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Região Metropolitana

Cadela de menino de 13 anos é morta a tiro por dono de mercado em Sapucaia do Sul

Proprietário do estabelecimento foi preso em flagrante após o crime ocorrido na segunda-feira

13/10/2020 - 21h50min

Atualizada em: 14/10/2020 - 00h26min


Vitor Rosa
Vitor Rosa
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Anderson Cardoso / Arquivo pessoal
Belinha foi morta com um tiro enquanto esperava seu tutor, de 13 anos, fazer compras em um mercado

Uma cadela foi morta com um tiro pelo dono de um mercado em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana. O fato foi presenciado pelo tutor do animal, um garoto de 13 anos, e aconteceu na tarde de segunda-feira (12), Dia das Crianças. O comerciante foi preso pela Brigada Militar (BM). 

Segundo a família, o menino foi ao mercadinho do Loteamento Nascer do Sol, no bairro Boa Vista, pouco depois das 12h para fazer compras pedidas pelos pais. A sua cadela, Belinha, o acompanhou, como fazia de costume. O cão ficou esperando do lado de fora do estabelecimento. A presença do animal gerou a irritação do proprietário do mercado que, segundo a polícia, atirou com uma espingarda contra a cadela.

O tiro alertou o menino, que saiu de dentro do mercado. Correndo, ele ainda levou a cadela sangrando em seu colo até os seus pais, para que a examinassem e pedissem ajuda. Belinha não resistiu.

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O fato gerou a revolta de moradores do loteamento, que cercaram o prédio do mercado. A Brigada Militar (BM) foi acionada e deteve o homem. De acordo com o capitão Renato Rafell de Brito Fell, subcomandante da corporação em Sapucaia do Sul, o comerciante afirmou aos policiais que tinha a intenção "de somente assustar o animal". 

— Quando as guarnições chegaram, havia várias pessoas, em um tumulto grande que se formou. O autor, em seguida, se apresentou. Ele entregou a arma, uma carabina de pressão. O indivíduo foi autuado em flagrante com base na lei de maus-tratos aos animais — resumiu o policial. 

Os policiais levaram o homem até a delegacia de plantão de Canoas. O comerciante foi preso em flagrante com base na nova lei de maus-tratos a animais, sancionada em 29 de setembro pela Presidência da República. O texto trouxe mais rigor a casos como esse, impondo reclusão de dois a cinco anos, além de multa. Antes, em um caso semelhante, seria cabível apenas o registro de termo circunstanciado. 

O delegado regional de Canoas, Mario Souza, afirma que o caso será tratado com rigor e entrará no bojo das investigações da Operação Arca, ação permanente da Polícia Civil contra maus-tratos a animais na região. 

— O crime já é grave, e, nesse contexto, com a morte do animal e na frente da criança, chama ainda mais atenção e destaca mais a gravidade do crime. Não é algo a ser tratado como simples, certamente a criança terá um trauma devido a essa situação. Isso é barbárie, o que não pode ser permitido. Vamos atuar com todo o rigor da lei — manifestou o delegado. 

O delegado também lembrou que não há possibilidade de fiança com  novo texto da lei. 

O nome do homem não foi informado pelas autoridades. 

Melhor amiga do menino

Anderson Cardoso / Arquivo pessoal
Com ajuda de vizinho, garoto decidiu enterrar sua melhor amiga na mesma praça onde com ela brincava havia oito anos

Belinha e o garoto eram melhores amigos havia oito anos. Em 2012, o menino a viu sozinha na rua, ainda pequena, e pediu para os pais que a adotassem. Em casa, a tratava com atenção e era o único responsável por cuidá-la. Se a mãe, o padrasto ou os irmãos tentavam tomar conta dela, Belinha não aceitava. 

— Ele que levava ela para passear, dava banho, soltava um pouquinho no pátio. Às vezes, a gente tentava cuidar, mas não adiantava, a cadela era apaixonada por ele — comentou o irmão do menino, Anderson Cardoso, 23 anos. 

De acordo com o irmão, o menino passou a terça-feira (13) com a família e ainda estava abalado, chorando frequentemente. Ele recebeu visitas de pessoas que se comoveram com a história e levaram alguns presentes. 

Vídeos gravados por vizinhos e postados em redes sociais mostram o tamanho do amor que ele tinha pela cadela. Já com o animal morto, o garoto permaneceu com ela em seu colo, chorando e pedindo para que ela reagisse. 

— Ô, Belinha, tá me ouvindo? — clamava o menino, com os braços sujos de sangue da cadela. 

 Apesar da dor, o garoto decidiu que deveria enterrar Belinha. Ele mesmo pediu para um vizinho que tem conhecimentos de marcenaria para fazer uma cruz. Depois, com ajuda de adultos, pintou com tinta branca no objeto o nome de sua cadela. O garoto, sozinho, abriu a pequena cova e despediu-se dela na mesma pracinha onde brincou nos últimos anos com a sua melhor amiga. 


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