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Efeitos da pandemia

Comerciantes relatam desafios de manter portas fechadas com bandeira preta no RS

Empreendedores de setores não essenciais estão novamente sem poder trabalhar. Cenário se repete após quase um ano de pandemia

17/03/2021 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Isadora Neumann / Agencia RBS
Locais com atividades não essenciais estão impedidos de atender

Parecia que as coisas estavam se alinhando, com alguns setores da sociedades adaptados ao "novo normal". Mas um aumento vertiginoso da contaminação pelo coronavírus nos primeiros meses de 2021 fez um cenário que parecia superado e distante se repetir: o fechamento do comércio não essencial. Um dos períodos mais duros para os empreendedores, principalmente, de pequenos negócios, retorna um ano após o início da pandemia no país. 

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Agora, com o Rio Grande Sul todo classificado sob a bandeira preta no programa de Distanciamento Controlado, estruturas como lojas de roupas, bazares, salões de beleza, academias, entre outros, não podem atender aos seus clientes. Para quem tem esse trabalho como única fonte de renda, a projeção é de dias difíceis pela frente, pois o cenário deste ano é ainda mais grave do que em 2020, com o país ultrapassando a marca de 280 mil mortes em razão da covid-19.

Na zona sul de Porto Alegre, um bairro que tem forte economia local sente os efeitos da bandeira preta. Pelas ruas da Restinga, comércios enquadrados como não essenciais se enfileiram em pontos importantes, como na Avenida Nilo Wulff, uma das principais do bairro. Há quase 10 anos, Maria Eloina Martins, 47 anos, trabalha com comércio na região. Há cinco anos, conseguiu inaugurar sua própria loja, a Boutique Sonho de Mulher, com sede na conhecida avenida da comunidade. Agora, Elô, como é mais conhecida, lamenta ter de fechar as portas novamente em menos de um ano. 

Incerteza

Além dela, ainda há uma funcionária que trabalha no local. Em 2020, quando as atividades paralisaram pela primeira vez, Maria conseguiu enquadrar a empregada nas medidas provisórias que permitiam redução de jornada. Mas, desta vez, ainda não sabe o que será possível fazer.

— Fechamos sem perspectiva de reabrir. A situação da doença está muito grave, então, com esse aumento de casos, creio que teremos dificuldades para sair da bandeira preta. Porém, também não dá para saber até quando podemos sobreviver com as portas fechadas — lamenta Elô.

Além das despesas comuns do trabalho na loja de artigos femininos, Maria Eloina ainda lida com o pagamento de aluguel do espaço ocupado, atualmente, sem uso. Próximo da boutique de Elô, sua filha, Daiane, 29 anos, também mantém um loja de moda feminina e masculina. O estabelecimento é outro que segue fechado desde que vigorou a bandeira preta em todo Estado.

— Nesse momento, estamos trabalhando pelas mídias sociais, como WhatsApp, Facebook e Instagram. Nossas vendas estão sendo realizadas por telentrega. Porém, estamos conseguindo vender 90% menos do que vendíamos presencialmente. Está sendo bem mais difícil, o movimento diminuiu muito — explica Maria Eloina.

Isadora Neumann / Agencia RBS
Elô segue com a loja fechada desde que bandeira preta entrou em vigor

Reforma

Na expectativa de uma melhora no cenário econômico, Paloma Mylena Corrêa,  34 anos, ampliou o salão de beleza que administra na Tinga. Além dela, outras duas pessoas trabalhavam no espaço. A reinauguração ocorreu no dia 13 de fevereiro. Menos de 15 dias depois, as portas precisaram ser fechadas pelos novos decretos estaduais. Agora, todos estão em casa, apreensivos pela falta de previsões sobre uma amenização na gravidade do quadro da pandemia no país.

— Há nove anos trabalho aqui na Restinga nessa área de beleza. Consegui ampliar, colocar mais funcionários, mas agora, tudo fechou de novo. Respeitando as regras, acredito que poderíamos continuar atendendo. Como autônoma, se não trabalho, não tiro nem para comer. Na situação atual, acredito que 30 dias é o suficiente para fecharmos as portas de forma definitiva — desabafa Paloma.

Em outro ponto da Tinga, o casal Darlane da Silva Teixeira, 54 anos, e Flávio Teixeira, 51 anos, mantém uma escolinha de futebol há 10 anos. O negócio atende cerca de 150 crianças entre três e 17 anos e foi afetado em cheio pela pandemia. Durante o ano passado, os trabalhos presenciais ficaram suspensos por seis meses. 

Cobrando apenas metade da mensalidade, os professores ofereceram aulas online. Mas só com o retorno dos encontros presenciais as coisas começaram a normalizar. Agora, com o novo fechamento, o casal preocupa-se com o futuro do trabalho e dos sete funcionários que fazem parte da estrutura da escolinha.

— O que nos afeta mais nem é tanto a questão financeira, mas o nosso lado psicológico. Ficamos neste abre e fecha, sem vacina, aumento vertiginoso dos casos. Isso sim nos deixa abalados, sem saber como será nosso futuro. Se algum dia será como era antes ou não — diz Darlene.

Isadora Neumann / Agencia RBS
Determinação busca reduzir o número de pessoas circulando

Problemas também no Litoral

Não só quem depende da atividade comercial em pontos como Porto Alegre e Região Metropolitana está passando por dias difíceis. No Litoral Norte, onde aglomerações marcaram períodos como as festas de final de ano e, principalmente, o Carnaval, a situação também está complicada. Daniel Santana de Oliveira, 41 anos, tem uma loja de moda masculina em Tramandaí. 

Na primeira onda de fechamentos da pandemia, precisou interromper os trabalhos por dois meses. Agora, ele vê o segundo fechamento como um novo golpe nos comerciantes no momento em que ainda se recuperavam do primeiro. Para Daniel, a circulação, principalmente, no Litoral Norte, era feita com descuido nas idas a praia e nas aglomerações e festas durante a noite. O risco é menor em espaços com cumprimento de normas e obedecendo regras de distanciamento social, acredita o comerciante.

— Olha, está bem complicado. Foi o pior verão em questão de movimento. As pessoas se aglomeravam na praia, mas tinham medo de entrar em lojas. Agora, ainda teremos mudança de estação. Sem poder abrir a loja, conseguir trocar os estoques será complicado. Não sei se é possível manter chegar a manter sequer mais dois meses fechado — projeta o lojista.

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