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Em um mês, média de crianças internadas por covid-19 em leitos clínicos cresce sete vezes no RS

Número de hospitalizações aumenta rapidamente e se aproxima do recorde da pandemia no Estado

20/01/2022 - 12h04min

Atualizada em: 20/01/2022 - 12h09min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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Antonio Valiente / Agencia RBS

A média de crianças com coronavírus internadas em leitos clínicos de hospitais do Rio Grande do Sul aproxima-se, agora, do maior nível de toda a epidemia, mostram estatísticas desta quarta-feira (19) da Secretaria Estadual da Saúde (SES-RS). O cenário reforça a importância da vacinação infantil.

Em linguagem hospitalar, leitos clínicos tratam pacientes em estado de saúde grave, enquanto vagas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) são para casos gravíssimos, que exigem ventilação mecânica e intubação. 

Em março do ano passado, o pior momento da pandemia, havia em média quase 35 crianças com coronavírus em leitos clínicos do Rio Grande do Sul. Um mês atrás, eram cerca de quatro e, nesta quarta-feira, já eram aproximadamente 28. Há 1.783 vagas no Estado, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

As UTIs também estão sob maior demanda. Em março do ano passado, o Estado chegou a atender a uma média de mais de 18 crianças por dia com covid-19. Um mês atrás, em todo o Rio Grande do Sul, a média era de apenas uma criança em atendimento diário - já nesta quarta, são quase 10. Há 194 vagas de UTI pediátricas em solo gaúcho.

O número de hospitalizações infantis é baixo quando comparado ao dos mais velhos (há 425 adultos em UTIs por coronavírus e 1.064 em leitos clínicos) , mas pediatras destacam que, na maioria das enfermidades, crianças naturalmente adoecem menos — portanto, estatísticas devem ser comparadas entre a própria faixa etária ao longo do tempo. 

A Sociedade Brasileira de Pediatria destaca que a covid-19 é a doença prevenível (para a qual há vacinas) que mais mata os pequenos. Crianças brasileiras morrem, proporcionalmente, mais de coronavírus do que em outros países.

— Se alguém tinha alguma dúvida se deveria vacinar ou não crianças, os números de hospitalizações são importantes. Já estamos quase no mesmo pico de internações de crianças registrado em outras ondas, mas as hospitalizações de adultos estão muito longe do pico. Isso mostra o quanto as vacinas protegem os adultos e o quanto as crianças ainda não estão protegidas por estarem sem vacina — pontua a epidemiologista Suzi Camey, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Comitê Científico que assessora o governo do Estado de forma independente.

Médicos destacam que, por causa da Ômicron e das aglomerações de fim de ano, os casos de coronavírus crescem em todas as faixas etárias, mas tendem a avançar mais entre não vacinados — o que inclui crianças com menos de 12 anos.

O receio é de que o Brasil enfrente a situação do Reino Unido ou dos Estados Unidos, que bateu, nesta nova onda, o recorde de crianças internadas por covid-19. Na semana passada, 500 mil crianças norte-americanas foram infectadas. Distrito Federal e São Paulo são unidades federativas que já registram aumento de casos graves infantis.

— Quando se avança na vacinação, o risco de adoecer é deslocado para a população não vacinada. Já vimos isso com outras doenças, como coqueluche, quando vacinamos crianças e depois vimos casos de coqueluche em adolescentes, o que exigiu a dose de reforço para eles. Além disso, com o aumento da vacinação de adultos, as pessoas se sentem mais livres para circular, o que pode gerar transmissão aos filhos — diz o médico Fabrizio Motta, supervisor do controle de infecção e infectologia pediátrica da Santa Casa de Porto Alegre.

Chama a atenção que as internações de crianças por coronavírus se aproximam do recorde registrado no Rio Grande do Sul, enquanto que as hospitalizações de adultos estão muito distantes do ápice. Hoje, 88% dos adultos gaúchos receberam duas doses, enquanto que crianças entre cinco e 11 anos começaram apenas nesta quarta-feira (19) a serem vacinadas. 

— As internações de crianças em leitos clínicos estão bem próximas de outros picos, como entre março e abril. A diferença é que, em março, havia cerca de 9 mil gaúchos adultos em hospitais e, hoje, temos cerca de 1,5 mil pacientes. Ou seja, temos hoje seis vezes menos adultos internados do que no pico de março, enquanto as internações de crianças estão comparáveis àquela época — diz Bruno Naundorf, diretor do departamento de auditoria do SUS da Secretaria Estadual da Saúde. 

O Palácio Piratini está acompanhando o aumento de hospitalizações infantis em janeiro, mas destaca que não há risco de falta de vagas para crianças. Bruno Naundorf acrescenta que a possibilidade o Rio Grande do Sul bater o recorde de hospitalizações dependerá de como a população seguir as medidas sanitárias para controlar a transmissão.

— Felizmente, completamos um ano de vacinação e  iniciamos a vacinação das crianças. Não temos, neste momento, informação de dificuldade de acesso às alas pediátricas. Mas está crescente a procura. Quanto mais casos, maior a chance de hospitalizações — complementa.

Em Porto Alegre, o problema não são as internações de crianças por caso grave de coronavírus, mas outro: crianças que são admitidas para tratarem outras doenças (cirurgias, quimioterapia, transplante) e que descobrem, no hospital, terem covid-19, o que exige serem alocadas para a área de positivados, diz Jorge Osório, diretor de regulação da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). 

— O que a gente mais deve se preocupar não é com o aumento no número de casos, mas a velocidade com que isso aumenta. Se há velocidade explosiva na necessidade de internação, é isso que impacta no sistema hospitalar. Nossa maior dificuldade agora é a necessidade de ter muitas áreas de isolamento em hospitais, porque muitas pessoas positivam. Isso é como desperdiçar leitos, porque não dá para misturar internados positivos para covid e sem covid. Mas não está faltando leito para criança e estamos acompanhando os números todos os dias — afirma.

A epidemiologista Suzi Camey avalia que o Rio Grande do Sul não deve sofrer aumento tão acentuado de casos graves em crianças como nos Estados Unidos porque o Estado ainda está em período de férias escolares - por consequência, a circulação dos pequenos é menor.

— Se estivéssemos em período letivo, como os Estados Unidos, provavelmente estaríamos enxergando fenômeno parecido de aumento nas hospitalizações. Ainda assim, aqui tem mais vacinados, e isso é bom para a população no geral. Felizmente, os óbitos não devem acompanhar o aumento porque as crianças têm boas taxas de recuperação. Mas as internações devem crescer — conclui Camey.


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