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Com auxílio emergencial e vaquinha online, mulher constrói sozinha casa de dois pisos em Sapucaia do Sul

Desempregada, Elen Cristina Gonçalves da Silva usa metade da renda ofertada pelo governo federal para investir na obra

23/09/2020 - 22h11min

Atualizada em: 24/09/2020 - 09h18min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Lauro Alves / Agencia RBS
Elen perdeu o emprego de vigilante no início da pandemia

Em meio a paredes parcialmente erguidas, uma única trabalhadora comanda o canteiro de obras da Rua dos Canários, no bairro Colina Verde, em Sapucaia do Sul. Elen Cristina Gonçalves da Silva, 52 anos, perdeu o emprego de vigilante no início da pandemia, mas não desistiu de melhorar as condições do local em que vive, uma peça de apenas 12 metros quadrados com sofá, cama e televisão. Sem dinheiro para contratar serventes, amarra os ferros das vigas, mistura a argamassa e coloca as pedras para a base da construção. No térreo, sala e cozinha, e no andar superior, o quarto com banheiro.

– Vai ser a casa dos meus sonhos, feita com minhas próprias mãos, sozinha – orgulha-se. 

Desempregada, a mulher passou a integrar a lista de gaúchos que recebem o auxílio emergencial do Governo Federal. Como informou a colunista Giane Guerra, três em cada 10 domicílios do RS tem um beneficiário do programa.

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Metade dos R$ 600, Elen usa para alimentação e gastos com deslocamento até os locais onde presta serviços informais. A outra parte vai para o projeto, em compra de material de construção.

– Eu pesquiso tudo no Facebook, acho onde tem o melhor preço e vou comprando. Está indo devagar porque o dinheiro é curto – lamenta.

O conhecimento da construção civil ela obteve há 30 anos, quando foi contratada por uma pequena empreiteira. À época cursava o Ensino Fundamental, única graduação alcançada. Com o tempo, passou a gostar do trabalho e assumiu o ofício como complemento de renda.

– Esses dias mesmo eu peguei um contrapiso para fazer. Não dá muito, ganhei R$ 70 em um dia de trabalho – afirma.

Na rua, o trabalho é reconhecido pelos demais moradores. Dicas sobre a fundação da construção e outros conselhos foram repassados à vizinhança, segundo a mestre de obras.

A filha Joseane Shaiane Silva da Silva, 32 anos, define a matriarca como "uma guerreira". Ela divide o mesmo terreno, e vive em uma casa de madeira com o marido e três filhos. Relembra quando a construção da casa da mãe foi iniciada. Sem o mínimo para erguer os primeiros tijolos, a presenteou com um saco de cimento.

- Parecia uma criança com um brinquedo novo – compara.

A casa começou a ser erguida em junho. Há ainda um espaço nos fundos do pátio, com planos de ser erguido mais um puxadinho para receber os outros filhos, que vivem em Alvorada, também na Região Metropolitana. A previsão é terminar ao menos a casa principal até o fim do ano. Com festa.

– Aí a gente vai pro abraço. Se passar essa pandemia, vamos fazer comemoração com os amigos, e vocês estão convidados – avisa, gentil.

A vigilante diz que sempre conquistou tudo que sonhou "com muita força de vontade". Além de uma residência quase seis vezes maior que a atual, vislumbra outro objetivo: terminar o Ensino Médio e prestar concurso, em busca de estabilidade profissional.

Uma campanha pela internet busca arrecadar R$ 45 mil para ajudá-la a finalizar a casa. Podem ser feitas doações a partir de R$ 25. Até o meio-dia desta quarta-feira (23), pouco mais de R$ 7 mil haviam sido contabilizados.

Contatos também podem ser feitos pelos telefones 51 99380-2198 e 51 99828-3714 – esse último, WhatsApp, referência para mensagens enquanto ela está na obra e não atende as ligações.



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