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Vacinação, casos e mortes: confira qual era a situação da pandemia nos países que suspenderam o uso de máscaras

Discussão sobre retirada da obrigatoriedade do equipamento ao ar livre cresce no Brasil, mas assunto não é consenso entre especialistas

03/11/2021 - 10h24min

Atualizada em: 03/11/2021 - 10h26min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Ricardo Wolffenbuttel / Governo de SC

 Com o crescimento da cobertura vacinal e redução de hospitalizações e mortes por covid-19, cresce no Brasil a discussão para desobrigar o uso de máscaras ao ar livre. A ciência já sabe que contaminações nesse tipo de ambiente têm menos chance de ocorrer, mas o assunto não é consenso entre especialistas em saúde – e cada país tomou a decisão de forma diferente.

De um lado, argumenta-se que a transmissão ao ar livre é muito baixa e que, portanto, suspender o uso de máscaras nesse tipo de ambiente não traria grandes prejuízos. De outro, afirma-se que aglomerações ao ar livre trazem grande risco de contaminação e que flexibilizar o acessório passará a equivocada mensagem de que a pandemia acabou.

No início de outubro, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) emitiu nota na qual afirma que se sente “no dever de apelar a todos os gestores do Sistema Único de Saúde para que mantenham o uso de máscara em caráter obrigatório, nos moldes atuais, como estratégia indispensável ao sucesso de nossos esforços contra a pandemia”.

O Conass afirma, ainda, que “é preciso que estejamos atentos às experiências frustrantes de alguns países que, acreditando ter superado os riscos, suspenderam a obrigatoriedade do uso de máscaras, afrouxaram as medidas de prevenção e, por isso mesmo, tiveram recrudescimento importante do número de casos e de óbitos, obrigando-os a retroceder”.

O maior receio é de que o Brasil repita a situação de Estados Unidos, Israel e Reino Unido, que deixaram de obrigar o uso de máscaras e viram nova onda de casos, hospitalizações e mortes, puxada pela variante Delta.

Um olhar para outras nações mostra que, em países onde a flexibilização do uso de máscaras ao ar livre não ocasionou piora da epidemia, a cobertura vacinal era mais baixa do que no Brasil, mas o número de novas infecções era melhor controlado.

Além disso, no geral, as nações flexibilizaram o uso do acessório quando havia maiores restrições às atividades – enquanto que, por aqui, atividades consideradas de alto risco, como casas noturnas e jogos de futebol, já são permitidas.

Na Alemanha, a decisão cabe aos Estados e, portanto, as liberações ocorreram em épocas diferentes – de forma geral, o uso de máscaras deixou de ser obrigatório ao ar livre em junho, quando o país tinha quase metade da população com duas doses. Só depois é que foram liberadas as boates, por exemplo.

— Países que foram liberando mais cedo, como Israel, Estados Unidos e outros países da Europa, tiveram surgimento da Delta e impacto muito grande em aumento da mortalidade. Isso foi um alerta de que precisamos ter cuidado ao tomar essas decisões. Mas acho que, no Rio Grande do Sul, a gente tem percentuais de vacinação que nos permitem flexibilizar. Só nos preocupa a sensação de "liberou geral" — afirma o médico Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

No Brasil, 72,6% da população recebeu a primeira dose 54,5% completou o esquema vacinal, segundo dados do portal coronavirusbra1.github.io. No Rio Grande do Sul, que apresenta a terceira melhor vacinação do país, 78% da população recebeu a primeira dose e 61,5%, duas doses.

Para a bióloga Mel Markoski, professora de Biossegurança na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e integrante da Rede Análise Covid-19, o uso de máscaras deveria ser mantido até depois das festas de fim de ano e do Carnaval.

— Ao ar livre, é fato que tem corrente de ar e ação do sol, que neutraliza as partículas virais. Mas em uma aglomeração ao ar livre com pessoas sem máscara, não há tempo o suficiente para a dissipação dos aerossóis. Uma coisa é abolir o uso em uma cidade pouco populosa, outra é abolir em capitais e em praias. Se chegar daqui a um ou dois meses, houver crescimento de casos e precisar retornar o uso da máscara, vai ser muito mais difícil retomar. Basta pensar no fecha e abre do comércio no Rio Grande do Sul: as pessoas ficaram confusas e depois já não queriam segurar mais nada — afirma.

Compare a realidade entre os países

Brasil

  • Cobertura vacinal de duas doses na população hoje: 54,5%
  • Taxa de novos mortos por semana: 11,16/1 milhão de habitantes
  • Taxa de novos casos por semana: 392,98/1 milhão de habitantes

 Fonte: Our World in Data

 Israel

  • Cobertura vacinal de duas doses na população quando máscaras foram desobrigadas: 61%
  • Taxa de novos mortos por semana na época: 1,14/1 milhão de habitantes
  • Taxa de novos casos por semana na época: 13,2/1 milhão de habitantes

Quando Israel flexibilizou o uso de máscaras ao ar livre e em ambiente fechado, na metade de junho, mais da metade da população ganhara a segunda dose da Pfizer. Todavia, houve grande crescimento no número de casos e, apenas 10 dias depois, o governo passou a obrigar, em caráter urgente, novamente o uso do acessório em ambientes fechados frequentados pelo público. Hoje, não é preciso portar máscara ao ar livre.  

Reino Unido

  • Cobertura vacinal de duas doses na população quando máscaras foram desobrigadas: 53%
  • Taxa de novos mortos por semana na época: 4,35/1 milhão de habitantes
  • Taxa de novos casos por semana na época: 4.634/1 milhão de habitantes

 O Reino Unido liberou o uso de máscaras ao ar livre e em ambiente fechado em 18 de julho. A partir daí, o governo entendeu que cada cidadão poderia tomar as próprias decisões para se proteger contra a covid-19. Mas, com a entrada da Delta, o país viveu semanas depois uma explosão de novos casos, hospitalizações e mortes – os casos mais graves estavam focados em não vacinados. Hoje, o Reino Unido tem um dos maiores índices de novos casos da Europa. Agora, funcionários do sistema público de saúde pressionam para que o governo volte a obrigar o uso do acessório em ambientes fechados.

 Estados Unidos

  • Cobertura vacinal de duas doses na população quando máscaras foram desobrigadas: 38,4%
  • Taxa de novos mortos por semana na época: 13,17/1 milhão de habitantes
  • Taxa de novos casos por semana na época: 727,6/1 milhão de habitantes

 Nos Estados Unidos, o uso de máscaras em ambientes abertos e fechados foi liberado em 13 de maio para os vacinados que completaram duas semanas com a segunda dose. No dia, a média móvel era de 628 mortes diárias. Semanas depois, os Estados Unidos viram uma nova onda de casos, hospitalizações e mortes surgir. Em julho, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) passou a recomendar o uso de máscaras ao ar livre em determinados Estados onde a incidência da covid-19 era alta.  

Itália

  • Cobertura vacinal de duas doses na população quando máscaras foram desobrigadas: 25,9%
  • Taxa de novos mortos por semana na época: 1,81/1 milhão de habitantes
  • Taxa de novos casos por semana na época: 571,72/1 milhão de habitantes

 O governo da Itália suspendeu o uso de máscaras ao ar livre em 28 de junho, quando cerca de 26% da população estava com duas doses. Mas a população foi orientada a sempre levar máscara ao sair de casa e usá-la se passar ou estiver em uma aglomeração de pessoas.

 França

  • Cobertura vacinal de duas doses na população quando máscaras foram desobrigadas: 23,6%
  • Taxa de novos mortos por semana na época: 2,18/1 milhão de habitantes
  • Taxa de novos casos por semana na época: 817/1 milhão de habitantes

 Na França, o uso de máscaras ao ar livre deixou de ser obrigatório em 17 de junho. O acessório, no entanto, ainda ficou exigido em parques de futebol e de diversão. Quando a decisão foi tomada, o registro de novos casos era 97% menor em comparação a abril, quando houve pico de contaminações. A cobertura vacinal era menor do que no Brasil, mas as taxas de novos casos e mortes eram menores.

 Austrália

  • Cobertura vacinal de duas doses na população quando máscaras foram desobrigadas: 11%
  • Taxa de novos mortos por semana na época: 0/1 milhão de habitantes
  • Taxa de novos casos por semana na época: 1,75/1 milhão de habitantes

 A Austrália, que à época optava por praticamente eliminar a covid-19 em vez de conviver com o vírus, começou a relaxar o uso de máscaras em 17 de maio, quando a vacinação atingia apenas 3% da população, mas não havia uma única morte pela doença no país há mais de um mês. Com a entrada da variante Delta, o país abandonou a estratégia “covid zero”. O uso de máscara não é exigido na maioria dos ambientes abertos e fechados, mas o país tem uma política de rastreamento elogiada mundo afora, o que permite ir atrás de quem teve contato com uma pessoa infectada e isolar todos.

 Nova Zelândia

  • Cobertura vacinal de duas doses na população quando máscaras foram desobrigadas: 3,4%
  • Taxa de novos mortos por semana na época: 0/1 milhão de habitantes
  • Taxa de novos casos por semana na época: 26,75/1 milhão de habitantes

 Na Nova Zelândia, o uso de máscaras no transporte público foi desobrigado em 23 de setembro. Nos mesmos moldes da Austrália, o país tinha uma cobertura vacinal baixíssima, de apenas 5,6%, mas a média móvel de novas mortes diárias era de zero e o país havia acumulado apenas 25 vítimas em toda a pandemia.

 Portugal

  • Cobertura vacinal de duas doses na população quando máscaras foram desobrigadas: 81,6%
  • Taxa de novos mortos por semana na época: 5,51/1 milhão de habitantes
  • Taxa de novos casos por semana na época: 819,4/1 milhão de habitantes

 Em Portugal, que tem uma das maiores coberturas vacinais da Europa, o governo tornou opcional o uso de máscaras ao ar livre em 13 de setembro. O acessório passou a ser recomendado em aglomerações ou quando não for possível manter distanciamento e continuou obrigatório em instituições de ensino, lojas e shoppings, edifícios de uso público, cinemas, teatros, ônibus e locais de trabalho.


 


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