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Faixa etária

Em três meses, mortes por covid-19 abaixo dos 60 anos superam 2020, na Região Metropolitana

Dados mostram que só nos primeiro trimestre deste ano, morreram 990 pessoas com menos de 60 anos. Em todo 2020, foram 809. Aumento é de 22,37%

07/04/2021 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Silvio Ávila / HCPA/Divulgação
Março foi o mais mais agudo da pandemia, com superlotações de hospitais, como o HCPA (foto)

Somente nos primeiros três meses deste ano, as mortes causadas pela covid-19 na região metropolitana de Porto Alegre em pessoas com menos de 60 anos somam mais do que o registrado em todo 2020. Nesta faixa de idade, nos 12 municípios pesquisados pela reportagem, foram 990 óbitos por coronavírus entre 1º de janeiro de 2021 e o último dia 28 de março. Em todo no ano passado, foram 809 registros  — aumento de 22,37%. A faixa etária que mais cresceu em número de óbitos foi dos 30 aos 39 anos. Em todo 2020, foram 91 mortes. Agora, somente nos três primeiros meses deste ano, já são 133 — aumento de 46,15%. 

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A faixa dos 40 aos 49 teve 39,69% mais mortes. E entre os 50 e 59 anos, o crescimento de óbitos foi de 14,69%. E se os números forem apenas entre zero e 49 anos, o aumento de mortes em 2021 em relação a todo 2020 é maior: 32,29% — com 353 óbitos em 2020, contra 467 em 2021.

Acima dos 60 anos, todas as faixas etárias apresentaram redução de mortes, sendo que a maior queda foi para pessoas acima dos 80 anos. Na faixa, em 2020, foram 1.206 óbitos, nos primeiros meses deste ano, são 812 — 32,66% a menos. Entre os 60 e os 69 anos, a redução foi 2,88%. E entre os 70 e os 79, de 12,46%.

As informações foram compiladas a partir do banco de dados Sivep-Gripe, do Sistema Único de Saúde (SUS). O documento reúne todos registros de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país, incluindo a covid-19. Os dados são atualizados semanalmente. A última atualização contém informações até o dia 28 de março. Para este levantamento, foram considerados somente os óbitos por covid-19 com informações completas sobre idade e data da morte. Por essa razão, o número é inferior aos dados mais recentes do Ministério da Saúde.

Até o dia 28 de março, eram 296.762 registros no banco de dados. Deste total, 19.286 foram óbitos ocorridos no Rio Grande do Sul — sendo 7.970 deles registrados na Região Metropolitana. Apesar de os dados compararem todo 2020 com os primeiros três meses deste ano, não há disparidade. Isso porque o primeiro trimestre de 2021 se demonstrou como o período mais letal da pandemia. Só na Região Metropolitana, das 7.970 mortes registradas até 28 de março, 3.970 — ou 47,5%, quase a metade — ocorreram neste ano.

Idosos

Como mostram os dados, a covid-19 alterou a curva de contágio por faixa etária nestes primeiros meses do ano, abrandando a ação sobre suas maiores vítimas, os idosos e pessoas com comorbidades. E apesar de as pessoas acima dos 60 anos ainda representarem a maior fatia dos óbitos, houve alterações neste patamar. Em 2020, as mortes entre zero e 59 anos eram 19,35% do todo. Neste ano, essa participação foi para 26,12% — variação de 6,77 pontos percentuais. Os falecimentos por covid-19 acima dos 60 anos foram de 80,64% no total em 2020, para 73,87% neste ano.

Dentro das faixas etárias, chama atenção a redução de mortes para pessoas acima dos 80 anos, maioria entre o público que já foi vacinado — tomando as duas doses e mais o tempo de espera para atingir a melhor eficácia do imunizante. A queda de 32,66% nos óbitos nesta faixa é um alento diante do primeiro trimestre complicado e, pode sim, ser um sinal inicial dos efeitos da vacinação, como explica o médico infectologista do Grupo Hospital Conceição (GHC), Luciano Lunardi.

— A vacinação pode ajudar a diminuir os óbitos nessa faixa etária (acima dos 80 anos). Infelizmente, como esses grupos têm maior número de comorbidades, ainda assim, a taxa de óbitos por 100 mil habitantes acaba sendo maior, mesmo com a diminuição no número absoluto de casos — pontua o infectologista.

E o aumento dos óbitos entre os mais jovens, conforme Luciano, pode estar ligado, entre outras razões, ao fato de este público ainda não estar recebendo vacinas, exceto aqueles que são população de risco, como profissionais da saúde: 

— Ainda tivemos um aumento da circulação e da exposição com as férias de verão e feriados, como o Carnaval. A maior parte da população está nessa faixa etária (abaixo dos 60 anos), por isso o aumento do número absoluto de casos.

Variante pode ser responsável

No mês passado, um estudo conduzido por cientistas do Rio Grande do Sul sugeriu que a cepa P1, originada em Manaus, pode estar predominante em Porto Alegre e relacionada à explosão de casos, hospitalizações e mortes por coronavírus no Estado a partir de fevereiro deste ano. 

Na análise, pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) investigaram o genoma de 68 amostras de Sars-CoV-2 — responsável pela infeccção da covid-19 — entre março do ano passado e fevereiro deste ano em pacientes atendidos no hospital, referência no Estado para casos graves da doença.  Das 27 amostras de fevereiro, 24 — quase 90% — eram da variante P1. 

A prevalência é muito maior do que em janeiro, quando, de 15 amostras, apenas uma continha a nova cepa detectada, primeiramente, no Amazonas. Antes de janeiro, a variante não havia sido encontrada no HCPA.

Fatores

Para o infectologista Alexandre Zavascki, médico no HCPA e professor de Infectologia na Faculdade de Medicina da UFRGS, chama atenção o "enorme número de mortes abaixo dos 60 anos" em apenas três meses do ano. Segundo ele, os dados acima do 60 anos, que tiveram redução, fazem sentido, já que o período comparado é de todo 2020. Entretanto, o aumento na faixa de até 59 anos anos é preocupante.

— Estamos buscando entender esse fenômeno (de aumento das mortes entre mais jovens). A presença da variante P1 é uma possibilidade com a qual estamos trabalhando muito, de maneira já concreta. A gente ainda não sabe ainda a real extensão dela, mas é possível que esteja sendo responsável pela maioria das infecções. E também por essa mudança no perfil da faixa etária das mortes, fazendo casos mais graves em pessoas mais jovens. Seja por uma maior exposição ou por outros fatores ainda não descobertos — explica Alexandre.

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