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Consequências

Depois das questões econômicas, saúde mental foi aspecto mais impactado pela pandemia entre os gaúchos

Dado faz parte de pesquisa encomendada pela Assembleia Legislativa, em parceria com o Instituto Pesquisas de Opinião (IPO)

24/09/2021 - 09h05min

Atualizada em: 24/09/2021 - 09h05min


Camila Kosachenco
Camila Kosachenco
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Yatakviju / stock.adobe.com

 A saúde mental foi o aspecto mais impactado pela pandemia na vida dos gaúchos, depois das questões financeiras. O dado faz parte de uma pesquisa encomendada pela Assembleia Legislativa, em parceria com o Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), divulgada na quarta-feira (22). 

O levantamento investigou a percepção dos gaúchos sobre as desigualdades provocadas pela crise sanitária. Para isso, foram ouvidas 1,5 mil pessoas, a partir dos 16 anos, de oito regiões, entre 28 de agosto e 3 de setembro. 

Ainda que o impacto financeiro tenha sido o mais citado entre os entrevistados, com 24,6%, as questões envolvendo a saúde mental e emocional surgem logo em seguida, com 23,8%. Na avaliação da socióloga Gisele Rodrigues, gerente de pesquisas do IPO, toda a população sofreu emocionalmente, contudo, alguns grupos mais do que outros.  

Conforme o levantamento, indivíduos que se declaram de classes mais altas e com maior grau de escolaridade foram os que mais relataram impactos ligados à saúde mental. Esse quesito foi mencionado por 48,6% daqueles de classe média/alta, contra 17,3% daqueles autodenominados pobres.  

— Aqueles de classe mais baixa vão dizer direto que eles precisam comer, então, vão declarar que o maior problema é o financeiro. As classes mais altas não deixaram de ser impactadas financeiramente, mas isso não vai influenciar na comida do dia a dia. Portanto, sentem mais esses fatores como o isolamento, rotina diária, sentimento de incerteza — justifica a socióloga. 

Exatamente por essa razão, é que o Noroeste e o Centro foram as áreas que tiveram maior percentual de entrevistados que citaram a saúde mental. Por outro lado, Sul e Metropolitana tiveram números inferiores.  

— As regiões com maiores indicadores de classes mais baixas são de Pelotas, Metropolitana e Porto Alegre, ou seja, aquelas que sentiram mais o impacto econômico. Quando pensamos os desdobramentos emocionais, aparece Ijuí e Santa Maria, que tem o maior percentual de pessoas que se declaram de classes mais altas — argumenta Gisele. 

Na região de Ijuí, que abrange Ijuí, Santo Ângelo e Santa Rosa, esse aspecto foi mencionado por 35,7% dos indivíduos. A região de Santa Maria, que contempla Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul e Santa Maria, teve taxa de 31,8%. 

Conceito ampliado de saúde

Segundo a  psicóloga, pesquisadora em saúde mental e docente da UFRGS  Simone Mainieri Paulon,  o fato de os dois impactos mais citados, quase com mesmo peso, serem condições materiais e emocionais não é uma coincidência. 

— Isso expressa, aliás, uma concepção de saúde com a qual temos trabalhado no campo da saúde mental, que não se resume a um bem-estar individual nem orgânico. Saúde como possibilidade de projetar um futuro, fazer planos , pensar a vida com outros, transformar a si mesmo em outras pessoas, na medida em que a vida assim nos exigir, é uma ideia que amplia o conceito de saúde para além daquele padrão de bem-estar físico, social, econômico e fa​miliar — afirma a especialista, que segue:

— Ao se dizerem impactados quase que igualmente por questões financeiras e emocionais, os gaúchos estão afirmando o que os Titãs há muito cantavam de que “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte".

Os relatos descritos durante as entrevistas expressaram, de modo geral, preocupações com a rápida necessidade de adaptação aos novos modelos de trabalho e com a administração das novas rotinas de casa, que incluem atividades domésticas, educação dos filhos e teletrabalho. Além disso, o isolamento social, as incertezas em relação ao futuro e o medo da covid-19 também foram destaque.  

— Tudo isso culminou nesse último gatilho que foi a exaustão, gerando essa sensação de impacto psicológico — diz Gisele Rodrigues. 

As mulheres foram as que mais citaram os prejuízos à saúde emocional. No entanto, os homens também tocaram nesse aspecto.  

— Mulher sente que tem responsabilidade. Tem toda a questão de ser multitarefas. Ela acaba sendo provedora, professora, em um cenário de preocupação — observa Gisele. 

A psicóloga Simone acrescenta:

— Na história da humanidade, toda crise atingiu com mais intensidade às mulheres.  (Durante a pandemia) muitas tiveram que se expor em momentos de maior risco de contaminação para irem em busca de atividades remuneradas.  Considerando-se que, aos cuidados com a casa, muitas mulheres também tiveram que acrescentar adaptações de suas atividades ao home office, temos uma combinação explosiva de sobrecarga e adoecimento que recai sobre elas. 


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