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Arroio da Ipiranga

Como as "ilhas do Dilúvio" se formam e por que elas são um problema para a cidade

Falta de desassoreamento aumenta a quantidade de detritos no leito do córrego, acumulando lixo e potencializando a proliferação de pragas

03/05/2021 - 15h31min


Karine Dalla Valle
Karine Dalla Valle
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Embora o Arroio Dilúvio não esteja entre os cenários mais atraentes de Porto Alegre, um detalhe tem comprometido ainda mais o visual do principal córrego da cidade: os bancos de areia que se formam ao longo do riacho da Avenida Ipiranga. Plantas e até árvores crescem ali, principalmente entre a Ramiro Barcelos e a Salvador França, acumulando mais lixo e atraindo, além de aves, ratos e mosquitos.

A formação dessas espécies de ilhas no meio das águas do Dilúvio é comum. Como o arroio tem um baixo desnível - em linguagem popular, é quase plano - o fluxo da água é menos intenso, facilitando que terra e areia se acumulem no fundo, em vez de percorrerem sua extensão e desembocarem no Guaíba.

— A diferença de nível entre o Guaíba e o Dilúvio, principalmente na altura da Antônio de Carvalho, é de poucos metros. É um desnível muito baixo. Isso faz com que o fluxo da água seja lento e crie condição para que a areia ou a lama se deposite no fundo do arroio. Se o fluxo da água fosse mais intenso, essa areia seria carregada ao longo do Dilúvio e se depositaria no Guaíba —  explica o professor de biologia e presidente do Instituto do Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Nelson Fontoura. 

Apesar de serem comuns, esses bancos também indicam que falta desassoreamento, que é a retirada de resíduos como areia, terra e outros sedimentos do fundo do arroio. O lixo acaba emperrado nessas ilhas, vira foco de ratos e mosquitos e compromete a saúde da população. Outro risco é a areia obstruir a tubulação do Dilúvio, impedindo que a água da chuva que corre nas ruas entre no arroio - o que pode provocar alagamentos no entorno. 

— Mais do que ser feio, o que nos preocupa é o Dilúvio não cumprir sua missão, que é o desague das águas da chuva. A gente precisa dar uma atenção especial porque tem muita quantidade de sólidos no fundo —  afirma o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Alexandre Garcia. 

De acordo com ele, a última remoção de detritos dos fundos do Dilúvio foi feito em 2018, na gestão de Nelson Marchezan. A previsão é que a prefeitura lance uma licitação ainda no primeiro semestre do ano para contratar os serviços de limpeza e dragagem do Dilúvio. São duas frentes: a primeira é fazer o desassoreamento. A outra é garantir manutenção para que a situação não volte a chegar nesse ponto. 

— É um contrato específico só para o Dilúvio, para que não se perca atenção com outros problemas — garante. 

Por outro lado, os bancos de areia e sua vegetação criam condições favoráveis para um maior número de espécies de peixes. Isso porque, segundo o biólogo Nelson Fontoura, quanto mais heterogêneo for um habitat, melhor é para a fauna. Sinal da proliferação de peixes nas águas do Dilúvio são as garças e outras aves que pousam nas vegetações em busca de alimento. 

— Não temos um levantamento, mas só de observações, vimos que lambari, cascudo, tilápia, até tainha tem no Dilúvio. 

Vantagem que fica em xeque quando se avalia a chance de desfrutar da pescaria. 

— Eu não comeria. Imagina o monte de substância química que tem ali — admite o biólogo. 


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