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Papo Reto

Manoel Soares: "A luta racial não acabou, só saiu da moda"

Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho

01/08/2020 - 05h00min

Atualizada em: 01/08/2020 - 05h00min


Lauro Alves / Agencia RBS

Dia 20 de maio desse ano, a questão do racial era o tema do momento. Hoje, algumas semanas depois, parece que o problema foi resolvido, mas não foi. 

Antes, é importante entender que todas as relações sociais no Brasil, inclusive entre pessoas brancas, foram impactadas pela escravidão. Por exemplo, só no Brasil ainda vejo os tais "quartos de empregadas", herança das mucamas escravizadas que dormiam em um cubículo sem janela no fundo das casas. 

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Outra coisa que ainda resiste é o móvel "criado-mudo", essa era uma função que o negro escravizado tinha que desempenhar, ficavam desde antes de o sol nascer em pé e em silêncio, ao lado da cama de seus donos, com água, penico e alguma fruta, para que quando o senhor de engenho acordasse não precisasse chamar. 

Depois da "abolição" não era mais permitido ter um escravo ao lado da cama e o substituíram por uma mini-cômoda com gavetas que desempenhava a mesma função. Entender as peculiaridades da escravidão e das relações raciais é importante, pois isso explica nossos dias de hoje, independentemente da cor da pele que você tenha. 

Não acabou

Por exemplo, negros morrem mais de covid-19 no Brasil, não porque a biologia é diferente, mas porque têm menos acesso a tratamento. Fora que, de cada 10 mulheres que morrem no parto, seis são negras. Esses desdobramentos do racismo ficam mais sérios quando pessoas tentam nos convencer que brancos também sofrem como negros. É um absurdo que, para tentar ignorar os impactos da escravidão, usem a dor na pessoas brancas como argumento. Desculpem voltar nesse tema, mas a luta racial não acabou, só saiu da moda.

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