Papo Reto
Manoel Soares e os amigos gays
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
Se eu ganhasse R$ 1 a cada vez que por ter um amigo gay fui zoado, compraria uma casa à vista agora. Eu sempre fui amigos dos colegas que tinham a orientação afetiva homo, ou como falamos popularmente, os gays da escola. Os melhores papos, os melhores conselhos, as melhores colas, os trabalhos mais bem feitos em grupo.
Os machões da escola diziam que eu, além de preto, era bichinha, só porque me viam sentado com aqueles meninos no recreio. Desde escrever palavrões, desenhos de sacanagem no caderno até me baterem na saída da escola. Nem sempre eu fui parceiro, algumas vezes, para escapar das perseguições, eu humilhava aqueles amigos na frente da galera para mostrar que eu não era gay.
Via a decepção no olhar deles, era como se para fugir do preconceito de ser amigo de gay eu matasse neles o último fio de crença na possibilidade de conhecer pessoas legais. Hoje, os meninos homoafetivos estão começando a soltar sua voz, mas ainda com muito preconceito.
Um pai, ao ver que seu filho de 12 anos tem jeitos que parecem femininos, cria um dilema gigantesco. Por um lado é a homofobia estrutural, que não admite que um menino namore com outro – aliás, só de ler essas palavras quem gente que respirou fundo. Outro ponto é o medo de tudo que o menino vai sofrer. Mas no fim, seja por uma razão ou pela outra, se nós não apoiamos nossos filhos, sobrinhos ou jovens próximos, empurraremos eles para uma clandestinidade afetiva que geralmente traz dor e tristeza. Agradeço aos meus amigos gays do passado e do presente, que me ensinaram e ensinam que a vida é linda como um arco-íris.