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Impacto socioeconômico

Renda dos mais pobres na Região Metropolitana caiu 20% em relação ao período anterior à pandemia, mostra estudo

Boletim Desigualdade nas Metrópoles também indica que a perda foi menor para os mais ricos, de 4,6%

10/10/2021 - 21h39min

Atualizada em: 13/10/2021 - 09h39min


Fábio Schaffner
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Lauro Alves / Agencia RBS
Aumento no número de pessoas pedindo ajuda em sinaleiras é um dos indicativos da maior desigualdade

Apesar da constante melhora nos indicadores sanitários da pandemia, os reflexos econômicos causados pela disseminação da covid-19 ainda estão longe de ser revertidos na região metropolitana de Porto Alegre. O mais recente boletim Desigualdade nas Metrópoles mostra que a desigualdade segue estagnada em um patamar elevado, com a renda das classes mais pobres reduzida em 20% em relação ao período anterior à pandemia. Entre os mais ricos, a perda está em 4,6%. 

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Desenvolvido pela PUCRS em parceria com o Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), o estudo revela que o coeficiente de Gini chegou a 0,618 no segundo trimestre de 2021 — quanto maior o índice, maior a desigualdade. Para os pesquisadores, após o pico alcançado no terceiro trimestre de 2020, quando o Gini chegou a 0,646, a desigualdade está estacionada por nove meses consecutivos.  

Há otimismo no horizonte. Em relação ao trimestre imediatamente anterior (0,623 no início de 2021), houve pequena redução de 0,05. Ou seja, há uma tendência de melhora. Conforme o professor André Salata, um dos coordenadores do estudo, o recuo do Gini é resultado da retomada da economia verificada desde o início do ano.  

Os ganhos recentes, porém, ainda são insuficientes para uma volta aos patamares pré-pandêmicos, quando a Região Metropolitana registrava um coeficiente de 0,600. 

— A média de rendimentos vem se recuperando, apesar de ainda hoje ser quase 5% menor do que era no início de 202o. Mas essa diferença já chegou a ser de 12%. Em geral, a Grande Porto Alegre apresentou melhora, mas ainda estamos distantes do patamar anterior à pandemia, em especial no que se refere às desigualdades — afirma Salata.      

O desequilíbrio na renda entre as diferentes classes sociais também explica como essa recuperação se dá de forma desigual. No início da crise, a renda dos 40% mais pobres caiu mais de 40%. Aos poucos, eles foram recompondo a renda, mas ainda há uma diferença de 19,9% em relação ao começo de 2020.  

Não se verifica a mesma dificuldade entre as camadas de maior renda. Conforme o boletim, os 10% mais ricos perderam 10,5% dos vencimentos no surgimento da pandemia, mas agora essa queda é de 4,6%.  

— A recuperação do rendimento do trabalho entre os mais pobres, ainda que venha progredindo, está longe de ser suficiente. E o mais grave: milhares de famílias vêm sobrevivendo com níveis de renda muito menores do que antes da pandemia. É diferente de uma queda temporária, pois as poucas reservas de recursos vão se esgotando, e as soluções também — comenta Salata.  

Para o pesquisador, as dificuldades financeiras se traduzem no crescimento do número de pedintes e moradores de rua nos últimos meses. Segundo o estudo, 25% dos habitantes da Região Metropolitana vivem em domicílios cuja renda per capita é menor ou igual a R$ 300, uma média de R$ 10 ao dia. Antes da pandemia, esse índice era de 21%.  

— Não há motivos para comemoração. As melhoras recentes ainda são tímidas, e o caminho é longo até nos recuperarmos do tombo sofrido em meio à pandemia. A cada trimestre que passa sem que nos aproximemos daquele patamar, que já era muito elevado, são mais famílias que há meses enfrentam uma situação dramática — resume Salata. 

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