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Trens lotados, álcool gel em falta e lavatórios quebrados: as principais reclamações dos usuários do trensurb

Reportagem visitou estações de Porto Alegre a Novo Hamburgo na manhã desta sexta (12) para registrar como está funcionando o modal durante a pandemia e coletar relatos

12/02/2021 - 21h18min


Alberi Neto
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Vitor Rosa
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Lauro Alves / Agencia RBS
Embarque em Sapucaia do Sul

Utilizar o transporte público durante a pandemia é uma exposição ao coronavírus que muitas pessoas são obrigadas a correr. Para minimizar os riscos, quem oferece o serviço deve respeitar normas como lotação máxima, distanciamento e higienização de veículos. No trensurb, porém, usuários estão reclamando desses pontos.

Conforme passageiros que precisam embarcar nas composições que circulam entre Porto Alegre e Novo Hamburgo, passando por Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul e São Leopoldo, a superlotação dos vagões tem sido o maior problema. A Trensurb, no entanto, afirma que a lotação tem se mantido entre 40% e 50% da demanda normal (pré-pandemia), e a disponibilidade de trens é quase igual.

Nesta sexta-feira (12), a reportagem de GZH rodou por seis estações da Trensurb, uma em cada cidade pela qual o trem circula. Além da lotação dos trens, foi verificada a presença de álcool gel nas plataformas de embarque, a disponibilidade de lavatórios e as condições dos banheiros dos locais. E o saldo não é positivo.

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Nos pontos em que a reportagem esteve, álcool gel nos dispensers espalhados pelas estações é item raro. Somente na Estação Canoas havia disponibilidade do produto em um equipamento. No mesmo espaço, entretanto, o banheiro masculino estava fechado para o público.

Distanciamento social é uma norma impossível para quem utiliza o sistema durante os momentos de pico, no início da manhã e final da tarde. Pouco depois das 7h, por exemplo, os trens chegavam à Estação Mercado, a mais movimentada do sistema, com muita gente aglomerada desembarcando pelas escadas. Pouco passageiros aguardam até que o movimento diminua. Dentro das composições, não há espaçamento entre assentos e muitas pessoas ficam próximas, de pé. Em dias úteis, cerca de 12 mil pessoas circulam pelo espaço – a segunda estação mais movimentada, a Canoas, fica bem atrás, com 7,9 mil usuários por dia útil.

Para Jairo Lopes, 61 anos, que se desloca entre Canoas e Porto Alegre, o problema é mesmo mais grave nos horários de pico:

– É muita gente dentro dos vagões nesse início de manhã. Final da tarde também é muito complicado.

Na Estação Mercado, assim como na outra ponta do sistema, em Novo Hamburgo, equipes de limpeza embarcam nos trens sempre que eles chegam e fazem a higienização para a próxima viagem.

Lavatórios

Lauro Alves / Agencia RBS
Nem todos os lavatórios automatizados estão funcionando

Enquanto esperava o trem no sentido Porto Alegre-Novo Hamburgo, o professor Paulo Leandro Souza, 55 anos, contou que a falta de álcool gel e os lavatórios estragados na Estação Mercado são o maior problema que ele encontra diariamente. Paulo vai até Esteio, onde dá aulas de História. Somente no ponto de desembarque ele encontra lavatórios funcionando.

Os lavatórios foram instalados pela Trensurb nas estações no início da pandemia. São duas grandes pias metálicas com torneiras automatizadas, assim como os equipamentos que liberam sabão e papel toalha. Porém, boa parte já está depredada – assim como Paulo, a reportagem só encontrou pias funcionando na Estação Esteio.

A administradora Daniela Medeiros, 31, sai de Butiá diariamente para trabalhar na Capital. Apesar de utilizar o trajeto somente entre as estações Rodoviária e Mercado, ela aponta para a falta de álcool gel e os lavatórios estragados como algo que incomoda. Nos banheiros visitados pela reportagem havia sabão líquido disposto de forma improvisada em garrafinhas de água ou de isotônicos. Foi a única medida para higienização encontrada na maioria dos locais visitados.

– Álcool gel nunca tem, muito difícil de achar – garante Daniela.

Na Estação Sapucaia, em Sapucaia do Sul, havia uma pia para lavagem de mãos. Os reservatórios de álcool gel, no entanto, estavam vazios.

Aglomeração

No sentido Novo Hamburgo-Capital, a situação é mais complicada no início da manhã. Na Estação São Leopoldo, por exemplo, por volta das 7h, os trens passavam lotados.

Gilsonmar de Britto, 60 anos, aguardava sentado pelo trem desde as 6h40min. Alguns já tinham passado, mas ele aguava por um do modelo acoplado, com maior espaço e, consequentemente, onde se sente mais seguro em relação ao risco de contaminação pelo coronavírus. Após 40 minutos, desistiu: pegou um trem simples e dividiu espaço ombro a ombro com outras pessoas, em pé, para não perder a hora no serviço em Porto Alegre.

– Muita falta de organização. Espaço é grande, mas aperta sempre. Tenho que trabalhar, não adianta – observou.

Na Estação Sapucaia, por volta das 8h10min, o movimento já era menor, mas muita gente ainda aguardava pelo trem. Trabalhadora da área de vendas, Schaiane Fontes, 27, fez uma reclamação que também é motivo preocupação: pessoas que sem máscara.

– Já vi gente sem máscara dentro, entrando sem, gente que é só a porta (do trem) abrir e já tira a máscara, ou então pessoas com a máscara no queixo. Isso a gente vê quase todo dia, não tem jeito.

Um operador de trem que conversou com GZH contou que esperava mais bom senso das pessoas:

– Todo dia alguém reclama que tem gente sem máscara. Não adianta, as pessoas não se conscientizam e não temos como cuidar o tempo todo.

Desafios para PCDs

As estações do trem têm plataformas de embarque sempre acessadas por escadas. Em boa parte delas, há escadas rolantes. Para cadeirantes, o desafio é grande.

A Trensurb disponibiliza um equipamento que auxilia no transporte dos cadeirantes pelas escadas, mas não há equipamento em todos os locais. Em muitos casos, são os seguranças metroviários quem carregam, manualmente, o passageiro.

– Desço na Estação Farrapos, normalmente. Mas, tem locais em que já fiquei ilhado na plataforma, muito tempo esperando até conseguir auxílio para sair – conta o analista de sistemas Renato Rosa, 33 anos, que mora em Canoas e se desloca diariamente para Porto Alegre por causa do trabalho.

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Professor em curso pré-vestibular em Porto Alegre, Edmilson Freitas, 57 anos, é morador de Esteio, mas atualmente está em Canoas. Nos dois locais, usa o trem para chegar à Capital. Com deficiência visual, ele elogia o auxílio dos seguranças metroviários no embarque e no desembarque, mas aponta que a acessibilidade poderia ser melhor.

– Quando chego aqui, alguém me conduz até o embarque e avisam onde vou descer, aí alguém me espera lá. Só que, se tem um ruído nessa comunicação, pois passa por várias pessoas, é um problema. E nessa hora a gente fica perdido – cita Edmilson.

O que diz a Trensurb

Álcool gel: a assessoria de imprensa da Trensurb explica que a companhia está com processo de compra do produto gel para reposição nas estações, mas não deu previsão de quando isso ocorrerá.

Lavatórios: a empresa diz que "infelizmente, os lavatórios têm sofrido com vandalismo e furto de peças, principalmente os sensores que automatizam a ligação da torneira e da liberação de sabão e papel toalha".

Banheiros: quanto ao problema no banheiro da Estação Canoas, a Trensurb explica que houve vazamento, mas que ele seria consertado ainda nesta sexta-feira (12).


Lotação: a Trensurb avalia ainda que, com a demanda reduzida (que tem se mantido entre 40% e 50% da demanda normal), a oferta atual de trens nos horários de pico (até 25 trens rodando simultaneamente, muito próxima da oferta normal pré-pandemia, com até 26 trens simultâneos) é suficiente para atender a determinação do governo do Estado que limita a ocupação dos veículos em 50% de sua capacidade – o que corresponde a três passageiros por metro quadrado.

A empresa informa também que realiza monitoramento constante da situação, posicionando trens reservas ao longo da via para que entrem em operação nos horários de pico em caso de necessidade.

A Trensurb orienta ainda que os usuários fiquem atentos ao uso de toda a área de parada dos trens nas plataformas enquanto aguardam o embarque, especialmente no caso de composições acopladas. Do contrário, pode haver concentração de passageiros nos carros centrais, enquanto outros ficam mais vazios. Avisos sonoros nas estações reforçam essa orientação – além de divulgarem uma campanha de conscientização desenvolvida pela empresa desde março em relação às medidas de prevenção à covid-19.

Por fim, quando possível, é importante que os usuários evitem os horários de pico.

Uso de máscara: na medida do possível, os agentes de estação e seguranças posicionados junto à linha de bloqueios (catracas) verificam o uso de máscara por parte dos usuários. Isso também é feito nas rondas da segurança pelas estações e trens. Eventuais usuários sem máscara são lembrados de que o uso é obrigatório e orientados para que façam o uso dela.

Os usuários do sistema também podem denunciar o descumprimento do uso de máscaras pelo telefone de emergência 3363-8026 e por SMS para o número exclusivo para denúncias ou emergências: 51 98463-9863.  As denúncias são atendidas pela equipe de segurança.

Ouça a entrevista do diretor-presidente da Trensurb, Pedro Bisch Neto, ao Gaúcha+

As estações visitadas

  • Mercado: nos trens que chegavam em Porto Alegre no início da manhã, muita aglomeração nos desembarques, principalmente, para sair das estações. Dentro das composições, apesar de não haver superlotação, o distanciamento era inexistente. Não há álcool gel disponível e o lavatório na plataforma está estragado.
  • Canoas: movimento mais tranquilo por volta das 8h, mas com pouco distanciamento entre usuários. Havia apenas um dispenser com álcool gel no local, abastecido. O banheiro masculino estava fechado.
  • Esteio: entre os locais visitados, apresentou boas condições. Os lavatórios na entrada estação funcionam perfeitamente. Os dois banheiros também estavam abertos para uso. Perto das 9h, a situação era mais calma, ainda assim, havia um número considerável de usuários esperando pelo trem.
  • São Leopoldo: local com espaço para que as pessoas ficassem distantes umas das outras na plataforma de embarque, o que era respeitado de forma implícita pelos passageiros, já que não havia marcas no chão. Todos usavam máscara. No momento da chegada do trem, no entanto, a situação mudou: boa parte das pessoas foi para as mesmas portas, o que causou aglomeração.
  • Sapucaia: com uma estrutura mais antiga, o local tem menos espaço para que as pessoas possam se manter distantes em comparação com a de São Leopoldo. Ainda assim, os usuários não se aproximavam uns dos outros, e a cena de aglomeração só se repetiu na hora da entrada no veículo. Havia, também, uma pia para lavagem de mãos no meio da plataforma de embarque. Os reservatórios de álcool gel, no entanto, estavam vazios.
  • Novo Hamburgo: a última visitada pela reportagem, já às 9h20min. Com movimento muito menor, havia tranquilidade na entrada dos passageiros e bom espaço na plataforma - que é ampla e bem iluminada. Os reservatórios de álcool estavam cheios, e as pias, funcionando. Quando os trens chegavam, não havia aglomeração.

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