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Comércio sobre rodas

Com mais de mil unidades no estoque, artesão vende imagens religiosas a bordo de ônibus em Porto Alegre

Atualmente, Argemiro Kissel, 55 anos, expõe estátuas de gesso no bairro Aberta dos Morros

15/12/2020 - 09h45min

Atualizada em: 15/12/2020 - 12h44min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Artesão Argemiro Kissel, 55 anos, vende estátuas na Avenida Edgar Pires de Castro

É na Avenida Edgar Pires de Castro que fica estacionado o veículo mais abençoado do bairro Aberta dos Morros, zona sul de Porto Alegre. São Jorge, Nossa Senhora Aparecida, Jesus Cristo, Buda, Preto Velho e Xangô dividem o mesmo ambiente: o ônibus do artesão Argemiro Kissel, 55 anos. O número de imagens religiosas ultrapassa mil, contabiliza o criador das esculturas.

— Chama atenção de todo mundo. E o ponto é meu marketing, ao lado do quebra-molas, onde todo mundo precisa frear e passa olhando o ônibus — conta.

Polaco, como é conhecido na região, instalou seu ateliê itinerante na atual localização no início de dezembro. Diz respeitar áreas proibidas e evitar estacionar em frente a estabelecimentos que revendem suas obras. Na época de festas, como fim de ano e celebrações de Iemanjá e Páscoa, leva o ônibus a diferentes endereços.

Dias e noites, o artista passa dentro da casa sobre rodas, comprada em 2015 e adaptada por ele próprio ao estilo motor home, com cama, armários e pia. O forro ganhou revestimento em PVC, e as paredes foram forradas com madeira.  

— Embrulhar e desembrulhar tudo dá muito trabalho. Assim, monto as coisas na rua e, quando paro de trabalhar, só trago de volta, fecho a porta e deu — acrescenta.

Nos dias de chuva, trabalha na produção das peças de gesso: colocadas em um molde de silicone, precisam descansar um bom tempo até a secagem completa. A quantidade de dias depende se a estatueta é oca ou maciça. Na sequência, as obras são seladas, pintadas, envelhecidas para terem um aspecto amadeirado e envernizadas. O trabalho em tantas etapas garante maior resistência, afirma.

Os objetos são vendidos a partir de R$ 5 e podem chegar a R$ 1,6 mil, no caso de um monumento com quase dois metros de altura, feito sob encomenda. Os trabalhos mais valiosos levam quase duas semanas para ficarem prontos, desde o primeiro processo até o retoque final. Exposta, a peça mais cara era vendida a R$ 320 nesta segunda-feira (14) — valor que pode sempre ser negociado, garante o comerciante.

— Estou vendendo bem agora, e o que mais sai é São Jorge e Nossa Senhora, a padroeira. O problema foi no meio da pandemia, quando me endividei. Aproveitei para fazer formas e produzir bastante — relembra.

O ônibus pode ficar fora da "rota religiosa" em 2021: para ajudar o irmão mais novo, deficiente visual, Polaco planeja vender o veículo. O objetivo é arrecadar R$ 23 mil e comprar um dispositivo que dá mais autonomia a quem o usa. O equipamento é ativado por voz e, acoplado à armação dos óculos, ajuda na leitura de textos e no reconhecimento de rostos. Uma vaquinha virtual, que pode ser acessada neste link, foi criada para chegar ao valor, o que possibilitaria a aquisição do item sem negociar o ônibus.

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