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Lembrança do cordão umbilical

Polvos de crochê ajudam no tratamento de bebês prematuros em hospital de Porto Alegre

Materiais são produzidos por grupo de voluntárias de Guaíba, na Região Metropolitana, e doados ao Hospital da Criança Conceição

14/06/2021 - 21h59min

Atualizada em: 15/06/2021 - 12h17min


Tiago Boff
Tiago Boff
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Tiago Boff / Agencia RBS
Rose Pinhatti Jochims é a idealizadora do projeto Família do Bem Aquecendo o Próximo

Além de atendimento médico intenso, os bebês prematuros do Hospital da Criança Conceição (HCC), na zona norte de Porto Alegre, recebem um auxílio terapêutico enquanto não estão em condições de ganhar alta. Polvos de algodão são entregues às crianças durante o tratamento — e abraçadas aos tentáculos, elas têm reforçada a lembrança do cordão umbilical que as nutriu durante a gestação.

Inspirada em um projeto dinamarquês, a iniciativa tem o intuito de tranquilizar o paciente, segundo Rose Pinhatti Jochims, 58 anos, idealizadora do projeto Família do Bem Aquecendo o Próximo.

— Os pais nos dizem que o polvinho é o verdadeiro companheiro para os bebês. Às vezes os pais não podem ficar durante a madrugada com eles. E as crianças choram demais na UTI — afirma a funcionária pública aposentada.

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O tratamento é reconhecido pelas equipes de saúde e incentivado pela gerência do hospital. Maleáveis, os tentáculos chegam a 60 centímetros quando esticados. São pensados em um comprimento que transpasse o corpo dos recém-nascidos. Imagens enviadas pelos familiares às voluntárias mostram as crianças dormindo agarradas ao objeto e com o pescoço aquecido. Mesmo após deixarem os leitos, muitos seguem com o brinquedo para casa, segundo a voluntária. As fotos dos crochês com as crianças não são divulgadas para preservar os pacientes.

O produto tem como insumo linha 100% algodão e passa por higienização dupla para garantir a assepsia: recebe álcool 70%, borrifado pelas costureiras, e é envolto em um saco plástico antes de ir ao hospital. Na instituição, o processo é repetido pelas enfermeiras e técnicas de enfermagem.

Rose conclama outras costureiras, bem-vindas desde que atendam a dois princípios do grupo: não é aceito envolvimento com política ou discussões que tratem de qualquer partido. Dinheiro em espécie ou depósito bancário também devem ser rejeitados.

— Se a pessoa quer doar dinheiro, pedimos que ela compre a lã, ou faça contato com as lojas e deixe pago, que retiramos — justifica Rose.

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Na manhã desta segunda-feira (14), instantes após ser entrevistada na Rádio Gaúcha, Rose atendeu ligações e respondeu mensagens do público, com pedidos para integrar a ação. E incentivou quem tem, como ela, tempo disponível e desejo de ajudar:

— Não precisa ser profissional do crochê. Eu aprendi tudo no YouTube, basta ter vontade.


Projeto também produz enxovais

A ideia de costurar para os usuários da instituição nasceu em 2017. Foi reforçada na pandemia e hoje reúne 28 mulheres de Guaíba, região metropolitana da Capital. No domingo (13), um novo lote de doações teve o hospital como destino — no total, já foram entregues cerca de 700 itens.

Como boa parte das famílias é de baixa renda, as voluntárias também produzem toucas, mantas, polainas, meias, luvas e cobertores.

— Eles precisam demais dessa ajuda. O projeto não é lindo para nós, é sim abençoado e lindo para as crianças, que merecem — complementa Rose.

A escolha pelo HCC se deve ao hospital ser inteiramente dedicado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Faz parte do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), complexo que conta ainda, em Porto Alegre, com o Hospital Cristo Redentor, Hospital Fêmina, Hospital Nossa Senhora da Conceição e Unidade de Pronto-atendimento Moacyr Scliar.

O contato com a Rose pode ser feito pelo telefone (51) 99848-9333, com WhatsApp.

Campanha do Agasalho do hospital

Nesta segunda-feira, iniciou-se a Campanha do Agasalho do Hospital da Criança Conceição. Roupas novas ou usadas, em bom estado de conservação, podem ser deixadas em caixas coletoras na recepção das instituições que pertencem ao GHC (confira abaixo os endereços). O foco da campanha são as peças de tamanho zero a 12 anos.

Gerente administrativa do HCC, Denise Maria Jornada Braga tem a mesma percepção: faltam condições financeiras para grande parte das famílias.

— Na alta hospitalar, muitas mães relatam não terem agasalhos quentes e cobertores em casa — afirma.

A diretora agradece a iniciativa como a das voluntárias de Guaíba e reforça o pedido por mais doações:

— Valorizamos muito, eles contribuem de forma muito importante. Principalmente agora, nas baixas temperaturas, com a confecção dos enxovais.

Veja onde doar

  • Hospital da Criança Conceição/Instituto da Criança com Diabetes, na Rua Álvarez Cabral, 565
  • Hospital Cristo Redentor, na Rua Domingos Rubbo, 20
  • Hospital Fêmina, na Rua Mostardeiro, 17
  • Hospital Nossa Senhora da Conceição, na Rua Francisco Trein, 596

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