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Um ano após o início da pandemia, 10% dos estudantes do Ensino Fundamental haviam abandonado a escola

Antes da crise sanitária, etapa, que compreende alunos dos seis aos 14 anos, estava com quase 100% dos jovens matriculados

25/11/2021 - 09h55min

Atualizada em: 25/11/2021 - 09h56min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Levantamento incluiu 1.180 cidades no Brasil

Um estudo realizado por Tribunais de Contas dos Estados, divulgado nesta quinta-feira (25), mostra que, em abril, um ano após o início da pandemia de coronavírus, 7,5% dos estudantes brasileiros do 5º ano do Ensino Fundamental e 9,9% dos alunos do 9º ano não interagiam com as escolas — portanto, potencialmente abandonaram as aulas.

Antes da pandemia, o acesso da etapa era universalizado: 99,7% das crianças dos seis aos 14 anos, faixa etária que frequenta o Fundamental, estavam matriculadas, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) compilados pelo Movimento Todos pela Educação.

O levantamento sobre adesão ao ensino remoto, conduzido em 1.180 cidades pelo Instituto Rui Barbosa, que reúne os Tribunais de Contas, e pelo Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), mostra que a permanência nos estudos de alunos brasileiros do 5º ano do Fundamental é maior do que de alunos do 9º ano, que, por sua vez, foi melhor do que no 3º ano do Ensino Médio.

Especialistas já vinham chamando a atenção para os riscos de que o ensino remoto aumentasse o abandono dos estudos — sobretudo para os alunos mais velhos, em meio ao empobrecimento da população e a necessidade de contribuir com os pais para o sustento da casa. Mas o grande índice de alunos fora da escola no Ensino Fundamental, com alunos mais jovens, na faixa etária dos seis aos 14 anos, saltou aos olhos dos responsáveis pela pesquisa.

— Duas coisas chamam a atenção: um ano depois da pandemia, já que a data de mapeamento é abril, muitos alunos ainda não participavam no sistema educacional. E chama a atenção como isso é forte já na primeira etapa do Ensino Fundamental (seis aos nove anos de idade). Mesmo tendo tempo para as redes se adaptarem, houve grande desafio para a participação no ensino remoto — destaca Ernesto Faria, diretor-executivo do Iede.

O estudo enviou questionários às prefeituras indagando o número de estudantes na ativa em abril deste ano e exigiu provas, com documentos, de que os jovens estavam estudando. Quando o aluno não respondia há duas semanas, técnicos consideraram que ele potencialmente havia abandonado as aulas. A auditoria foi feita por servidores dos Tribunais de Contas. A análise não revela o desempenho por Estado, apenas por região.

Os resultados conversam com pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que mostrou que 5,5 milhões de brasileiros abandonaram os estudos na pandemia. 

A adesão ao ensino remoto foi maior nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e menor no Norte e Nordeste. Isso ocorre porque a educação está diretamente relacionada à riqueza da família, dizem especialistas: quanto melhor a estrutura em casa, melhores as chances de os estudantes permanecerem estudando e terem bom desempenho na escola. Além disso, regiões mais ricas tendem a ter melhor acesso à internet.

— É grande a possibilidade de afastamento desses estudantes, seja porque não se investiu para aproximá-los do ensino, seja pela dificuldade de acesso à internet — diz Cezar Miola, presidente do Comitê de Educação do Instituto Rui Barbosa e conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul (TCE-RS).

No Ensino Médio, que é de responsabilidade dos Estados, não dos municípios, a pesquisa analisou apenas 10 unidades da Federação — portanto, não houve cálculo de quantidade de abandono de estudos a nível nacional. Para os estudantes do 3º ano do Ensino Médio, o abandono é altíssimo: se a adesão na etapa foi de 90,2% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, caiu para 75,6% no Norte e Nordeste. 

— Era esperado que os dados do Ensino Médio seriam mais negativos, até pela faixa etária dos estudantes. Se torna um desafio maior garantir que o aluno não evada, de fazer ele ter sentido e até casar com o mercado de trabalho — diz Ernesto Faria, do Iede. 

— O ensino remoto foi muito menos efetivo do que o presencial. Mas podemos tirar boas lições para o futuro, como a aproximação entre escolas e pais e a criação de uma cultura de atividades fora da escola — acrescenta.

O estudo também identificou que as prefeituras têm grande dificuldade em reunir dados de frequência e participação dos estudantes nas aulas remotas. Conforme os pesquisadores, um grande número de secretarias municipais de Educação sequer soube informar quantos e quais eram os estudantes com risco de abandonar os estudos, apesar de dizerem que monitoravam. 

Os principais desafios, alertam os especialistas, é buscar os alunos que largaram a escola e convencê-los a voltar aos estudos. Para isso, governos precisam investir em tornar a escola mais atrativa, o que depende de melhoras na infraestrutura e no currículo. 

— Precisamos sensibilizar gestores a criar mecanismos de monitoramento de dados nas secretarias e nas escolas. Além de ir ao encontro desses estudantes que abandonaram a escola, também é preciso dar o passo seguinte para mantê-los — acrescenta Faria, do Iede. 


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