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Empresas de ônibus

Com movimento reduzido a 10% durante a pandemia, ainda é lenta a recuperação do transporte de passageiros

Crise no setor evidenciada por pedido de recuperação judicial da Planalto Transportes afeta empresas do pequeno ao grande porte, apontam gestores do ramo

18/08/2021 - 09h13min

Atualizada em: 18/08/2021 - 09h14min


Bruna Oliveira
Bruna Oliveira
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O pedido de recuperação judicial da Planalto Transportes – uma das maiores empresas do ramo no Estado, autorizado pela Justiça na semana passada, expôs ainda mais a crise pela qual enfrenta o transporte rodoviário de passageiros intermunicipal e de longa distância. O setor foi um dos mais impactados pelas restrições devido à pandemia de coronavírus, e, apesar do avanço gradual da vacinação, ainda tem chão pela frente até recuperar os números anteriores à crise sanitária. 

Para o coordenador de tráfego e consultor de transporte de passageiros João Henrique Poppi, o caso da Planalto, cujo endividamento estimado chega a R$ 200 milhões, não é isolado e ainda deve bater à porta de muitas empresas Brasil afora, do pequeno ao grande porte. Um exemplo é a Viação Cidade do Aço, empresa também tradicional e septuagenária do Estado do Rio de Janeiro, que entrou com pedido de recuperação judicial em julho.  

Somente no Rio Grande do Sul, segundo a Associação Rio-Grandense de Transporte Intermunicipal (RTI), a demanda de passageiros caiu para 10% no auge das restrições sanitárias, quando os ônibus podiam transportar no máximo 20 pessoas. Linhas e horários foram enxugados e funcionários foram demitidos na tentativa de conter os custos de operação. 

— Tivemos a maior parada da história, com restrições sendo impostas da noite para o dia. Foi um golpe muito forte. O sistema praticamente pereceu e as rodoviárias ficaram sem ninguém — afirmou o presidente da entidade, Hugo Eugênio Fleck, que também é presidente da Viação Ouro e Prata.  

Na avaliação do presidente da Associação Gaúcha de Pequenas e Médias Empresas Transportadoras de Passageiros (AGPM), Ernani Kahmann, a situação atinge em cheio as empresas menores que atuam no interior do Estado. Ele também é diretor-presidente da Expresso Sinimbu, de Santa Cruz do Sul. Kahmann acredita que muitos horários não serão retomados. 

—  As empresas estão descapitalizadas, é sufoco total. Cerca de 70% paralisaram linhas no Interior e não tem expectativa de voltar. Fica difícil sobreviver — diz. 

Na Expresso Caxiense, o diretor-executivo Nelson Ribeiro comenta que a situação desencadeada pela pandemia é o pior momento já enfrentado nos mais de 80 anos de atuação da empresa. A transportadora tem como carro-chefe a linha que liga Porto Alegre a Caxias do Sul. O número de viagens no trecho chegou a ser reduzido de 32 para 20.  

Passado o período de limitações mais severas, porém, os gestores do ramo avaliam que a recuperação ainda é muito lenta e que são poucas as perspectivas de melhora no cenário atual. Ribeiro pontua que houve um respiro no mês de julho, mas ainda muito distante da operação anterior. Com a leve alta, a demanda de passageiros na Caxiense subiu de 50% para 60%.  

Segundo o diretor-executivo, a situação já vinha ruim e com a pandemia “ficou pior ainda”. Dentre os fatores, ele cita o desemprego, a economia como um todo, e os aplicativos clandestinos competindo com as empresas regulares.  

Na rodoviária de Porto Alegre, principal terminal do Estado, a movimentação média atualmente gira em torno de 3,5 mil passageiros por dia. Antes da pandemia, esse número chegava a 15 mil. Giovanni Luigi, diretor de operações da Veppo, empresa que administra a estação, diz que a situação é “dramática” e que apesar da vacinação progredindo, o movimento “continua terrível”.  

Segundo dados do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), o sistema regular de linhas de longo curso transportou 5,8 milhões de passageiros até o momento em 2021. No ano passado, foram 13 milhões, número bem abaixo dos 33 milhões transportados em 2019.  

A estimativa é de que a pandemia tenha provocado queda de 50% a 80% na demanda das empresas de transporte do setor como um todo, seja municipal ou interestadual. Junto dela, as novas plataformas de transporte estreitaram a disputa por passageiros. Muitas pessoas acabaram optando por outros meios não regulamentados, como os aplicativos e as caronas. 

Além disso, é unânime entre os gestores ouvidos que as gratuidades – que são asseguradas pela Constituição, encarecem o serviço e o preço final da passagem.  

—  Quem paga são os demais usuários do sistema — afirma Kahmann. 

O novo quadro imposto pela pandemia, segundo o consultor João Henrique Poppi, força as empresas tradicionais a remodelarem a operação, buscando alternativas. Uma delas é ocupar o bagageiro dos ônibus para o transporte de encomendas, demanda que tem crescido com a alta das vendas pela internet e por gigantes como Mercado Livre e DHL. A lógica é aproveitar rotas já consolidadas. 

— O transporte rodoviário por ônibus vai continuar sendo o carro forte do país. Muitas empresas começaram a readequar a malha, com melhor aproveitamento de frota e de usuários para ajustar a demanda. Foi um período de "oportunidade" para aprimorar a operação — avalia Poppi. 

Outro caminho a ser percorrido é o de recuperar a confiança dos passageiros. E para isso as empresas têm investido nos protocolos de segurança e também em novas tecnologias, a exemplo de soluções lançadas pela Marcopolo para a biossegurança dentro dos ônibus. Segundo Fleck, neste momento seria importante também o apoio governamental para a retomada, estimulando o uso do ônibus como meio de transporte. 


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