudanças necessárias, muitas vezes radicais — é justamente uma das ações  apontadas pela coordenadora regional de atendimento do Sebrae-RS, Alessandra Santos Faria, como fundamentais para esta época.

— Temos inúmeros exemplos de empresas que conseguem se manter porque se remodelam. Olham para as atividades que são possíveis neste momento e mudam. Nestes casos, nem sempre o faturamento é o mesmo, mas essa ação permite que a empresa sobreviva — explica.

Dicas para empreendedores

/// Olhe com atenção para a parte financeira da sua empresa. Entenda e controle seu fluxo de caixa. Empresas com o financeiro organizado geralmente têm acesso mais fácil a crédito, quando necessário.

/// Esteja no ambiente digital. Este é o legado mais forte da pandemia: a inserção no mundo online. Quem não vende pela internet, atualmente, está correndo riscos.

/// Dê atenção ao marketing. Aprenda a utilizar as ferramentas online para isso, como as redes sociais, que podem ser poderosas para fazer mais pessoas conhecerem a sua empresa.

/// Remodele o seu negócio. Não é mais possível funcionar como antes da pandemia? Pense em como sua empresa pode mudar e adaptar-se aos novos tempos e também ao futuro. 

/// Busque ajuda. Seja com consultorias, mentorias ou buscando conteúdos disponíveis gratuitamente na internet, dedique tempo a se atualizar e desenvolver um olhar estratégico. Desta forma, você e sua empresa poderão se adaptar mais facilmente às mudanças e sobreviver.

Fontes: Leonardo Franke Gonçalves, doutorando da Unisinos e integrante do grupo executivo do Pacto Alegre, e Alessandra Santos Faria, coordenadora regional de atendimento do Sebrae-RS

Onde buscar orientação

Supera

/// Iniciativa ligada ao Pacto Alegre, da Capital, que reúne diversos parceiros e conteúdo de diferentes instituições para auxiliar Pequenas e Médias Empresas (PMEs).

/// Confira e faça o cadastro no site: pactoalegre.poa.br/supera/

Recupera Canoas

/// Programa que auxilia micro e pequenas empresas da cidade com consultorias, análise técnica e do perfil competitivo, assessoria em crédito e indicações para crédito.

/// Confira mais no site: https://www.canoas.rs.gov.br/recuperacanoas/

/// Mais informações pelo telefone: (51) 3427.4368

Sebrae-RS

/// Possui conteúdos, cursos gratuitos e pagos, iniciativas e inúmeros projetos voltados ao empreendedorismo, além de ser parceiro em outras iniciativas.

/// Confira no site sebraers.com.br


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