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O Diário Gaúcho te ajuda a entender a crise no Afeganistão

O colunista de assuntos internacionais de Zero Hora e GZH, Rodrigo Lopes, explica a crise no Afeganistão e o retorno do Talibã ao poder.  

19/08/2021 - 05h00min


Rodrigo Lopes
Rodrigo Lopes
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AFP / AFP
Multidão tenta fugir do país, no aeroporto de Cabul

O que está acontecendo no Afeganistão?
Desde domingo passado (15), o Afeganistão tem sido a principal notícia internacional porque o grupo armado Talibã voltou ao poder. Eles já governaram o país entre 1996 e 2001. Naquela época, implantaram um regime de terror: meninas não podiam ir às escolas, mulheres precisavam usar burca, um tipo de vestimenta que cobre todo o corpo, dos pés a cabeça, os homens tinham de deixar a barba crescer e não se podia ouvir música ou assistir televisão. Homens e mulheres que traíssem o marido eram punidos com apedrejamento, a perda de uma mão ou um braço ou mesmo a morte. Isso porque o Talibã é um grupo que faz uma interpretação radical do islamismo e aplica uma lei baseada nessa visão. Com medo de que o país volte a viver esse tipo de regime é que muitas pessoas começaram a fugir, tentando embarcar em qualquer voo que saísse do aeroporto de Cabul. Por isso, há cenas dramáticas de pessoas penduradas em aviões e correndo ao lado deles na pista de decolagem.

O Talibã não havia sido derrotado na guerra?
O Talibã, é preciso lembrar, é o grupo que protegia o terrorista Osama bin Laden e sua organização, a rede Al-Qaeda. Foi de lá do Afeganistão que ele e seu grupo planejaram os atentados contra as torres-gêmeas em Nova York e o prédio do Pentágono, em Washington, nos Estados Unidos, em 2001. Naquela época, o presidente americano, George W. Bush, atacou o Afeganistão para tirar o Talibã do poder e caçar Bin Laden. O Talibã foi deposto, mas o grupo nunca foi destruído. Bin Laden só foi encontrado e morto em 2011, e no Paquistão, país vizinho do Afeganistão. Ao longo desses 20 anos, o Talibã se reorganizou e, aos poucos, começou a atacar de novo cidades e a ocupá-las.

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Mas, e os Estados Unidos não estavam lá?
Sim, e ainda estão. Mas o problema é que ao longo desses 20 anos a guerra, que já consumiu trilhões de dólares dos Estados Unidos e matou muitos militares americanos, se tornou cada vez mais impopular. Mais de dois terços dos cidadãos americanos queriam que o país saísse do Afeganistão. Mas o governo sabia que, se deixasse o país, o Talibã poderia voltar ao poder. O presidente Donald Trump resolveu pagar para ver. No ano passado, fez um acordo com os talibãs do tipo: "a gente sai do país, e vocês nunca mais protegem terroristas como Bin Laden". E assim foi feito. Depois que Joe Biden assumiu a presidência dos EUA, ele deu prosseguimento ao acertado. A previsão de saída seria até 11 de setembro de 2021, no aniversário de 20 anos dos atentados contra as torres-gêmeas. Ele antecipou para 31 de agosto. Com a saída dos americanos cada vez mais próxima, o Talibã criou ainda mais coragem para avançar até tomar a capital, Cabul, no domingo.

De onde vem o dinheiro do Talibã?
Seus negócios prosperam a partir principalmente do tráfico de drogas, de extorsão e cobranças de impostos de fazendeiros de papoula, da mineração e de doações de fundos de caridade, especialmente de países como Paquistão, Irã, Arábia Saudita e Catar. O Afeganistão é o maior produtor de ópio do mundo. As áreas de cultivo de papoula (matéria-prima para a droga) são dominadas pelo Talibã, que arrecada 10% sobre todas as fases de produção, incluindo o refino e a distribuição. Outra fonte lucrativa é a extração ilegal de minério de ferro, mármore, cobre, ouro e zinco. O orçamento do grupo para o exercício de 2019-2020 foi equivalente a R$ 8,4 bilhões, segundo um relatório internacional.

WAKIL KOHSAR / AFP
Grupo de combatentes do Talibã

O que vai acontecer agora?
Mesmo conhecido por ser um grupo radical, o Talibã tem prometido que não voltará a impor aquelas medidas cruéis da época em que esteve no poder. Disse que mulheres poderão continuar estudando e trabalhando e que não precisarão usar burca, apenas o hijab, que é uma espécie de véu que deixa o rosto à mostra. Mas o mundo todo desconfia de que o grupo só esteja fazendo isso para ganhar apoio e reconhecimento de outros governos. Só o tempo dirá.

Os Estados Unidos perderam a guerra?
O governo americano diz que não, porque já estava planejado que eles deixariam o país e que estão saindo porque querem. Mas a rapidez com que o Talibã tomou o poder, colocando para correr o presidente do país, Ashraf Ghani, democraticamente eleito, assustou os EUA, que estão tendo que acelerar ainda mais a retirada.



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