Papo Reto
Manoel Soares e um dos mais tristes efeitos da pandemia: a panela vazia
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Essa pandemia revelou inúmeras realidades, e uma delas é a fome. Não ter o que dar para os filhos era um fantasma quase superado na maioria dos lares, mas hoje ele volta a assombrar homens e mulheres.
Nesta semana, visitei famílias que estão dando farinha com açúcar aos filhos pela manhã e atrasam o almoço até as quatro da tarde para que já seja também a janta. Não estar indo à escola trouxe uma insegurança alimentar para a vida de milhares de crianças que, na hora da merenda, comiam refeições balanceadas. Porém, na casa dos pais fragilizados com a pandemia, quando tem comida, é no máximo um arroz e feijão.
A naturalização da pandemia fez com que as doações caíssem muito. Comunidades que recebiam 200 cestas básicas por mês, hoje não recebem 40. Mas a fome não espera, não tira férias. O medo das instituições é que a possível vacina contra a covid leve junto a solidariedade, pois mesmo que a vacina fosse dada hoje, ainda assim levaríamos 10 meses para que as pessoas voltassem a ter a possibilidade de sustentar a família com tranquilidade.
A verdade é que a solidariedade hoje é sinônimo de responsabilidade, pois ter como ajudar e não se dispor é um ato de desumanidade, levando em conta a realidade atual.