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Ações do governo

Contra segunda onda da pandemia, RS abre novos leitos, reforça saúde primária e impõe restrições

Medidas começaram a ser adotadas nos últimos dias para evitar o caos hospitalar

04/12/2020 - 08h44min

Atualizada em: 04/12/2020 - 08h47min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Jefferson Botega / Agencia RBS

Para responder à segunda onda da pandemia no Rio Grande do Sul, que já registra mais infecções e internações hospitalares do que no inverno, o Palácio Piratini deu a largada a um processo de abrir leitos em hospitais, reforçar a saúde primária de municípios turísticos e impor mais restrições de mobilidade.

As medidas começaram a ser adotadas nos últimos dias para evitar o caos hospitalar — situação vivenciada no Rio de Janeiro, onde a população está em fila de espera para receber atendimento em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). A letalidade do coronavírus, alertam médicos, dá um salto quando o indivíduo não recebe atendimento.

No histórico da pandemia, o Rio Grande do Sul está entre os 10 Estados onde, proporcionalmente, menos pessoas se infectaram e morreram. Contudo, o cenário piorou em novembro e, na última semana, há mais infecções em relação ao número de habitantes do que em países como Espanha e França. O RS também está, nos últimos dias, com uma das maiores taxas de crescimento de novos casos e de mortes do país, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES).

A GZH, o governador Eduardo Leite afirma que o governo atua para frear a expansão do vírus por meio das restrições de mobilidade, pelo sistema de bandeiras, enquanto reforça a estrutura hospitalar.

— Com o modelo de distanciamento controlado, emitimos alertas à população e buscamos reduzir a velocidade de propagação. Alertamos as pessoas e, inclusive, tivemos bandeira vermelha antes do primeiro turno das eleições. De outro lado, trabalhamos junto a hospitais para viabilizar a estrutura necessária a quem ficar mais debilitado em função do coronavírus — observa.

O indicador que calcula a ocupação de UTIs atingiu o pior nível desde o início da pandemia, enquanto o número de casos e o uso de leitos clínicos (casos menos graves) é o maior desde o inverno. Secretária de Estado da Saúde, Arita Bergmann diz que há crescimento exponencial do vírus em território gaúcho:

— A taxa de ocupação de leitos nunca esteve neste patamar. Temos 80,6% de ocupação de UTIs. Paralelo ao pico de ocupação de leitos de UTI por covid, também temos pico de ocupação muito grande de pacientes em leitos de UTI não covid. Estamos em situação preocupante. A máscara, assim como o cinto de segurança e a cadeirinha do bebê no carro, são cuidados obrigatórios neste momento.

Entenda, a seguir, as principais medidas do governo para lidar com a segunda onda — ou, como preferem alguns analistas, a piora da primeira.

Novos leitos de UTI

Uma nova corrida para a abertura de vagas de UTI vem sendo operada nos últimos dias por governo do Estado, hospitais e municípios. A SES deu a largada na abertura de 190 leitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) focados em coronavírus. O processo deve ser concluído até o início de janeiro. A expansão é de cerca de 7% frente aos 2.538 mil leitos públicos e privados já existentes hoje.

No inverno, o Piratini já dobrara o número de vagas de UTI no sistema público — havia, antes da pandemia, 953 leitos intensivos pelo SUS e, após a expansão finalizada em janeiro de 2021, haverá cerca de 2 mil.

Dos 190 novos leitos, 113 não existiam no inverno e, segundo Arita, devem funcionar na semana que vem. Dentre os beneficiados, estão o Hospital Vila Nova de Porto Alegre, o Hospital Bom Pastor de Ijuí, o Hospital São Vicente de Paulo, em Cruz Alta, e o Hospital Regional de Santa Maria.

Os 77 leitos restantes estão sendo reativados — isto é, quando a pandemia melhorou, foram destinados a pacientes com outras doenças, cujo atendimento ficara em suspenso durante meses. Agora, as vagas voltam a ser focadas a tratar casos graves de coronavírus. É o caso do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), do Hospital de Taquara e do Hospital de Montenegro.

— Começamos 10 dias atrás a reabrir leitos de UTI para covid e teremos 113 novos, a maioria funcionando já na semana que vem. O cenário de hoje é mais preocupante do que no pico da primeira onda — cita a secretária.

Leite explica que abrir hospitais de campanha não faz parte da estratégia porque não faltam vagas para esse tipo de estrutura, focada em pacientes menos graves:

— Em hospital de campanha, se viabilizam leitos clínicos, não de UTI, e não temos problemas de ofertas de leitos clínicos no Estado. Optamos por fazer investimento na rede hospitalar, o que tem garantido atendimento a todos. Ainda assim, há limite de expansão.

Mais restrições de mobilidade

O modelo de distanciamento controlado prevê restringir a mobilidade da população quando o cenário de uma região piora. Nesta semana, o governo foi além e suspendeu a cogestão, que permitia a prefeituras ter regras mais brandas do que as estipuladas pelo Piratini, se apresentassem um plano sanitário detalhado.

Ainda foi feita uma série de proibições aos gaúchos para reduzir as chances de reuniões com muitas pessoas sem máscara. A vigência é de 15 dias, mas as medidas podem perdurar se a pandemia não der trégua. Dentre as decisões, está proibido sentar-se com outras pessoas em praias, praças ou parques — é permitido apenas transitar e praticar exercícios.

Comércios tiveram funcionamento restringido das 22h para 20h, música ao vivo em bares e restaurantes está proibida, reuniões em salão de festa estão vedadas e teatros e cinemas em ambiente fechado também não podem funcionar.

Apoio da BM para fiscalização

Garantir que a população gaúcha não irá se reunir em praias, parques e praças é uma das maiores dificuldades que prefeitos vêm expressando nos últimos dias. Para auxiliar na vigilância, o Piratini deu a orientação, na segunda-feira (30), para que todos os batalhões da Brigada Militar se colocassem à disposição dos prefeitos.

— Temos a expectativa de que as medidas tomadas agora serão suficientes para reduzir o contágio. Não estamos dizendo para as pessoas ficarem em casa. Estamos pedindo para se cuidarem. As atividades que geram mais aglomeração devem ser evitadas. Se nada fosse feito agora, chegaríamos na segunda quinzena de dezembro, quando haverá muitos encontros, com mais pessoas contaminadas, o que geraria uma explosão de casos. Pedimos a colaboração das pessoas — diz o governador.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que não há um número fechado de brigadianos que irão atuar na fiscalização, mas que o efetivo vai operar conforme a demanda das prefeituras e que toda a BM está orientada a prestar o apoio necessário. 

A pasta cita que, neste fim de semana, haverá reforço do policiamento no Litoral para orientar a população. Além do efetivo regular, a BM vai empregar 30 homens do 1º Batalhão de Polícia de Choque e 118 alunos soldados para informar os gaúchos, em especial quanto à restrição de ficar na faixa de areia das praias.

Dinheiro saúde em cidades turísticas

Em meio à esperada migração em massa de gaúchos para cidades turísticas e menos viagens a Exterior ou outros Estados, o governo antecipou a tradicional Operação Verão. O programa irá repassar R$ 5,9 milhões a 46 municípios da Serra, da Fronteira e do Litoral e a hospitais que costumam receber veranistas durante a alta temporada. A novidade é incluir cidades de fora da costa.

O dinheiro será usado para fortalecer unidades básicas de saúde, emergências e UTIs hospitalares, vigilância em saúde (contratar pessoas para fiscalizar bares e restaurantes) e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Na semana passada, a primeira parcela, de R$ 1,8 milhões, foi repassada. A segunda deve chegar em dezembro. Tramandaí, por exemplo, recebeu R$ 150 mil para reforço na vigilância e outros R$ 150 mil foram para o hospital da cidade. O Estado também emprestará cinco ambulâncias para o Litoral Norte e enviará 12 respiradores para hospitais da região.

— Investimos em várias ações, mas todo o esforço do governo com hospitais e apoio do Ministério pode morrer na praia se as pessoas não tiverem responsabilidade, atitude e cuidado com a saúde — reforça Arita.

O que dizem as prefeituras?

A maior ajuda que o governo do Estado precisa fornecer às prefeituras é efetivo para fiscalizar aglomerações, afirma o presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Maneco Hassen.

— Com as novas normas, nas quais a fiscalização precisa ser mais atuante, não há como municípios darem conta sozinhos se o governo do Estado não participar. É impossível cumprir a norma de não ter aglomeração na beira da praia sem Brigada Militar, Bombeiros, Polícia Civil e Vigilância Sanitária. O governo pode aumentar horas-extras e criar convênios. Também sugerimos solicitar o apoio do Exército, mas para isso o Estado precisa pedir à Presidência da República — afirma o presidente da Famurs.

Questionado por GZH, Leite descartou a possibilidade de convocar o Exército por acreditar que os brigadianos são suficientes para a tarefa:

— O Exército tem sido solícito ajudando com estrutura e logística ao longo da pandemia. Não me parece ser o caso de usar para fiscalização nas ruas, não é o treinamento que eles têm. Entendo que apoio da BM é suficiente para garantir a fiscalização.

O presidente da Famurs diz que confia na projeção do governo do Estado de que 190 novos leitos de UTI serão suficientes para a segunda onda, mas pede que o Piratini reforce a campanha de conscientização dos gaúchos.
 

Para denunciar aglomerações

O governo do Estado criou um disque 150 para a população denunciar festas clandestinas ou grandes aglomerações. 


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