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Por uma vida longe da violência e da miséria: as histórias de haitianos que escolheram o Brasil para viver

Voo com 183 imigrantes chegou nesta segunda-feira ao Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre

26/07/2021 - 19h08min


Eduardo Matos
Eduardo Matos
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Lauro Alves / Agencia RBS
Emoção marcou a chegada dos imigrantes haitianos em Porto Alegre

Emoção, euforia e alívio marcaram a chegada de 183 haitianos ao Brasil nesta segunda-feira (26). Um voo fretado que saiu de Porto Príncipe, capital haitiana, trouxe histórias de vida, algumas delas sofridas, diante das dificuldades enfrentadas no país mais pobre das Américas. Sem visto, eles só conseguiram viajar após uma autorização judicial concedida pela 6ª Vara Federal de Porto Alegre, a pedido da Associação da Integração Social. 

No saguão do aeroporto, o semblante de alegria de alguns era percebido mesmo através das máscaras, necessárias em razão da pandemia. Alguns choravam ao conversar por videochamada com parentes que estão no Brasil.

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GZH conversou com alguns desses haitianos. A insegurança social, o risco a suas próprias vidas, moradias precárias, a falta de emprego e a falta de qualquer perspectiva de melhora na qualidade de vida foi o conjunto de elementos que moveu os haitianos a deixar a terra natal. A Associação da Integração Social colaborou para organizar a vinda, mas o voo foi inteiramente pago pelos passageiros.

Morinel Orelus, 36 anos, deixou o Haiti para morar com um tio que está no Brasil. Faz três anos que não o vê. 

— Eu estou muito contente de ver a minha família aqui — disse Morinel, em creole, um dialeto do francês.

A vinda para o país foi para buscar trabalho, ressaltou:

— No Haiti, tem pouco trabalho. Praticamente não tem emprego. Então, vou tentar emprego por aqui.

O presidente da Associação da Integração Social, o haitiano James Derson Sene Charles, conversou com GZH em português, com os olhos cheios de lágrima e a voz embargada. Disse que é "emocionante" poder ajudar seus compatriotas a reencontrar familiares que não viam há anos. 

— Hoje a gente deu um jeito. A gente já sofreu bastante. Tivemos bastante dificuldade, não tivemos apoio de ninguém. E hoje a gente conseguir fazer isso é muito bom. São pessoas que há quatro, cinco, sete anos já perderam o dinheiro várias vezes na tentativa de trazer os familiares que estavam sofrendo no Haiti. A Justiça brasileira abriu uma exceção para eles serem felizes. O amor que os brasileiros têm com os imigrantes é muito difícil de encontrar em outros países — destacou James, que está há oito anos no Brasil.

A morte do presidente do Haiti, Jovenel Moise, agravou os ânimos em território haitiano e tem mobilizado mais gente a deixar o país.

— Se o presidente não tem segurança, a gente tem menos ainda. Somos mais vulneráveis. A gente tem um povo desesperado que precisa de ajuda de qualquer maneira — argumentou James.

A jovem Marie Kettie Elysee, de 19 anos, chegou com a filha pequena, que vai completar dois anos, no colo. Deixou o que tinha para trás para reencontrar o irmão e buscar uma vida melhor. 

— Eu quero ter uma outra vida, uma vida melhor. Eu tenho certeza que minha filha terá uma vida melhor — disse ela.

Marie estava estudando no Haiti quando teve o bebê. Diz que quer seguir estudando e começar a trabalhar no Brasil:

— Quero ser arquiteta.

Chery Angela, de 31 anos, tentava há anos reencontrar o marido, que está há cinco anos no Brasil. Estava acompanhada da filha de cinco anos quando conversou com GZH. O marido não estava no aeroporto, mas fazia contato em chamada de vídeo para falar com as duas. A pequena chorava.

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— Ele nem viu a nossa filha crescer. Acompanhou o crescimento dela por chamada de vídeo — contou ela, acrescentando que o marido sempre a estimulou a viver no Brasil.

Chidelsen Philipe era quem organizava e orientava as famílias que chegavam. Vice-presidente da Associação, disse que chegou ao Brasil há cinco anos para viver com os pais, que vieram antes.

— A família veio antes. Da mesma forma que agora, com essas pessoas. Essas crianças, adolescentes e adultos têm suas famílias por aqui. Então, eu, da mesma forma, queria reencontrar minha família. É uma alegria imensa poder ajudá-los — disse Chidelsen, que é estudante de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

GZH esteve no Haiti no fim de 2014 e pôde comprovar as dificuldades enfrentadas pelo povo haitiano. Até "biscoito de barro" – feito com água, sal, manteiga e areia – era consumido para amenizar a fome. A reportagem acompanhou, na oportunidade, a viagem de dois haitianos de Porto Príncipe a Porto Alegre – duas exceções, já que a maioria não tem dinheiro para providenciar documentação para visto, muito menos para passagem aérea.


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