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Suspeita no gabinete

Deputado gaúcho é acusado de usar equipe em reforma de casa na zona sul de Porto Alegre

Ex-assessora afirma que servidores teriam trocado piso, reformado banheiros e feito a pintura da residência

15/02/2021 - 09h05min


Giovani Grizotti
Giovani Grizotti / Agência RBS
Ex-assessora Cristina Nebas apresentou acusação contra Ruy Irigaray ao Ministério Público

Uma ex-assessora do deputado estadual Ruy Irigaray (PSL) acusa o parlamentar de utilizar funcionários do gabinete na Assembleia Legislativa para reformar uma casa na zona sul de Porto Alegre em horário de expediente. Corroborada por outra ex-servidora do político, a acusação foi apresentada neste domingo (14), no Fantástico, em reportagem da RBS TV. Vídeos, fotos e mensagens de Whats­App indicam, ainda, que a delatora trabalhou como babá e até empregada doméstica da família do parlamentar, enquanto deveria estar a serviço do mandato.

O epicentro do caso é uma residência no bairro Ipanema. Desde abril passado, o imóvel se tornou escritório do deputado. Em vez de trabalharem remotamente em suas casas, servidores comissionados foram remanejados para o local. A ex-assessora Cristina Nebas afirma que a casa chegou a abrigar 15 servidores, que, além das tarefas de gabinete, executariam também serviços no imóvel, como troca de piso, reforma de banheiros e pintura. Os assessores citados têm salários que variam de R$ 2,7 mil a R$ 9 mil.

— Alguns entraram para fazer exclusivamente a reforma da casa — diz Cristina.

A ex-assessora afirma que ela e os colegas tinham também de arrumar a casa, executar serviços de limpeza e até limpar as fezes do cão da família. Ela guarda vídeos e fotos no celular. As imagens trazem datas e horários e foram analisadas, a pedido da reportagem, pelo especialista em tecnologia Ronaldo Prass.

— Cristina chegava às 7h e fazia toda a limpeza, lavava, recolhia o cocô dos cachorros —reforça outra ex-assessora.

Ambas prestaram depoimento ao Ministério Público (MP) sobre o caso. Cristina também afirma que cuidava das duas filhas do político. Em horário de expediente, diz, teria levado as meninas para aulas de inglês, partidas de beach tennis e para passeios. Cristina afirma que recebia orientações da esposa do deputado, Laura Irigaray, por meio do WhatsApp. O aplicativo também seria utilizado para prestar contas das atividades paralelas. Por fotos e texto, Cristina manteria o casal informado da rotina da casas e das filhas. A autenticidade dos registros também foi aferida por Ronaldo Prass.

— O uso de pessoal de gabinete não pode jamais confundir-se com funções particulares. Serviços que são de cunho particular jamais podem ser feitos por funcionário de gabinete parlamentar — avalia José Luiz Blaszak, advogado especialista em direito administrativo.

Fake news

Cristina também relata a suposta existência de um sistema de fake news no escritório. Ela mostra supostas mensagens trocadas com o deputado para indicar o funcionamento do esquema, que, segundo ela, teria mais de 50 telefones celulares. Ela mostra uma foto em que aparecem 22 aparelhos, que seriam utilizados para monitorar grupos de conversas e postar notícias falsas e acusações contra integrantes do próprio partido do deputado, o PSL.

A ex-assessora mostra mensagens para sustentar que perfis falsos foram criados em redes sociais para alimentar o sistema. Uma das contas, aberta em nome de Adilson, mostra uma postagem com ataques ao deputado federal Bibo Nunes (PSL). Bibo pediu abertura de investigação ao MP sobre o caso. Cristina Nebas relata ainda suposta existência de esquema de rachadinha no gabinete. Ela afirma não ter aceito dar ao deputado parte do salário, mas que parte dos colegas teria se submetido à prática.

Confira a nota do Ministério Público

Contraponto

O que diz o deputado estadual Ruy Irigaray (PSL)

À reportagem, o parlamentar negou as acusações da ex-assessora. Irigaray disse nunca ter solicitado ataques a Bibo Nunes e disse que o relato é movido por interesses políticos. Irigaray também nega a existência de rachadinha no gabinete:

— Não faço esse tipo de prática e não tenho necessidade disso. Mesmo se tivesse, não faria.

Questionado sobre os serviços não relacionados ao mandato, o deputado deu outra versão:

— Ela (Cristina) se prontificou para fazer esse tipo de atividade. E outra coisa, ela recebeu por isso, tá? Inclusive, se não me engano, ela ganhava R$ 100 cada vez que pegava e levava as meninas, quando a minha esposa fez uma cirurgia.


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