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Perguntas e respostas sobre a segunda dose da vacina para grávidas e puérperas

Ministério da Saúde recomendou nesta segunda-feira que o esquema vacinal das mulheres nestas condições que tomaram AstraZeneca seja concluído com Pfizer ou CoronaVac

27/07/2021 - 09h15min

Atualizada em: 27/07/2021 - 09h16min


Karine Dalla Valle
Karine Dalla Valle
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Mateus Bruxel / Agencia RBS

Grávidas e puérperas que tomaram a primeira dose da vacina contra covid-19 da AstraZeneca poderão ter o esquema vacinal completo preferencialmente com Pfizer e até mesmo com CoronaVac. A recomendação foi dada nesta segunda-feira (26) pelo Ministério da Saúde.

Foi uma espera de mais de dois meses para decidir o que seria feito com esse grupo. No dia 11 de maio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) optou por suspender a aplicação da AstraZeneca, da Fiocruz, em gestantes e mulheres que deram à luz a menos de 45 dias. A suspensão ocorreu após o registro de um caso de óbito de gestante que recebeu essa vacina. Embora ainda não tenha sido comprovada a relação entre o óbito e o imunizante, a medida foi tomada de forma preventiva.

De lá para cá, houve alterações na campanha para gestantes e puérperas. O Ministério da Saúde tirou a AstraZeneca do rol de vacinas aplicáveis nessas mulheres e decidiu que elas só deverão tomar Pfizer e CoronaVac, medida que acabou por se estender àquelas que receberam uma dose de AstraZeneca antes da suspensão. 

No Rio Grande do Sul, 6.441 grávidas e puérperas tomaram a primeira injeção da AstraZeneca e aguardam para ter o esquema vacinal completo. Outras 470 receberam as duas doses do mesmo imunizante, segundo dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES). A pasta confirmou que vai seguir a orientação do Ministério da Saúde, mas deverá aprofundar o assunto em reunião a ser realizada entre terça e quarta-feira (28) pela Comissão de Gestores Bipartite. 

Médico que conduziu o estudo da AstraZeneca no Rio Grande do Sul, o infectologista Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, considera acertada a decisão do Ministério da Saúde de escolher a Pfizer como primeira opção para completar a imunização em grávidas e puérperas:

— Faltam estudos para termos mais segurança. Mas, do ponto de vista de vida real, de uma paciente que tomou a AstraZeneca e quer tomar sua segunda dose, fazer o reforço com Pfizer não parece algo que vá aumentar o risco para as gestantes. E se formos pensar que vai aumentar a proteção, pensando numa população vulnerável, é, sim, uma decisão justificada. 

Perguntas e respostas sobre a vacinação contra a covid-19 em grávidas e puérperas que tomaram a AstraZeneca

Combinar vacinas é adequado?

Andréa Dal Bó, médica infectologista do Hospital Virvi Ramos, em Caxias do Sul, e membro da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia (SRGI) — Existem estudos científicos evidenciando que é possível fazer a vacinação com AstraZeneca e Pfizer. Vários países europeus adotaram essa medida quando houve incidência de trombose entre a população. Está comprovada que é eficaz, que garante proteção equivalente a fazer duas doses de AstraZeneca ou mesmo de Pfizer, eficácia acima de 80%. É confiável e seguro. No entanto, não tem estudo publicado com combinação de AstraZeneca e CoronaVac. O Ministério da Saúde deve estar se baseando nos erros de aplicação no Brasil: existem pessoas que fizeram primeira dose de AstraZeneca e segunda de CoronaVac por alguma confusão. Por isso, foi comprovado nessas pessoas que existe segurança. A gente sabe que são duas vacinas eficazes e seguras. É mais importante que as grávidas estejam vacinadas com duas doses, principalmente diante da variante Delta. 

Eduardo Sprinz, médico infectologista do Hospital de Clínicas, que conduziu o estudo da AstraZeneca no RS —Existe um estudo feito no Reino Unido, em que a primeira dose foi AstraZeneca e a segunda foi Pfizer. Esse estudo mostrou uma boa reposta. Do ponto de vista de segurança, parece não ter problema. Fazendo uma segunda dose, consegue fazer com que o sistema imunológico produza mais defesa e aumente a proteção contra a covid-19. Duas doses certamente são melhores do que uma. No entanto, a CoronaVac é a vacina que temos menos informação. Eu não acredito que a CoronaVac usada como vacina de reforço venha a aumentar a proteção do indivíduo. Do ponto de vista de segurança, teoricamente, a CoronaVac é segura para gestantes. 

Existe risco de as grávidas que tomaram a primeira dose da AstraZeneca e podem estar com o esquema vacinal em atraso terem perdido a imunidade conferida com a primeira dose?

Andréa Dal Bó —Elas ainda estão com um grau de imunidade. 

Eduardo Sprinz O tempo não atrapalha na proteção. Se for fazer a segunda dose depois de 14 semanas, 16 semanas, em termos de proteção, não fará diferença. Vai conferir o mesmo grau de proteção prometido para as 10 ou 12 semanas hoje estipuladas para as doses da AstraZeneca. 

O que se sabe sobre os anticorpos passados para os bebês pelas gestantes e puérperas vacinadas?

Andréa Dal Bó —No caso da Pfizer, a mãe transmite os anticorpos para o bebê do útero e, no caso da puérpera, os anticorpos são transmitidos pelo leite materno. Da CoronaVac, não há publicação científica, mas há relatos de casos de mães que tomaram CoronaVac, a criança fez o teste de anticorpos e deu reagente, indicando que a criança tinha imunidade transmitida pela mãe, seja pelo aleitamento, seja no útero. 

Eduardo Sprinz —É documentado pela Pfizer que os anticorpos produzidos pela mãe vacinada com este imunizante são transmitidos através do leite. Com outras vacinas, também poderíamos esperar a mesma coisa, inclusive com a CoronaVac. O quão protetor isso é, ainda não se sabe. Dependendo da vacina, a gente sempre imagina que a mãe passa a sua produção de anticorpos pelo leite, mas não sabemos a quantidade nem quantos de fato protegerão a criança. Ter anticorpos não quer dizer que se está protegido. O fato de um teste detectar anticorpos não quer dizer que esses anticorpos protegem. 

Ter coronavírus durante a gestação é arriscado?

Andréa Dal Bó —A gestante tem risco de evolução para um quadro grave da covid-19, principalmente no último trimestre de gestação, e também o risco de sofrer parto prematuro e óbito fetal. Elas são grupo de risco. Puérperas até 45 dias após o parto também têm risco de evoluir para quadro grave da covid-19. E o risco de essas mulheres terem qualquer complicação em decorrência das vacinas é extremamente inferior ao risco da covid-19. 

Há maior risco de as grávidas desenvolverem trombose com a AstraZeneca?

Eduardo Sprinz —Esse alarme, na verdade, é um alerta para as plataformas de vacinas que utilizam os vetores virais —Janssen e AstraZeneca. Tem um evento muito raro que é uma trombose associada com hemorragia. Isso ocorre no máximo em uma pessoa para cada 200 mil. O que acontece é a gestante, inclusive no puerpério, ter alterações imunológicas. O risco deste evento raro, chamado de trombocitopenia, talvez possa aumentar na gestação. O ideal seria ter algum estudo para medir o real risco de vacinar gestantes com vacinas de vetor viral. Mas como é uma população vulnerável, talvez esse estudo nunca aconteça. 

Andréa Dal Bó —Foi uma decisão adotada pelo Brasil, nem tem recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para isso. Não existe risco maior da grávida ter trombose por causa da AstraZeneca. A grávida tem risco maior de trombose, mas não maior por causa da AstraZeneca. Essa relação é por causa de um anticorpo, uma coisa que a pessoa já nasce com essa propensão. A chance de isso acontecer na população é quatro casos em cada 1 milhão. Como é recente, o Ministério da Saúde optou por evitar a AstraZeneca nas gestantes. Se há disponibilidade de outras vacinas, é uma decisão acertada.


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