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Coluna da Maga

Magali Moraes: Milena, me ajuda

Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

23/11/2020 - 09h00min

Atualizada em: 23/11/2020 - 09h00min


Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

Hoje não tem assunto levinho pra começar a semana. Tem tristeza profunda, vergonha, dor e raiva. Impossível não falar (cada vez mais) sobre o assassinato de Beto Freitas quinta passada aqui em Porto Alegre. E se fosse você a mulher que ouviu "Milena, me ajuda"? E se fosse seu filho o homem espancado no estacionamento do Carrefour? E se fosse sua amiga a funcionária que assistiu a tudo e tentou impedir a gravação desse vídeo que já rodou o mundo? E se fosse você?

Comprovaram que ele deu o primeiro soco e tinha antecedentes criminais. Por acaso isso justifica tamanha violência? "Só me deixa respirar." O fato é que aqueles dois seguranças brancos quiseram, sim, agredir até a morte um homem preto. Fazer justiça com as próprias mãos (e joelhos, pés). Racismo descarado, nojento e inaceitável. Certamente se o cliente fosse branco, teria sido apenas um mal entendido. Os protestos Brasil afora só comprovam que ninguém suporta mais ficar calado.

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Desculpa

Sou uma mulher branca e privilegiada. O mínimo que posso fazer é usar esse espaço nobre e pedir desculpa por todas as vezes em que fui racista sem me dar conta. Quando atravessei a rua desconfiada pela presença de um homem preto. Pelas expressões com teor racista que (por ignorância) falei ou escrevi. Você não faz ideia de quantas existem, e provavelmente diz também. Pelas vezes em que achei normal ter poucas pessoas pretas no colégio, no meu prédio, nos lugares onde já trabalhei.

O racismo estrutural é um tumor desde sempre entre nós. Procure se informar mais sobre isso. O estrago vem lá do descobrimento do Brasil, do abuso dos índios, da escravidão. Hoje não basta não ser racista, a gente precisa ser anti racista. Demonstrar com nossas atitudes que não importa a cor da pele. Pro Carrefour, meu repúdio. Pra Milena, meus sentimentos. Pro Beto, meu nó na garganta. Pra você, que não se acha racista, meu pedido: reflita. Cada um de nós é potência pra mudar essa realidade.



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