SONHO DE NATAL
Creche do bairro Sarandi faz campanha para construção de biblioteca comunitária
Espaço, que é o sonho de natal dos pequenos, deve ser construído nas dependências da escola de educação infantil Santa Catarina, na vila Nova Brasília
Com a proximidade do mês de dezembro, a promessa da recompensa pelo bom comportamento durante o ano começa a dar os primeiros sinais no imaginário de muitas crianças, expressos pelos pedidos feitos ao Papai Noel. Neste ano, contudo, o bom velhinho terá que se “virar nos trinta” para atender o desejo dos 97 alunos da escola de educação infantil Santa Catarina, localizada na vila Nova Brasília, no bairro Sarandi, em Porto Alegre. Isso porque o sonho de Natal dos pequenos não cabe dentro do saco de presentes de Noel, tampouco é capaz de passar por alguma chaminé: trata-se da construção de uma biblioteca.
Apesar de ter caído nas graças das crianças e da comunidade escolar, o desejo de construir um espaço dedicado à formação de jovens leitores na escolinha é antigo. Idealizada na década de 90 pela líder comunitária Paulina Rodrigues de Oliveira, já falecida, a instituição – hoje dirigida pela pedagoga Luana Rodrigues dos Santos, 36 anos, filha de Paulina – sempre conservou o projeto de abrigar uma biblioteca em suas dependências.
– Sonhamos com isso há muito tempo, mas sempre surge algo que precisamos priorizar. Se conseguirmos construir, cogitamos colocar o nome da minha mãe na biblioteca, porque ela dedicou 30 anos de sua vida à comunidade – relata Luana, atual diretora da instituição.
Busca por doações
O sonho da biblioteca, porém, ainda está distante de se materializar em paredes erguidas e estantes repletas de livros para uso dos pequenos moradores da vila Nova Brasília. Com poucos recursos, tudo o que a instituição tem, até o momento, é o local para construir o espaço – em parte do pátio da creche –, alguns livros e a vontade de fazer com que o antigo desejo saia do papel.
Para isso, equipe e pais dos alunos estão engajados na campanha para arrecadar doações que possibilitem a realização do sonho de Natal: materiais de construção, contribuições financeiras, livros de literatura infanto-juvenil e até mesmo a força de trabalho de quem puder ajudar na empreitada.
– Quem entra na nossa instituição não diz que é uma creche comunitária em uma vila, pois tudo é feito com o maior capricho e dedicação. Entendemos que não importa qual é a realidade da criança do portão para fora, porque do portão para dentro a realidade dela tem que ser a melhor. Por isso, não vamos desistir desse sonho – afirma a diretora.
Maior de todos os sonhos: formar uma comunidade leitora
Para a diretora da instituição, é consenso o impacto positivo que o contato com a literatura traz para a formação de uma criança. Mas, ao se tratar dos alunos da escolinha fundada por sua mãe, Luana entende que a construção de uma biblioteca para uso dos pequenos vai além:
– A realidade da nossa comunidade é difícil, mas há um potencial muito grande. Nossa missão também é levantar a autoestima das crianças e os livros podem proporcionar isso. Ao ouvir uma história, elas se enxergam naquele universo e descobrem outras possibilidades. E, com a realidade que a gente vive aqui, é importante que as crianças desenvolvam o interesse pelos livros, pois isso tira o interesse delas por coisas que não fazem parte da infância e forma cabecinhas pensantes que vão buscar futuro nos estudos.
Além disso, a ideia é que, quando consolidada, a futura biblioteca possa atingir também as famílias – ampliando o acesso à leitura para os pais e irmãos adolescentes dos alunos. De sonho de Natal em sonho de Natal, o objetivo é atingir o maior de todos os sonhos: formar uma comunidade leitora na vila Nova Brasília.
História que passou de mãe para filha
A história dos mais de 20 anos de existência da escolinha Santa Catarina faz parte, também, da vida da diretora Luana, que cresceu dentro da instituição. Fundada por sua mãe, Paulina, em 1994, o trabalho realizado ali começou a passos pequenos, fruto do desejo da moradora e demais apoiadores de fazer algo em prol da comunidade.
– Estou aqui dentro desde meus nove anos. Antes, era um prédio abandonado. Minha mãe começou só dando café para as crianças e, aos poucos, surgiu a oportunidade de formar uma creche, se conveniar com a prefeitura e a gente foi se qualificando – relembra Luana.
Segundo a diretora, a mãe, falecida em 2016, dedicou-se ao trabalho na escolinha até quando a saúde lhe permitiu. Seguindo seus passos, ela formou-se na área da Pedagogia e, desde a partida da matriarca, vem dando continuidade ao trabalho iniciado por Paulina:
– Se ela não tivesse começado com esse gesto, hoje eu não estaria aqui.
Como contribuir
/// Doações de qualquer natureza são bem-vindas. Para contribuir, entre em contato pelos telefones (51) 3365-8244, (51) 99611-2504 ou (51) 98530-9237. Se preferir, faça contato pelo Facebook da escola.
Produção: Camila Bengo