Em uma semana
Ônibus têm redução de 20% no total de usuários com decreto que proíbe passageiros em pé em Porto Alegre
Principais reclamações são de demora nas paradas à espera de veículo com assento livre. Nesta quinta-feira, diretor-presidente da EPTC circulou com a reportagem de GZH por alguns pontos
Moradora da Restinga, no extremo-sul de Porto Alegre, Ana Cardoso, 62 anos, se desloca diariamente para o bairro Cavalhada, onde trabalha como doméstica. Para chegar ao emprego, sai de casa por volta das 8h e retorna no fim do dia. E é justamente neste último horário que ela se diz insatisfeita com o tempo de espera na parada de ônibus.
— Às vezes eu vou para parada às 17h30min e só vou conseguir subir no ônibus às 19h — conta.
A espera se deve a uma restrição imposta pelo mais recente decreto da prefeitura da Capital diante do avanço da pandemia: a proibição de passageiros em pé nos coletivos. Com a exigência, Ana vê uma série de veículos passar com todos os assentos ocupados, e o sinal para embarcar acaba sendo ignorado pelos condutores.
Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a restrição retirou 20% dos passageiros dos ônibus. Na semana passada, quando se podia levar usuários além dos acomodados nos bancos, a média de passageiros foi de 350 mil pessoas por dia. Na última terça (2), esse número caiu para 277 mil e, na quarta-feira (3), chegou a 279 mil.
A convite de GZH, o diretor-presidente da EPTC, Paulo Ramires, circulou com a reportagem por diversos pontos da cidade na manhã desta quinta-feira (4) e conversou com os usuários sobre suas demandas. Respondeu, inclusive, ao pedido de Ana:
— Essa demora que a senhora relata pode acontecer, pois o ônibus sai lotado do Centro e não para até chegar no bairro. A gente tem colocado reforço nessas linhas, usado carro reserva, mas é importante a senhora sempre comunicar ao telefone 118, para mapearmos o ponto — orientou.
O fechamento das atividades às 20h — por determinação de decreto do governo do Estado — é outro fator que influencia para a concentração da procura pelo transporte público entre o fim da tarde e início da noite, segundo Ramires.
Para a auxiliar de limpeza Graziela da Costa Marques, 43 anos, a maior dificuldade é logo cedo da manhã. Já passava das 8h, quinze minutos depois de chegar à parada, e ainda não havia passado o veículo que atende a região onde mora. Ela utiliza uma linha integrada alimentadora, que faz gratuitamente a ligação das ruas internas às vias principais da periferia.
— Demora. O ônibus está mais vazio, isso está bom, mas sempre demora. Eu venho pra parada, mas não sei quando passa — disse.
Questionada se utiliza o aplicativo TriPoa, ela demonstrou desconhecimento da plataforma.
— Tem um GPS, e dá para saber certinho a hora que o ônibus vai chegar — sugeriu Ramires.
Fiscalização reforçada
Desde as 6h45min, equipes da EPTC realizaram uma fiscalização próximo à rótula das avenidas Juca Batista e Edgar Pires de Castro, na Zona Sul. A abordagem confere se o veículo tem oferta de álcool gel, se circula com as janelas abertas e, principalmente, se é respeitada a lotação máxima permitida.
De 26 de fevereiro — quando entrou em vigor o novo decreto — até 3 de março, a EPTC aplicou nove autuações por superlotação dos ônibus municipais. Houve ainda uma multa por problemas na higienização do veículo e três por falta de manutenção ou irregularidade nos letreiros de informação.
Nesta quinta, nenhuma irregularidade foi constatada nos cerca de 30 minutos em que a reportagem esteve junto às equipes de fiscalização. Também não foram vistos passageiros em pé durante o trajeto.
Linhas como Lami, Belém Novo, Tristeza e Restinga chegavam com poucos lugares vazios ao ponto, mas ainda dentro do permitido.