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Infectologistas rechaçam afirmação de Bolsonaro e explicam por que vacina contra a covid-19 não provoca aids

Live semanal em que Jair Bolsonaro fez a afirmação foi retirada do ar pelo Facebook e Youtube e resultou em protocolo de notícia-crime no STF

26/10/2021 - 09h16min

Atualizada em: 26/10/2021 - 09h17min


Larissa Roso
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Jhully Costa
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Antonio Valiente / Agencia RBS

A declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre o desenvolvimento da síndrome de imunodeficiência adquirida (aids) em pessoas vacinadas contra a covid-19 gerou, além de reações negativas entre entidades, especialistas e políticos, a remoção de sua live semanal das redes sociais. Realizada na última quinta-feira (21), a transmissão ao vivo do chefe do Executivo foi retirada do Facebook, Instagram, Twitter e Youtube

Durante a live, Bolsonaro pegou uma espécie de jornal em que estaria registrada a notícia e leu: "Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida muito mais rápido do que o previsto". Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro e coordenadora do subcomitê de Terapêutica do Comitê Científico de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), é categórica ao explicar a inexistência dessa relação:   

— Não existe como uma vacina, a da covid-19 ou qualquer outra, provocar uma imunodeficiência, uma síndrome de imunodeficiência. Isso não existe.  

A médica participou da redação da nota de esclarecimento da SBI divulgada no sábado (23), quando a repercussão sobre a fala do presidente inundou as redes sociais. "Não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a covid-19 e o desenvolvimento de síndrome da imunodeficiência adquirida. Repudiamos toda e qualquer notícia falsa que circule e faça menção a esta associação inexistente", diz um trecho do texto.  

Infectologista membro da Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI), Andréa Dal Bó esclarece que os imunizantes contra a covid-19 utilizados no Brasil são feitos a partir de RNA ou de vírus inativado, ou seja, nenhum deles utiliza vírus vivos. Além disso, o coronavírus e o HIV são totalmente diferentes, portanto, não poderiam causar a mesma doença: 

— O vírus da covid-19 não é um retrovírus, não é da família do HIV. Assim, não tem fundamento algum essa declaração, ainda mais que foi baseada em uma fake news que circulou no Reino Unido e que eles já desmentiram por lá.

Ao G1, o Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido informou que o fato não é verdadeiro e que a publicação mencionada por Bolsonaro é de um site que dissemina fake news e teorias da conspiração. Em entrevista à rádio Caçula FM, de Três Lagoas (MS), nesta segunda, o presidente afirmou que o texto citado por ele havia sido publicado pela revista Exame dias antes da transmissão ao vivo. Mas não disse que o mesmo texto, de 2020, esclarecia que "não se comprovou que alguma vacina contra a covid-19 reduza a imunidade a ponto de facilitar a infecção em caso de exposição ao vírus".

A falsa associação entre os imunizantes e a doença fez com que o PSOL protocolasse nesta segunda-feira (25) uma notícia-crime contra o presidente no Supremo Tribunal Federal (STF).  O documento diz que, com acusações sem amparo em medidas científicas, o chefe do Executivo coloca cada vez mais a população brasileira em risco. 

— O dano de qualquer manifestação que comprometa a qualidade das vacinas é incomensurável no momento em que temos a vacina praticamente como a única arma no combate à covid-19. A vacina mostrou que é a responsável pela redução enorme do número de casos e óbitos — comenta Tânia.  

Segundo Andréa, esse tipo de declaração vai contra o que a ciência defende e faz com que as pessoas que já tinham dúvidas ou receios sobre os imunizantes fiquem ainda mais confusas. 

— Trazer isso para o Brasil em um momento em que estamos tentando ampliar a vacinação é inadmissível e até um desrespeito às pessoas que vivem com HIV — enfatiza.

Para não deixar dúvidas, a infectologista Tânia esclarece como um imunizante atua no corpo:   

— O que a vacina faz é provocar o sistema imune. O sistema imune é a resistência, a defesa. É como se ela fosse um avatar do vírus, mas não ele. A vacina entra no seu organismo, e o organismo pensa: “É o vírus”. E quando o agente agressor (o vírus) entra no seu organismo, o organismo diz: “Ó, eu preciso reagir”.   

Efeitos como febre, dor no local da aplicação ou fadiga são esperados.  

— Reações adversas à vacina são respostas do sistema imune. Tem gente que não tem nada, essa resposta não precisa ser sintomática — conclui Tânia.


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