PAPO RETO
Manoel Soares: "A semana em que fiquei calado"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados
Nesta semana, apareceu uma infecção na minha garganta e tive que ficar dois dias sem falar. Para mim, que tenho a fala como ganha-pão, foi assustador não poder falar. Mas, aos poucos, fui entendo que não falar era uma oportunidade para ouvir mais, refletir mais e qualificar minhas opiniões e ideias.
Consegui terminar alguns livros que estavam com a página marcada e que eu tinha abandonado. Por não poder falar, pude me dedicar a ajustar as caixas do meu toca-discos e ouvir músicas que foram escritas antes mesmo do meu nascimento. Ver como Martinho da Vila, Jayme Caetano Braun e Nat King Cole falavam sobre a mesma coisa em ritmos diferentes me fez ver que a verdade pode ser uma só, mas veste roupas de muitas cores e tamanhos.
Por não poder falar, consegui ouvir mais meus pequenos, que também ainda estão aprendendo a falar e por isso tentam se fazer entender sem palavras. Esse momento que vivi nos colocou no mesmo estágio de comunicação. Tive que entendê-los e me fazer entender ouvindo as vozes do coração _ que, por sinal, por mais duro que o cabra ache que é, essa voz grita alto.
Semana que vem já poderei voltar a me comunicar normalmente, mas confesso que gostei do exercício proposto pelo destino que me fez calar a boca, vou fazer mais vezes. Quando falamos, não ouvimos e não aprendemos: a moral é falar pouco e ouvir mais. Obrigado, vida, por essa dor de garganta.