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Reflexão e conscientização

Dia Internacional da Pessoa com Deficiência: os desafios e avanços da inclusão no mercado de trabalho

 Em 2021, a data ganha um adicional: há 30 anos, a inclusão no mercado de trabalho é lei

03/12/2021 - 08h46min

Atualizada em: 03/12/2021 - 08h46min


GZH
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Divulgação / Bebidas Fruki / Divulgação
Guilherme Schneider trabalha há anos na empresa Bebidas Fruki

Pensar em como incluir todos as pessoas de maneira ativa na sociedade. Esse é um dos propósitos do Dia da Pessoa com Deficiência, que marca esta sexta-feira (3). Em 2021, a data ganha um adicional: há 30 anos, a inclusão no mercado de trabalho é lei.

Em julho de 1991, a Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (PcD) foi  promulgada. Previsto no artigo 93 da Lei 8.213/91, o direito determinou que organizações com mais de 100 empregados deveriam destinar vagas para PCDs. De lá para cá, a inclusão ganhou espaço nas empresas e transformou realidades, como a de Guilherme Schneider, 35 anos, que há 10 trabalha na empresa Bebidas Fruki. 

— Gosto de fazer amigos e conversar com os operadores — conta Guilherme, que tem deficiência mental moderada e transtornos globais do desenvolvimento. 

Gui, como é chamado pelos colegas, é auxiliar de produção e tem várias atividades, entre as quais colocar as alças nas PET de água de cinco litros, abastecer a esteira e tirar os rótulos das PET 20L. 

Guilherme fez parte da primeira turma da iniciativa de inclusão da empresa, o Programa Integrar, que teve início em 2011. Junto dele, no mesmo ano, Márcio Leonel da Costa, 43 anos, ingressou na Fruki pela mesma inciativa. Márcio, que tem Síndrome de Down, também ressalta a importância dos colegas. 

Ele trabalha na área de reciclagem de resíduos sólidos, na qual auxilia no reaproveitamento das embalagens que retornam e maneja o carrinho que leva as garrafas descartadas para a reciclagem. 

— Tenho muitos amigos aqui — diz. 

Para Magda Veríssimo, psicóloga e sócio-fundadora da consultoria Arquitetando Inclusão, a participação de PcDs nas empresas beneficia tanto o trabalhador quanto quem está contratando. 

 — Trabalho é proposito de vida. As pessoas não querem estar em um trabalho em que não são felizes, em que não são respeitadas e reconhecidas. Você quer estar em um lugar que você cumpre um papel que vá ao encontro dos seus propósitos de vida (...) Uma parte da vida é se divertir, ter amigos, ter lazer. Mas tu só consegue usufruir desse espaço da tua vida se tu tem o outro, que é do trabalho. Todo mundo quer ter esse papel e essa importância. 

Para as empresas, de acordo com Magda, a inclusão proporciona a vivência com as diferenças. Segundo ela, "a empresa ganha porque ganha humanidade, reflexão, compreensão". É o que a Bebidas Fruki relata com o programa de inclusão, de acordo com a gerente de desenvolvimento humano e organizacional, Ana Luísa Herrmann.

— O Programa Integrar vem proporcionando inúmeros ganhos, tanto no clima organizacional quanto no relacionamento entre pessoas, uma vez que diversidade faz parte do ambiente de trabalho que valorizamos na Fruki.

Desafios

Hoje, no Brasil, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, divulgados em 2021, existem mais de 17 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, e 8,4 milhões com deficiência severa.  Entretanto, uma pesquisa do IBGE em parceria com o Ministério da Saúde de 2013, indicou que menos de 1% do total de empregos formais do Brasil são ocupados por PCDs.  De acordo com Magda, os desafios para inclusão desse grupo social no mercado de trabalho se originam em duas vias: 

— A gente parte de um princípio de que as pessoas têm que entrar com diversas habilidades e que essa pessoa possa ser muito útil. E quando a gente trabalha com inclusão de PCD, que têm limitações e necessidade de adaptar, as empresas não tem flexibilidade. Porque as pessoas querem que o funcionário venha com todas as habilidades para o mercado de trabalho, sem investir, por exemplo, em acessibilidade ou desenvolvimento. Por outro lado, como a inclusão de PCD foi construída dentro de um entendimento assistencialista, a pessoa com deficiência acaba muitas vezes se envolvendo nessa esfera, afirmando, por exemplo "vão me receber porque eu sou uma cota", "eu não estudei porque a empresa precisa me contratar". 

Para lançar o Programa Integrar, a Bebidas Fruki  realizou reuniões com entidades de Lajeado e municípios vizinhos para selecionar candidatos ao Programa de Aprendizagem, administrado pelo Senai de Lajeado. No ano seguinte, iniciou a primeira turma de aprendizagem para Pessoas com Deficiência Mental do Vale do Taquari. Em seguida, os alunos foram para a parte prática, junto à empresa. Um ano depois, estavam aptos a trabalhar.

Guilherme e Márcio integram um time de 33 pessoas com deficiência que hoje trabalham na Bebidas Fruki. O programa abrange toda a empresa, mas tem um braço especial em Lajeado. De acordo com a Bebidas Fruki, quando os profissionais se desenvolvem, com o tempo, são convidados a ajudar em outro setor da produção e, assim, a empresa avalia os potenciais e começa um processo para recebê-los. A maioria deles trabalha 20 horas semanais, por terem outras atividades no contraturno, como Apae.

Apesar dos avanços na luta pela inclusão de pessoas com deficiência, a psicóloga ressalta: ainda não é tempo de comemorar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, e sim refletir. 

— É um dia de reflexão e conscientização. A data é uma forma de pessoas do mundo inteiro pararem e discutirem assuntos relacionados a isso, mas não para comemorar . A ideia é refletir onde estamos e o que podemos fazer para irmos mais adiante. Porque ainda existe muito a ser feito. 


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