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Coronavírus

O que cientistas já sabem dizer sobre a variante Ômicron

Estudiosos insistem que é preciso aguardar o avanço de estudos para que se possam fazer afirmações mais precisas

07/12/2021 - 07h43min


Larissa Roso
Larissa Roso
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Jonatan Sarmento / Arte GZH

Ainda é cedo para certezas em relação ao futuro da pandemia frente à disseminação da variante Ômicron (B.1.1.529), identificada pela primeira vez em países do sul do continente africano. Apesar da necessidade urgente de mais informações, fundamentais para eventuais mudanças de prevenção e estratégia, não há como acelerar o tempo. 

Virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio da Fonseca, também presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), reforça que é preciso aguardar: 

— O que vai nos dizer, com certeza, se é mais transmissível, se tem efeito na eficácia das vacinas ou se tem gravidade aumentada é o acúmulo de dados. 

A Ômicron chama a atenção pelo total de alterações (mutações) em sua constituição. Apenas na proteína Spike, relacionada à capacidade de entrada do coronavírus nas células do corpo, são 32.  

Fonseca explica que a evolução de um vírus depende de mutações, que são absolutamente aleatórias. 

— O que vai determinar o sucesso ou a extinção de um mutante é a sua adaptação. Estamos infectados o tempo todo, e 99% dos vírus não causam doença. O sars-cov-2 ainda não teve tempo de se adaptar, então causa estrago. Os vírus que hoje provocam resfriados já tiveram um tempo maior de se adaptar à gente — compara o biólogo da UFMG, explicando que, quanto maior a convivência entre humanos e esses micro-organismos, menos danos devem ocorrer. 

— O coronavírus não vai sumir, mas vai conviver com a gente de maneira mais civilizada — prevê.  

Confira, a seguir, o que pesquisadores de todo o mundo vêm levantando a respeito da mais nova variante de preocupação, conforme classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS).  

Transmissibilidade 

Um dos principais pontos é saber qual será o comportamento da Ômicron (B.1.1.529) diante da Delta, predominante no mundo. Para melhor entendimento, vale imaginar uma “briga” por conquista de território entre ambas: quem se sairá melhor nesse enfrentamento, disseminando-se e infectando mais? 

Os dados disponíveis até agora são muito preliminares, referentes à África do Sul. De Botsuana, país vizinho, onde a Ômicron foi detectada pela primeira vez, não há praticamente informação alguma, destaca o biólogo e virologista Flávio da Fonseca, da SBV. Até aqui, pelo que se sabe, não houve registro de óbitos entre os contaminados pela B.1.1.529.  

Apesar do precário embasamento, constata-se uma rápida dominação da Ômicron na África do Sul, superando sua mais forte concorrente.  

— A Ômicron atropelou a Delta. E olha que a Delta não é uma variantezinha, é uma variante forte — ressalta Fonseca.   

Como o espalhamento para além da África já atingiu dezenas de países, é preciso analisar os dados que serão coletados e comunicados por essas diferentes localidades. Além da veloz propagação na África do Sul, há outro indicativo de que o potencial transmissor seja realmente maior.  

— Um estudo do genoma mostra uma quantidade de mutações que, em outras variantes, já foi comprovadamente ligada ao aumento de transmissibilidade. Consequentemente, por comparação, a gente assume que a Ômicron tem o mesmo potencial para ter aumento de transmissibilidade — diz o virologista da UFMG. 

Gravidade da doença 

Principal assessor médico do governo norte-americano durante a pandemia e especialista respeitado, há décadas, na área de infectologia e imunologia, Anthony Fauci declarou, no domingo (5), que os primeiros sinais quanto à trajetória da Ômicron são um tanto “encorajadores” no que se refere à gravidade dos quadros de covid-19 que a cepa provoca. Por enquanto, os casos reportados são considerados leves.  

Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos desde 1984, destacou, entretanto, em entrevista à rede de televisão CNN, o que vem sendo repetido por cientistas: ainda é muito cedo para quaisquer afirmações mais seguras.  

Na mesma linha de cautela para evitar conclusões precipitadas, Fonseca corrobora esse discurso: 

— Tem cientistas e médicos que vêm informando que os casos são leves e não apresentam aumento de gravidade, o que é alentador e nos alivia. Os casos brasileiros também são leves.  

A agilidade e a transparência que pautam a conduta dos pesquisadores sul-africanos são exaltadas por seus pares de outras nacionalidades, mas não se pode esquecer de inúmeras deficiências que podem se interpor no caminho. 

— Quando surge uma nova variante e ninguém está atento, os dados, muitas vezes, passam batidos. A África tem baixa cobertura vacinal e baixa notificação de casos. Então a gente se pergunta: será que realmente não há óbitos provocados pela Ômicron? — reflete o presidente da SBV.  

Eficácia das vacinas 

Enquanto os grandes laboratórios estudam a viabilidade de novas versões para os imunizantes em uso, médicos e autoridades sanitárias recomendam, fortemente, que todos mantenham em dia o esquema vacinal. As doses de reforço, segundo o americano Fauci, serão determinantes contra a Ômicron.  

Fonseca volta ao “retrato” da nova variante reportada à OMS em 24 de novembro, com grande número de alterações na proteína Spike, contra a qual nosso sistema de defesa e a maior parte das vacinas atuam: 

— Tem mutações entre essas 32 que diminuem a eficácia das vacinas, mas a Delta também tem mutações que causam um decréscimo. Elas afetaram totalmente as vacinas? Não. E a Ômicron também tem essas mutações.  

Sobre o grupo das mutações não conhecidas, exclusivas da Ômicron, prossegue Fonseca, há pesquisas que, por ora, só têm indicativos de dados. 

— Os pesquisadores estudam a Spike no computador e sugerem que mais algumas dessas mutações inéditas, cujo efeito prático ainda não conhecemos, também podem afetar a eficácia das vacinas, mas ainda são estudos teóricos.  

Análise conduzida por Orlando Ferreira, do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), demonstrou que a terceira dose de vacina contra a covid-19 tem uma resposta ainda mais rápida do que as anteriores, capacitando o sistema imunológico para combater o coronavírus em sete dias, contra os 15 dias referentes às aplicações iniciais. A descoberta ganha importância neste momento de incertezas quanto ao potencial danoso da Ômicron.  

Em entrevista ao jornal O Globo, Ferreira disse que, para os imunizantes se tornarem ineficazes, o sars-cov-2 teria de mudar completamente, “o que não é o caso agora”.  

— Temos que lembrar que o objetivo principal da vacinação contra o sars-cov-2 é evitar os casos graves e mortes, e isso os números diários da pandemia nos mostram que está sendo alcançado — afirmou o pesquisador.


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