Coluna da Maga
Magali Moraes: romantizar o cansaço
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Não faz mais isso, tá? Digo pra você e repito pra mim. A gente romantiza o cansaço cada vez que fala que é guerreira, que dá conta de tudo e acredita nisso. Quando nos achamos super heroínas querendo resolver tudo ao mesmo tempo, conciliando com perfeição casa, trabalho, família. E ainda sendo lindas, maravilhosas, cheirosas, com as unhas impecáveis e o cabelo bem tratado. Cansadas mas vitoriosas, poderosas e incríveis, sabe assim? Chegaaaaa! Não dá pra assumir o cansaço?
É tipo uma síndrome da Mulher Maravilha Esgualepada. E adivinha? O fenômeno atinge muito mais as mulheres do que os homens. Pensa comigo: nós crescemos ouvindo que é da condição feminina se virar nos 30 e se equilibrar na corda-bamba sem derrubar nenhum pratinho. Mentira, gente! Quem inventou essa balela e nos convenceu disso? Mulher cansa, e muito. Fica esgotada, perde o sono, sofre de estresse e se sente culpada por não estar correspondendo às expectativas dos outros.
Afundar
Pra mudar algo errado, primeiro a gente precisa se dar conta disso. Romantizar o cansaço é nos afundar mais e mais nesse papel da guerreira. Ei, avisa aí que você tá cansada e precisa descansar. Que daria tudo por um belo cochilo agora mesmo. Que toda ajuda é super bem-vinda. Aprende a delegar, guria! Ensina a turma a te ajudar. Vamos combinar de fazer uma coisa de cada vez? Para e respira! Aceita que você não é perfeita (e nem quer ser). Deixa claro pra todo mundo que 2020 te exigiu demais.
Eu tô oficialmente cansada. Na capa da gaita. O farelo da bolacha. Mais retorcida que pano de chão depois da faxina. Não foi à toa que escolhi esse assunto pra hoje: chegamos em 14 de dezembro, metade do último mês do ano. A próxima quinzena vai ser ainda mais corrida. Então me promete que você vai se economizar. Reconhecer o seu cansaço é tirar um peso dos ombros. Acha um tempinho pra fazer nada e relaxar. Te joga no sofá. Ronca até babar. Guerreira invencível nunca mais.