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INCLUSÃO

No Morro da Cruz, alunos do curso de informática ampliam conhecimentos e possibilidades

Uma turma com 20 alunos, entre eles Odócio, aos 80 anos, e Juliane, com 34, recebe nesta quarta-feira o certificado de conclusão, na ONG Coletivo Autônomo, na Zona Leste

14/09/2021 - 19h01min

Atualizada em: 14/09/2021 - 22h03min


Caroline Tidra
Caroline Tidra
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Anselmo Cunha / Agencia RBS
O pedreiro aposentado Odócio dos Santos Velasque, 80 anos, gosta de usar o computador para pesquisas

Uma turma com 20 alunos recebe, nesta quarta-feira (15), o certificado de conclusão do curso de Informática Básica Janelas Abertas, na ONG Coletivo Autônomo Morro da Cruz, na zona leste de Porto Alegre. O grupo composto de jovens e adultos aprendeu como funciona um computador, teve noções sobre as ferramentas para estar inserido no mundo digital e, principalmente, para ter possibilidade de adentrar o mercado de trabalho. 

— Como a informática se tornou cada vez mais centralizada, é cidadania ter acesso ao computador e saber como mexer. A exclusão digital existe em três camadas: a falta de um equipamento, a necessidade da infraestrutura, que é o sinal e a internet que têm um custo alto, e o conhecimento para lidar com o computador — explica a antropóloga e presidente do Coletivo Autônomo Lucia Mury Scalco. 

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Com uma didática inclusiva, o instrutor de informática e coordenador de tecnologia da informação (TI) da ONG, Ubiratan da Silva Marquette, 46 anos, reconhece o potencial dos alunos e as mudanças que ocorrem durante o aprendizado, como a autoestima e a ideia de pertencimento. Segundo Bira, como é conhecido, a maior demanda entre os alunos do curso era fazer um currículo e enviar por e-mail para as seletivas. Mesmo assim, ele explica que a primeira lição do curso é entender o funcionamento do computador e a sua composição, antes de começar a mexer nas ferramentas. 

— É um curso de inclusão, porque há pessoas não sabem ligar um computador e não conhecem os componentes e seu funcionamento. A primeira lição é entender os princípios básicos do equipamento. Não com uma linguagem técnica, mas mais aproximadora — relata. 

Depois do primeiro contato com os componentes da máquina, o aprendizado passa pela apresentação das ferramentas, até funções mais complexas e o acesso à internet. A turma começou com apenas seis alunas e foi encerrada com 20. 

Trabalho

A serviços gerais Juliane Machado Lima, 34 anos, se forma nesta quarta. A experiência no curso resultou no seu atual emprego. Ela concorreu a uma vaga após aprender a montar seu currículo e o enviar para participar da seleção. Além dela, seu irmão e seu filho também participaram das aulas.

Andre Avila / Agencia RBS
Juliane conseguiu emprego após enviar currículo produzido no curso

— Eu fiquei desempregada antes de começar a pandemia. Foi um período complicado, e eu ganhava doações da ONG. Por ali, que eu soube do curso de informática e me interessei. Queria saber mandar o currículo por e-mail. Aprendi muita coisa, ajudaram a gente a usar os dedos nos teclados, porque eu usava só um — conta a moradora. 

Com o encerramento do curso de informática, Juliane continua frequentando o Coletivo para um preparatório com instruções sobre o mercado de trabalho e geração de renda, o Construindo o Futuro. Além disso, o acesso ao conhecimento a impulsionou a procurar formas de concluir o Ensino Médio. 

— O sentimento de chegar até a formatura e receber o certificado é satisfatório, porque a gente pensa que já está velho para fazer. Mas agora, até voltar a estudar estou tentando. Ver que meu irmão se interessou, meu filho se interessou, é um incentivo — afirma.

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Com 80 anos, Odócio quer aprender mais

No caso do pedreiro aposentado Odócio dos Santos Velasque, 80 anos, desbravar a informática tem mais relação com sua curiosidade sobre o mundo do que a busca pelo emprego. Fã de astronomia e apreciador da literatura do universo racional, ele é um dos formandos da turma junto da filha e da neta _ todos moradores do Morro da Cruz. 

— Eu quero é saber mais. Não me interessa muito a idade, o importante é a vontade de aprender, e isso não me falta — afirma. 

Natural de São Borja, Odócio chegou à Capital na década de 1960. Segundo ele, na infância, o acesso à escola foi difícil e, por isso, cursou até o terceiro ano do Ensino Fundamental. Mas a vontade de voltar à sala de aula sempre existiu ao longo da vida. Somente em 2000, ele conseguiu concluir o oitavo ano.

— Ele é um aluno dedicado, tirou 10 em algumas atividades, e sabe usar muito bem os dedos, pois tem uma gaita. Uma das primeiras pesquisas dele foi sobre uma fábrica de gaitas — conta Bira, com bom humor, e complementa:

— Empolgado com o curso, seu Odócio até comprou um notebook. Ele se sente bem laborativamente, em um espaço de inclusão. Além disso, ele impulsiona a melhor idade a saber que nunca é tarde para começar. 

No lugar da gaita, que seu Odócio já não toca mais, ele usa as mãos para a digitação quando vai até a sede da ONG e não tem vontade de parar: 

— Estou me saindo bem, acessando aos poucos. Para viver nesse mundo temos que saber, pois a gente sofre sabendo, mas não sabendo é pior. E se eu tiver condições e o professor achar que posso continuar, vou seguir. 

Em relação à expectativa para a formatura nesta noite, ele fala com satisfação:

— Vou ter um certificado! 

Para ajudar

/// O Coletivo Autônomo Morro da Cruz aceita doações de equipamentos de informática e em dinheiro. É possível contribuir com a ONG pelo Pix 34.426.595/0001-63.

/// Para ajudar e conhecer os cursos, acesse o link pelo pelo Instagram @coletivomdc.

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